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Decisão de Aparecida e Goiânia, liberando igrejas, é irresponsável

Da Redação

A autorização para que igrejas e templos continuassem funcionando em Aparecida e Goiânia, assinada pelos prefeitos Gustavo Mendanha (MDB) e Rogério Cruz (Republicanos), foi considerada irresponsável pelo Ministério Público Estadual diante do momento de gravidade extrema enfrentado com a intensificação da 2ª onda da Covid-19.

O MP-GO considera que Mendanha e Cruz falharam ao permitir que missas e cultos possam ser realidades livremente, ainda que mediante algumas restrições sanitárias, como a lotação de apenas 30% da capacidade máxima de cada prédio – item de difícil, senão impossível, fiscalização.

Por determinação do procurador-geral Ailton Vechi, o Ministério Público Estadual ingressou na Justiça e teve deferida liminar cassando a decisão dos dois prefeitos e garantindo que as atividades religiosas em Goiânia e Aparecida fiquem canceladas até que haja mais segurança diante da progressão da pandemia.

Em todo o país, a tendência observada foi a de proibição da abertura de igrejas e templos, devido à possibilidade de aglomerações com potencial para aumentar a propagação do vírus. São Paulo, Estado mais importante do país, vetou totalmente o funcionamento de igrejas e templos, até que a situação de colapso sanitário seja superada.

O problema é que autoridades religiosas, através dos seus políticos eleitos para mandatos parlamentares, têm grande poder de pressão sobre prefeitos e governadores. Pior ainda quando, no caso de Aparecida, Gustavo Mendanha tem total proximidade com líderes evangélicos (que estão em peso ocupando cargos na sua gestão), a exemplo de Rogério Cruz, prefeito de Goiânia, que é pastor da Igreja Universal.

A Justiça estadual concedeu o mandado de segurança impetrado pelos promotores estaduais considerando que a prática religiosa não é uma atividade essencial da sociedade. Manter os estabelecimentos sagrados fechados não pode ser visto como “cristofobia”: isso em nada compromete o serviço que as igrejas prestam. É fundamental distinguir entre “fechar” e estar “acessível”. É sobre fazer parte de um esforço coletivo para que o número de mortes diminua, já que os prefeitos municipais —Gustavo Mendanha e Rogério Cruz na cabeça— parecem fazer tão pouco.

Mendanha e Rogério Cruz erram: religião não é atividade essencial

Uma igreja fechada não é uma igreja inacessível, mas é uma igreja que envia uma mensagem coerente e poderosa para os seus membros sociedade. É o que diz o UOL, site de jornalismo de maior credibilidade no Brasil. 

Desafiar as recomendações de distanciamento, no pior momento da pandemia no Brasil não deveria ser uma disputa que interessasse a quem deseja preservar vidas e evitar mais mortes. Optar por manter igrejas e templos fechados seria uma resposta coerente e poderosa porque as religiões estariam afirmando o seu compromisso com a sociedade, e isso é se colocar à disposição da população em tempos de desespero.

Há um ano, o presidente Jair Bolsonaro emitia decreto em que incluiu atividades de fim religioso como na lista de serviços essenciais durante a pandemia. Na ocasião, o Brasil tinha pouco mais de 200 mortos em todo país pelo novo coronavírus. No mesmo instante, diversas lideranças religiosas do país, preocupadas com a seriedade da pandemia, rechaçaram a decisão. Da CNBB à Congregação Israelita Paulista, passando por diversos pastores evangélicos, babalorixás e a Federação Espírita —todos foram unânimes em reconhecer que a medida era desnecessária e sem razoabilidade. 

Um ano depois, o debate retorna com decisão dos prefeitos Gustavo Mendanha, de Aparecida, e Rogério Cruz, de Goiás, na prática incluindo as atividades religiosas como serviços essenciais e com isso deixando que igrejas e templos promovam aglomerações livremente. 

Igrejas fechadas não privam pessoas do socorro espiritual necessário, porque uma igreja fechada continua acessível para isso. Uma igreja fechada, neste momento, é, antes de tudo, um triste e fundamental sinal de que nossas coletividades estão comprometidas e, portanto, esta não é uma crise qualquer. 

Erroneamente, a exigência de se manter uma igreja ou templo fechados é vista como uma afronta à liberdade da igreja e, no limite, à autoridade do pastor. O debate sobre as igrejas serem incluídas na lista dos serviços essenciais se tornou um debate meramente político, religioso, quase teocrático. 

Verdadeiramente, uma igreja ou templo fechados continuam “abertos”. Na verdade, muitas pequenas igrejas situadas em várias periferias do país sequer entraram na disputa sobre fechar ou não. Elas simplesmente fecharam, porque a doença e a morte estão por perto.

Pastores e padres visitaram suas “ovelhas”, levando conforto, oração e ânimo. Pastores e padres deram plantão em suas igrejas, acessíveis para as pessoas que precisavam ser atendidas. Manter as igrejas fechadas, sem dúvida, afetou profundamente o orçamento de muitas igrejas. Não foram poucas as que perderam as condições de pagar seus imóveis alugados. 

Mas o que vivemos é de fato uma crise, e não se negociam vidas e cuidado mediante a crise. Abrir igrejas e realizar cultos com “todos os protocolos de segurança”, como muitos pastores e padres acreditam e Gustavo Mendanha e Rogério Cruz, no final das contas acaba colocando em risco a vida dos fiéis que eles se comprometeram a defender. 

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