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Imposição de José Eliton gera rebelião de prefeitos no PSDB

Helton Lenine

Dez dos 18 prefeitos do PSDB anunciaram que deixarão a legenda, nos próximos dias, caso o advogado e ex-governador José Eliton assuma a presidência do partido, em substituição ao ex-prefeito de Trindade, Jânio Darrot.  Dois prefeitos tucanos, Hermano de Carvalho (Aruanã) e Naçoitan Leite (Iporá) já anunciaram que, de qualquer forma, vão abandonar a legenda.

O tiroteio interno no PSDB começou em 2019, com a troca de bordoadas verbais entre o ex-prefeito de Catalão e ex-presidente da Assembleia Legislativa Jardel Sebba, e o ex-deputado federal Giuseppe Vecci, na época presidente estadual da sigla – um acusando o outro de incompetência política.

Agora, Sebba voltou à mídia para defender a indicação de José Eliton e criticar o ainda presidente do partido, Jânio Darrot, que, além de deixar o PSDB goiano, ainda faz contatos com prefeitos da legenda para levá-los ao Patriotas, partido dirigido em Goiás pelo arqui-inimigo de Marconi, o ex-secretário da Fazenda Jorcelino Braga No governo Alcides Rodrigues, Braga e Marconi bateram de frente.

Desde que perdeu a sua primeira eleição – José Eliton ficou em 3º lugar na última disputa pelo governo de Goiás, atrás de Ronaldo Caiado (DEM) e Daniel Vilela (MDB) – o ex-governador se isolou em sua fazenda, no Nordeste Goiano e raramente aparece em Goiânia, onde tem escritório de advocacia.

Sem voto, sem prestígio e considerado inapto como articulador político, José Eliton dá sinais de que não vai recuar da intenção de ocupar a presidência do PSDB goiano, para a qual foi indicado como nome de confiança de Marconi. Mas tudo indica que a oficialização do seu nome vai espalhar ainda mais os cacos que sobraram depois das derrotas eleitorais de 2018 e 2020. 

“Não queremos derrotados comandando nosso partido”

Jardel Sebba sempre quis ser presidente do PSDB, mas é acusado pelos prefeitos de ter fracassado na política

Por que Jânio Darrot já saiu e a maioria esmagadora dos prefeitos do PSDB está de saída do ninho tucano? A resposta é fácil: eles não suportam mais a ditadura do ex-governador Marconi Perillo, que, sem consultar os prefeitos e líderes do interior, dita os rumos da agremiação e agora impôs o ex-governador José Eliton como presidente estadual. 

“Marconi só fica em São Paulo e não conversa com os prefeitos. Fala só com Zé Eliton e Jardel Sebba, por sinal, dois derrotados. Zé Eliton, com a máquina nas mãos, ficou em 3º lugar na disputa pelo governo em 2018, atrás tanto de Ronaldo Caiado, do Democratas, quanto de Daniel Vilela, do MDB”, disse um prefeito em declarações ao Jornal Opção. 

E ainda acrescentou: “O filho de Jardel Sebba, o deputado estadual Gustavo Sebba, ficou em 3º lugar na disputa para prefeito de Catalão. Já os prefeitos vencedores de 2020, que não contaram com nenhum apoio de Marconi e Zé Eliton, são menosprezados”. Esse prefeito, que prefere, no momento, não se identificar, avisou: “Estou de saída. Quando sair, darei uma entrevista explicando meus motivos.”

Enquanto Marconi Perillo está “nomeando” José Eliton para presidente do PSDB, a maioria dos prefeitos e líderes municipais tucanos resolveu lançar o prefeito de Sanclerlândia, Itamar Leão — um vitorioso de várias eleições, inclusive reeleito em 2020 —, para o comando do partido. 

“Itamar Leão conhece a realidade dos prefeitos e, por isso, será um dirigente mais qualificado do que Zé Eliton, que, desde que deixou o governo, no fim de 2018, não procurou mais nenhum dos prefeitos ou lideranças do PSDB. Assim como Marconi Perillo, está cuidando de seus interesses pessoais. Os prefeitos estão ao deus-dará. Nós precisamos de um líder próximo, que conheça nossos problemas e responsabilidades, e não de líderes que ficam na capital bebendo vinho de 2 mil reais e discutindo 2022. Nós temos de administrar nossas cidades. Portanto, temos de falar de 2021, da pandemia do novo coronavírus e da crise econômica”, afirma um segundo prefeito do PSDB. 

Bases municipais alegam cansaço  com decisões de cima para baixo

“Jânio Darrot saiu do PSDB para não se queimar defendendo quem tem problemas judiciais graves

As bases municipais do PSDB estão rebeladas. “Não queremos nem Zé Eliton nem Jardel Sebba no comando do PSDB”, disse um prefeito tucano. “Jânio Darrot saiu do partido e o motivo é um só: falta de apoio efetivo. Ele, que é um político limpo, não quis se ‘queimar’ defendendo aqueles que têm problemas judiciais graves e nem aparecem mais à luz do dia — só participam de ‘encontros secretos’. O PSDB precisa sair das sombras”, fulmina. 

“O partido precisa fazer encontros abertos, com a presença da imprensa. Nós, prefeitos, não temos nada a esconder”, acrescenta. Ele revelou, sob anonimato, que o pouco que restou do PSDB no interior chegou a pensar em uma campanha pública com o mote: “Zé Eliton? Tô fora!”.

 “Talvez a gente não a faça, mas é o nosso sentimento. Os prefeitos, os que vão ficar no PSDB, e serão poucos, querem Itamar Leão na presidência do PSDB. Nós não queremos Zé Eliton”, afirma.

Apesar das declarações do ex-governador Marconi Perillo de que não está impondo José Eliton como presidente do PSDB, ninguém acredita. Tanto que um dos prefeitos ouvidos pelo Jornal Opção garantiu: “Marconi diz que não está impondo José Eliton, pois eu digo: sim, ele está sendo enfiado goela abaixo de todo um partido que não o quer no comando. Aliás, o próprio Zé Eliton chegou a dizer que estava ‘saindo’ da política e que se manteria afastado. Façamos a vontade dele: que fique cuidando de seu frutífero escritório de advocacia. Política não é para amadores.” 

“Nós não queremos que o PSDB seja usado para fins pessoais, para ficar defendendo políticos cujos processos judiciais são pessoais e não têm a ver com o partido e seus integrantes”, acrescenta.

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