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Mesmo beneficiários de incentivos fiscais bilionários, empresários goianos não ajudam no combate à Covid-19

Da Redação

Os empresários, em especial os que se beneficiam dos incentivos fiscais que, em última análise, são verbas públicas, têm mantido uma postura de omissão quanto a qualquer colaboração para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus em Goiás.

Os exemplos que a classe deu e está dando em termos nacionais repercutiram muito pouco no Estado. Por exemplo: o Banco Itaú doou R$ 1 bilhão para as ações de combate à Covid-19, criando um comitê independente de autoridades médicas para fazer a gestão desses recursos.

Outro precedente importante foi aberto pela dona do Magazine Luiza, a empresária Luiza Helena Trajano. Ela fundou o movimento “Unidos pela Vacina”, formado por colegas da área (hoje congrega 75 mil empresas) e que está ajudando na procura de imunizantes, junto a laboratórios de todo o mundo, para o Brasil. 

“O nosso objetivo é vacinar todos os brasileiros até setembro deste ano. Sim, vacina para todos até setembro deste ano. A gente não discute política, não procura culpado. A gente discute sim, como levar a vacina a todas as pessoas do nosso país”, tem repetido Luiza Trajano.

Há poucos dias, em uma live, ela passou um pito no presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás – FIEG, Sandro Mabel, que aproveitava a oportunidade para cobrar do governo de Goiás a aquisição de vacinas. 

Mabel é presidente de uma das duas mais representativas entidades dos donos do dinheiro em Goiás, a FIEG, que tem somente industriais nos seus quadros. A outra é a ADIAL, instituição que congrega exclusivamente as mais de 500 empresas usufrutuárias de incentivos fiscais distribuídos principalmente pelos governos do PSDB.

Nem a FIEG nem a ADIAL têm mostrado espírito colaborativo diante das medidas de enfrentamento à pandemia. Não aportaram verbas ou doações expressivas para a aquisição de insumos médicos e menos ainda para levar alimentos e ajuda às famílias em situação de vulnerabilidade em Goiás. A FIEG até pensa em comprar vacinas, mas recusa a ideia de doar a metade ao SUS, estipulada pela lei.

Empresas bilionárias, que em alguns casos pagam zero de ICMS graças aos benefícios fiscais, mal cuidam dos seus funcionários, que às vezes nem recebem máscaras para se proteger. Poderiam, por exemplo, tentar comprar vacinas e doar 50% ao SUS, que Mabel refuga. Ou investir em leitos de UTI, descontando os recursos gastos nas suas obrigações tributárias com o governo federal, também já previsto em lei.

No final, não fazem nada. A FIEG também desenvolveu um programa de doações de alimentos, chamado FIEG Solidária, que motivou fotos de Sandro Mabel nos informativos da entidade. Só que as quantidades foram e continuam ínfimas. Até há pouco tempo, a soma total desses gêneros básicos não chegava a 100 toneladas, transportadas em camionetes.

Só para comparar, o governo do Estado está completando até o mês que vem o repasse de 750 mil cestas básicas para a população necessitada, que correspondem a centenas e centenas de caminhões lotados. Nos terminais do transporte coletivo da região metropolitana, o governador Ronaldo Caiado determinou a distribuição de 250 mil máscaras de alta performance, para proteger os trabalhadores obrigados a se deslocar mesmo com a pandemia.

Com exceção da Cicopal, do senador Vanderlan Cardoso, que fabricou e encaminhou a instituições médicas estaduais 3 mil máscaras faciais de acrílico, não se tem notícia de outra empresa fazendo o mesmo. O índice de generosidade dos grandes empresários e milionários que operam em Goiás é baixíssimo. Não há solidariedade com as goianas e goianos mais humildes entre os favorecidos pela sorte no Estado, a não ser quanto a raríssimas e honrosas exceções. 

Maiores grupos econômicos de Goiás recebem entre R$ 8 e 12 bilhões/ano

É indispensável uma comparação entre a falta de colaboração dos grandes empresários goianos com o enfrentamento à Covid-19 e os bilionários incentivos fiscais que recebem. Nas últimas décadas, por conta de isenções do ICMS, as maiores indústrias, distribuidoras e atacadistas do Estado embolsam entre R$ 8 a 12 bilhões anuais – uma fábula de dinheiro.

Hoje, são exatamente 534 as empresas instaladas em Goiás que usufruem dos incentivos fiscais. Pelo menos uma pequena parte deveria retornar para a população, em especial na situação de calamidade pública trazida pela Covid-19, só que se recusam a fazê-lo. Ou melhor, em alguns casos até são feitas doações, porém irrisórias diante das necessidades da população vulnerável.

No início da pandemia, a indústria alcooleira goiana fez doações de álcool líquido e em gel para hospitais públicos e algumas prefeituras. Mas foi só. O pão durismo dos empresários do Estado contrasta com a mão aberta das maiores empresas e bancos brasileiros, perfilados desde o início com o combate ao coronavírus e suas necessidades de financiamento.

 O movimento “Unidos pela Vacina” da empresária Luiza Helena Trajano, além de estar à procura de imunizantes para comprar e doar ao SUS, investiu em uma campanha publicitária que será veiculada pela TV, para conscientizar a população sobre a importância de se prevenir contra a doença.

Em Goiás, é o caso de ampliar a pergunta que não quer calar, feita pelo senador Jorge Kajuru: “Por que Sandro Mabel e os milionários da indústria goiana que ele representa não fazem nada pelas famílias vulneráveis de Goiás?”.

A dona do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, comanda o movimento “Unidos pela Vacina” e ajuda no combate à Covid-19 – Foto: Divulgação

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