Secretariado de Rogério Cruz tem “intocáveis” do MDB. Se mexer com eles, é rompimento
Helton Lenine
O prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos) avisou ao presidente do MDB de Goiás, Daniel Vilela, que a “minirreforma administrativa” que iniciou no Paço Municipal não tem objetivo de excluir o partido que venceu as eleições em 2020, cuja chapa encabeçada por Maguito Vilela ele integrou como candidato a vice-prefeito.
Rogério Cruz tem repetido que as alterações no secretariado ocorrem para abrir espaço para o seu partido – o Republicanos – e também para dar uma “cara própria” à sua gestão, agora que está efetivado no cargo com a morte de Maguito Vilela e vai exercer o mandato até dezembro de 2024.
O prefeito tem sinalizado que os secretários Euler Morais (Relações Institucionais), Leandro Vilela (Extraordinária), Luiz Bittencourt (Infraestrutura Urbana), Pedro Chaves (Mobilidade) e Gean Carvalho (secretário Executivo de Assuntos Estratégicos), indicados por Daniel Vilela, que alegou na época seguir orientação de Maguito (internado naquele momento em estado crítico no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde faleceu) permanecerão na equipe de governo. Seriam os “intocáveis” do MDB e mexer com qualquer um deles poderia levar a um rompimento com o partido.
O próprio Daniel está nomeado para exercer função oficial como membro da Comissão Gestora de Parcerias de Goiânia, responsável pelo Programa Municipal de Parcerias Público-Privadas, que não seria remunerado. Além disso, ele integra o Conselho de Gestão, que aconselha Rogério Cruz em suas decisões e estava programado para se reunir de 15 em 15 dias, porém até hoje só foi convocado por duas vezes.
No ajuste da equipe de auxiliares, o prefeito Rogério Cruz já substituiu os emedebistas Andrey Azeredo (Governo), Bruno Rocha Lima (Comunicação) e Marcelo Ferreira da Costa (Educação) e pretende afastar, semana que vem, Marcela Araújo Teixeira (Administração), Kleber Adorno (Cultura) e Aristóteles de Paula, o Tóti (Comurg).
Embora tenha mantido Agenor Mariano, a pedido de Daniel Vilela, pelo fato de o então vice-prefeito ter sido o coordenador geral da campanha do MDB e aliados nas eleições do ano passado, o Paço Municipal sofre pressões dos vereadores da base aliada e do próprio Republicanos para nomear novo titular para a pasta de Planejamento e Habitação. Na prática, Agenor Mariano foi esvaziado e não tem mais voz ativa na administração de Goiânia.
Conforme apurou o Diário de Aparecida, vereadores governistas reivindicam maior espaço no governo Rogério Cruz, principalmente em cargos de diretoria e superintendências de empresas e secretarias, para que possam nomear “cabos eleitorais” que os ajudaram em 2020. Para abrir espaço e atender aos vereadores de vários partidos, Cruz precisa continuar exonerando emedebistas que ocupam cargos em escalões inferiores da prefeitura.
“Vai repetir o fiasco de Paulo Garcia”, ameaçam emedebistas
Conforme admitiu em entrevista a O Popular, Daniel Vilela, o MDB foi “surpreendido” com as exonerações que o prefeito Rogério Cruz começou a fazer com apenas 80 dias de governo mudanças que o dirigente emedebista acreditava que só ocorreriam depois de um ano de mandato, época que seria natural para ajustes na equipe de auxiliares.
Assim, Daniel não descarta rompimento do MDB com o governo Rogério Cruz, mas, questionado, disse não ter ideia sobre quando e como isso poderia ocorrer.
De forma superficial, Daniel Vilela ressaltou que um eventual rompimento do MDB com o Paço Municipal só aconteceria caso os compromissos fixados por Maguito Vilela, durante a campanha do ano passado, não venham a ser cumpridos por Rogério Cruz, como, por exemplo, a construção de um hospital municipal e de casas populares.
Como advertência a Rogério Cruz para os riscos que sua gestão corre com um eventual afastamento do MDB, cardeais do partido lembram que, em 2013, quando Paulo Garcia (PT) afastou os aliados de Iris Rezende da prefeitura, o seu governo perdeu consistência e popularidade a tão ponto de impedir que ele circulasse à vontade pelas ruas de Goiânia ao final do mandato, em 2016.
A mesma ameaça é colocada agora para Rogério Cruz, já que repetida sem parar por emedebistas que falam à imprensa e usam principalmente a coluna Giro, em O Popular, para mandar recados ao prefeito. Isso teria contribuído para a queda do jornalista Bruno Rocha Lima da secretaria municipal de Comunicação, depois que ele teria sido identificado como o responsável por plantar notas que foram interpretadas pelo grupo do prefeito como “chantagem” e irritaram tanto ele quanto a cúpula do Republicanos. (H.L.)