Editorial do Diário de Aparecida: Decisão inoportuna
É da maior inoportunidade a decisão monocrática, porém legal, de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou a religião como atividade essencial e liberou cultos e missas em todo o País, mesmo nesse momento em que a pandemia do novo coronavírus está ainda longe de ser controlada e ceifa diariamente milhares de vidas pelo Brasil afora.
Infectologistas e especialistas médicos ficaram pasmos com a autorização para a reabertura das igrejas de todos os matizes. “Isso nem sequer deveria ser discutido”, disse um deles, alertando que a permissão do STF é na verdade um passe livre para a multiplicação de aglomerações e, na sequência, um estímulo para a disseminação da Covid-19.
Questões dessa natureza deveriam caber ao Poder Executivo, mais e melhor aparelhado para o enfrentamento a uma doença cuja virulência ameaça o tecido social brasileiro e sufoca a própria economia, mas que tem no isolamento a arma mais eficaz para a sua superação. Não serve à sociedade, assim, a infeliz intromissão de um tribunal superior que deveria servir de exemplo para a moderação, o equilíbrio e o bom senso ao se pronunciar sobre um tema que afeta de perto toda a população.
Infelizmente, o STF, pela ação individual e equivocada de um dos seus ministros, paga o preço do desgaste da sua imagem e passa a sinalização de que as medidas de prevenção sanitária podem ser afrouxadas, aleatoriamente, para colocar em risco de morte os fiéis que se atreverem a comparecer aos cultos e missas agora autorizados a funcionar.
Por outro lado, espera-se que a matéria seja levada com urgência ao plenário da Corte, onde, com o juízo e a inteligência da maioria dos magistrados, haverá a chance de que as coisas sejam recolocadas no eixo e que a suspensão dos eventos religiosos seja mantida até um momento mais propício para a saúde de todos.