Notícias

Crise em Goiânia é a oportunidade para Mendanha tentar substituir Daniel Vilela

Da Redação

As estreitas ligações pessoais e políticas entre o prefeito Gustavo Mendanha e o presidente estadual do MDB Daniel Vilela, além do fato de ele, Mendanha, administra o mais importante município da pequena lista de prefeituras ocupadas por emedebistas em Goiás, fazem com as atenções se dirijam nos próximos dias para o impacto em Aparecida dos últimos acontecimentos na prefeitura de Goiânia. 

Os dois, Mendanha e Daniel são chegados, muito embora o primeiro não esconda os seus sonhos de crescer dentro do MDB a ponto de, em 2022, vir a representar a legenda na disputa pelo governo do Estado. Nesse sentido, o golpe e a perda de prestígio que o filho de Maguito Vilela sofreu ao perder a sua influência e cargos importantes no secretariado do prefeito Rogério Cruz podem ter alguma influência, ao abrir espaço para o crescimento que Mendanha espera ter na política estadual. 

Uma oportunidade, portanto, pode ter surgido para o prefeito de Aparecida, no momento em tratamento médico diante da infecção pela Covid-19 – cujo enfrentamento, no município, ele é acusado de manipular com a intenção de evitar desgastes e garantir a sua imagem como antagonista do governador Ronaldo Caiado, candidato à reeleição em 2022. 

Durante o desenrolar da crise entre o MDB e Rogério Cruz, um detalhe despertou interesse: Gustavo Mendanha não abriu o bico para comentar o conflito. Não externou solidariedade a Daniel Vilela nem disse uma única palavra que pudesse ser interpretada como crítica ao seu colega da prefeitura de Goiânia. Manteve silêncio durante toda a briga entre os emedebistas e Cruz e se omitiu principalmente em relação ao desfecho, com o expurgo final dos 21 secretários indicados pelo partido para o Paço Municipal, no início desta semana. 

Está claro, assim, que Mendanha quer ficar à distância dos acontecimentos na capital. Primeiro, como se disse, para alavancar a viabilidade do seu projeto político com vistas a se candidatar a governador e, segundo, para evitar que a máquina administrativa que tem sobre controle seja obrigada a abrir espaços para abrigar emedebistas que perderam suas posições na equipe de auxiliares de Rogério Cruz.

Mendanha montou em Aparecida um arranjo político que garante a “unanimidade” dos partidos políticos e dos 15 vereadores – até mesmo de lideranças menores foram cooptadas. Todos, sem exceção, estão abrigados na folha de pagamento da prefeitura. Na cidade, o que se comenta é que o desemprego trazido pela pandemia do novo coronavírus, ao deprimir a economia, simplesmente não atingiu a classe política aparecidense.

Cada vaga a abrir para receber nomes enviados de Goiânia por Daniel Vilela e pelo MDB significaria pontos a menos e abalos na estrutura de poder montada pelo prefeito de Aparecida, que depende da farta distribuição de cargos comissionados para preservar a sua base de apoio no município.

Um segundo ponto é que nomear em Aparecida emedebistas egressos do secretariado de Rogério Cruz poderia causar uma péssima repercussão, ao evidenciar a manipulação de recursos públicos municipais para o atendimento de interesses políticos puramente oportunistas. Os desgastes que adviriam seriam grandes, não só em círculos próximos a Gustavo Mendanha, na sua cidade, mas também em todo o Estado.

Aparecida e Goiânia nunca tiveram e vão continuar sem ter parceria administrativa

Duas cidades populosas, uma com 600 mil e outra com 1,5 milhão de habitantes, vizinhas, com extensas áreas conurbadas e praticamente formando um núcleo urbano único, deveriam ser administradas pelos seus prefeitos com um mínimo de entendimento entre si.

Não é o que acontece com Aparecida e Goiânia. Quando Iris Rezende governava a capital, Gustavo Mendanha, então no seu 1º mandato, não desenvolveu projetos comuns com o seu colega para, como se diz, implantar parcerias benéficas para os moradores de ambos os municípios.

Com a posse de Rogério Cruz, um ensaio até chegou a ser feito, aliás por iniciativa de Cruz, que visitou Mendanha na Cidade Administrativa em Aparecida e saiu falando em um trabalho conjunto na área da Saúde – da maior importância em época de pandemia da Covid-19.

Mendanha também destacou, na ocasião, as vantagens que uma parceria com a prefeitura de Goiânia poderia trazer, com resultados positivos que se espalhariam por toda a região metropolitana.

A conversa entre os dois gestores não durou nem um mês. Enquanto Rogério Cruz adotava para Goiânia as medidas de isolamento social instituídas pelo decreto 14×14 do governador Ronaldo Caiado, ou seja, 14 dias de portas fechadas para o comércio, indústria e serviços, seguindo-se 14 dias de reabertura, Mendanha preferiu medidas mais flexíveis, poupando desgastes ao permitir que, através da adoção do escalonamento intermitente por regiões, 60% das atividades econômicas não essenciais de Aparecida funcionassem todo os dias normalmente.

A divergência se agravou ainda mais com a caracterização de Mendanha como o único prefeito de cidade acima de 100 mil habitantes, em Goiás, a fugir o regramento do decreto estadual para evitar a disseminação do novo coronavírus.

E piorou quando o governador Ronaldo Caiado elogiou publicamente Rogério Cruz pela decisão de incluir Goiânia no modelo 14×14, aproveitando o momento para fazer duras críticas a Mendanha pelo afrouxamento permitido para Aparecida, onde aglomerações passaram a ser comuns nas feiras-livres e nos pontos comerciais mais procurados, como a avenida da Igualdade, no Garavelo, ou o Buriti Shopping.

Adeus às parcerias entre Aparecida e Goiânia, portanto. E, para piorar o que já estava ruim, o entendimento entre os dois prefeitos também será afetado pelo rompimento entre o MDB e Daniel Vilela com o prefeito de Goiânia, já que obriga a que Mendanha se solidarize com o seu partido e esfrie ainda mais as relações com Rogério Cruz. Tudo em prejuízo da população aparecidense e da capital.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo