Aparecida

Milhares de famílias aparecidenses vivem drama de não ter o que comer

Levantamento de 2020 realizado pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) de Aparecida de Goiânia revela que há 40.000 famílias cadastradas no Cadastro Único (CadÚnico), banco de dados do governo federal que coleta informações sobre famílias de baixa renda para inclusão em programas de assistência social, a exemplo do Bolsa Família. No Portal da Transparência do governo de Goiás, 12.150 moradores de Aparecida, a maioria mulheres, estão listados como vulneráveis econômica e socialmente.
Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que, de cada dez famílias brasileiras, quatro não têm acesso regular e permanente a uma quantidade suficiente de comida diariamente. Pelo levantamento, quase 85 milhões de brasileiros tiveram algum tipo de dificuldade para se alimentar, sendo que 10 milhões relataram passar fome. Nesse quadro dramático, lares chefiados por mulheres e negros passam mais dificuldade.
Na campanha eleitoral à reeleição da Prefeitura de Aparecida de Goiânia, o então candidato Gustavo Mendanha (MDB) prometeu a implantação do programa Banco de Alimentos – destinado não só a arrecadar doações de gêneros básicos para distribuição a famílias de baixa renda, mas também como uma iniciativa para evitar o desperdício de alimentos por parte de empresas privadas, como supermercados, atacadistas e até restaurantes.
Por nota, a Prefeitura de Aparecida de Goiânia informou que a Semas iniciou ainda em janeiro o processo para a construção do Banco de Alimentos da cidade e as obras devem ser iniciadas assim que finalizados os trâmites legais. A pasta explicou que o banco é um programa do governo federal e que será implantado em parceria com doadores de alimentos, como supermercados, feiras, entre outros.
Após esse repasse, a Secretaria de Assistência Social fará a distribuição às entidades e instituições cadastradas na pasta, que farão o repasse para as famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social. De acordo com a prefeitura, o local onde serão armazenados os alimentos antes da distribuição está sendo projetado em conformidade com todas as regras sanitárias vigentes.
Aparecida tem 600 mil habitantes, entre os quais se escondem desigualdades sociais gritantes, conforme apontou o estudo de vulnerabilidade feito pelo Instituto Mauro Borges (IMB), do governo do Estado, em 2018, denunciando a existência em Aparecida de um grave déficit nutricional e também em questões como moradia, vestuário e serviços sanitários. A pesquisa do IMB diz que a cidade possui um grande índice de imigração que provoca amontoados em bairros periféricos, onde moram diversas pessoas da mesma família na casa, como é o caso da dona de casa Maria Silva, residente no Setor Pontal Sul.
Com ela e o marido desempregados, Maria contou ao Diário de Aparecida que está com dois meses de aluguel atrasados. Sem saber a quem recorrer, ela pede ajuda. “A minha situação não está muito boa. Aqui nós moramos de aluguel. Nós estamos dois meses atrasados, estamos comendo a troco de doação de algumas cestas e meu marido está desempregado. Aqui são três pessoas dentro de casa. Tem o meu neto de 14 anos e meu marido, que toma até remédio controlado”, desabafou.
Sem dinheiro, ela disse também que ficaram durante três meses sem gás de cozinha. Para conseguir preparar o alimento, ela teve de recorrer ao fogão a lenha. “Até o gás aqui de casa faltou. Nós passamos mais de mês sem gás, cozinhando no fogão a lenha. E meu marido inventou aqui um fogão de tijolo, uma geladeira velha. Nós tava (sic) cozinhando, aí meu filho aqui arrumou um dinheiro emprestado e trocou nosso gás. Nós estamos vivendo só na glória de Deus”, lamenta.

Auxiliar
A auxiliar de limpeza Flaviane Amaro da Silva, de 48 anos, moradora do Setor Independência Mansões, cria os três netos com dificuldades. Por não ter com quem deixá-los, ela diz que necessita pagar uma auxiliar, o que compromete a renda familiar. “Eu sou auxiliar de limpeza e crio três netos. Ganho um salário mínimo e pago uma babá, que custa R$ 600, porque os Cmei’s estão fechados. Tenho que me virar com o que sobra, com água, energia, inclusive estou com duas contas de energia sem pagar. Pago babá porque meus netos não têm com quem ficar para eu trabalhar. Com desconto, eu recebo R$ 915”, disse ao DA.
Flaviane conta que sobrevive à custa de doações e que a prefeitura não a ajuda. “Tem um pessoal que me doa cestas, mas não é o suficiente. Estou indo, conforme Deus quer. Estou com a guarda dos netos. Está difícil a situação. Eu estava pegando o Bolsa Família dos meus netos, mas é a mãe que está com o cartão, então não recebo mais. Preciso esperar o juiz decretar a guarda definitiva deles para mim, aí eu pego o dinheiro. Até agora não recebo nenhum benefício da Prefeitura de Aparecida de Goiânia.”
Com dificuldades para comprar móveis para o quarto dos netos, ela pede ajuda. “Estou montando o quarto deles. Eles estão dormindo no tapete, porque o dinheiro não sobra para comprar uma cama. Não tem guarda-roupa, brinquedo, a situação aqui é precária. Nem leite os meninos têm. Meu coração chega a doer. Eu moro num cômodo do lote da minha mãe. Graças a Deus todos aqui estão com saúde, mas a situação financeira é complicada. Tem dias que eu choro bastante. Eu como no serviço pelo vale-alimentação. Tenho problemas de saúde também.”

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