Com quase 600 mil habitantes, Aparecida possui apenas um parque ecológico
Enquanto Goiânia possui 54 parques ecológicos administrados pela Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), entre eles Vaca Brava, Areião, Flamboyant e Cascavel, a circunvizinha Aparecida, com quase 600 mil habitantes, só tem um, que é o Parque Tamanduá, localizado no Residencial Garavelo Park. Ainda assim, o local se encontra em condições de manutenção as mais precárias possíveis. Nas redes sociais que o prefeito Gustavo Mendanha (MDB) tanto aprecia, acumulam-se as reclamações dos moradores da região sobre a deterioração dessa área de convivência, sem que nenhuma providência seja tomada. Vale salientar que o Parque da Família, localizado em frente a um shopping da cidade, é só uma pista ao longo de uma avenida e um parquinho.
Promessa de campanha à reeleição, o então candidato Gustavo Mendanha garantiu à população que restauraria o Parque Tamanduá, abrangendo a construção de espelhos d’água para embelezar o espaço de lazer. Seu projeto é construir ainda um parque ecológico no Jardim Tiradentes e outros dois no Jardim Alto Paraíso e Setor Maria Inês. Mendanha também anunciou no plano de governo o compromisso de implantar em Aparecida o Viveiro do Cerrado, numa parceria com o Conselho Regional de Engenharia e Economia (Crea) e a ONU Habitat – braço das Nações Unidas para assentamentos urbanos.
Contudo, o município está carente de investimentos na área ambiental, além de lazer e segurança. A equipe de reportagem do Diário de Aparecida visitou na tarde da última sexta-feira, 14, o Parque Tamanduá, após inúmeras reclamações dos leitores em virtude do descaso e abandono da Prefeitura de Aparecida de Goiânia com o local. Pelo menos 30% da vegetação nativa dentro das dependências do parque estão gravemente degradadas e o ecossistema do córrego está condenado. A falta de preservação do leito do córrego é a principal causadora das constantes erosões que ocorrem no bairro onde foi implantado. Mobiliário das pistas de caminhada e grades de proteção do local estão destruídos e não oferecem um local seguro de lazer à população.
Ao jornal O Hoje, o professor de Geografia Física da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Bernardo Cristóvão Colombo da Cunha, lamentou que não há mais como recuperar a área degradada, porém ele alerta para a conservação. “Deveria haver uma intervenção governamental para tentar recuperar minimamente como uma área de lazer para a população porque algumas ilhas silvestres reduzidas ainda resistem com animais”, defende. “Não há mais como recuperar, mas tem jeito de conservar. Quando se desmata mais de 10% de um ecossistema, a recuperação se torna muito difícil”, lamenta. O professor ainda diz que se não houver ações no sentido de conservação do parque, todo o ecossistema do Córrego Tamanduá estará condenado a desaparecer em breve.
De acordo com o professor universitário, apenas uma pequena região da nascente do Córrego Tamanduá está dentro dos domínios do parque e mesmo o que deveria estar preservado pela unidade de conservação está em situação de abandono e descaso. “Um córrego é um organismo vivo. Se você isolar uma parte dele e degradar o restante, nada vai funcionar como deveria, e toda aquela vida ficará condenada a deixar de existir”, explica. Bernardo ainda diz que a vegetação nativa nas dependências do parque está em estágio avançado de degradação. “Em algumas partes, é possível perceber até clareiras causadas pela degradação”, declara.
Para o geógrafo, seria necessário um trabalho efetivo de conservação do que restou da mata que deveria ser protegida pelo parque, pois toda a extensão do Córrego Tamanduá, fora das dependências da unidade de conservação, já está condenada pelo forte adensamento urbano da região. “Fora da área do parque, o Córrego Tamanduá não existe mais. O leito do córrego foi deslocado e suas matas foram destruídas.” Além disso, o acadêmico afirma que há o uso irregular das margens do córrego para cultivo de hortaliças e não há o respeito da distância mínima de 50 metros para construir edificações que margeiam o curso d’água.
Segurança
Não é só a deterioração da área verde que o Parque Tamanduá sofre. Moradores vizinhos e frequentadores disseram ao DA que também sofrem com a falta de segurança. Apesar de haver um edifício da Guarda Civil Municipal de Aparecida dentro do parque, eles reclamam que é recorrente ver cenas de assaltos no local. Morador do Garavelo Residencial Park há mais de 20 anos, o pedreiro José Torres, de 68 anos, afirmou que a família inteira já foi assaltada na pista de cooper do parque e que os bandidos correm para dentro da mata.
“Aqui em casa todos nós fomos assaltados aí nesse parque. Eu também já vi diversas cenas de assaltos com outras pessoas que transitam nesse parque. Tem os alambrados, mas os vândalos quebram e a prefeitura não conserta. Tem um edifício da Guarda Civil Metropolitana aqui dentro, mas eles não percorrem com muita frequência por aqui”, pontuou.
O estudante Lucas Souza, de 18 anos, também fez a mesma reclamação. Para ele, além da questão da falta de segurança no local, o parque também não dispõe de iluminação pública própria. “Aqui deveria ser um local que proporcionasse mais segurança para a população. Tem esses alambrados quebrados e muitos bandidos se escondem dentro da mata. Quando é por volta das 19h, as pessoas nem se aproximam com medo, porque além de tudo não tem iluminação”, contou ao DA.
Resposta
O Diário de Aparecida entrou em contato com a Secretaria de Meio Ambiente de Aparecida de Goiânia (Semma), que explicou, por meio de nota, que o Parque Tamanduá está incluso no projeto de revitalização da administração municipal e prevê investimento por meio de financiamento, em fase de negociação com o Banco Internacional. Questionada sobre os investimentos na construção de outros parques ecológicos na cidade, a prefeitura não respondeu aos questionamentos do jornal.
“Os trabalhos de limpeza, reforma, construção e manutenção de praças e parques têm sido realizados constantemente pelas equipes da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SDU), responsável por coordenar e executar a política dos serviços de limpeza urbana, os serviços de coleta de entulhos e reciclagem, iluminação e outras providências. Sobre a iluminação, a secretaria informa que encaminhará equipe técnica nos próximos dias para avaliar a situação e realizar os reparos necessários. A SDU explica ainda que serviços paliativos de manutenção são realizados frequentemente em praças e parques do município, considerando o cronograma da pasta que visa atender todas as regiões da cidade. O órgão acrescenta ainda que boas práticas de cidadania e de preservação ambiental, bem como o uso correto dos equipamentos públicos, são importantes medidas para manter a conservação de praças, parques, espaços de convivências e outros equipamentos públicos”, informou o comunicado.
Parque Tamanduá não cumpre papel ambiental e social
Um estudo de caso do Parque Tamanduá, em Aparecida de Goiânia, apresentado no Seminário Internacional de Arquitetura, Tecnologia e Projeto em 2013, demonstra que um parque ecológico deveria oferecer uma série de atividades, com objetivos específicos, de uma forma harmônica, com o objetivo de integração do homem ao meio ambiente pela valorização da natureza. Segundo o estudo, essa definição de parque ecológico no Córrego Tamanduá não é constatada porque o local está abandonado e não cumpre com sua função social.
A Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia sancionou a lei que criou o Parque Ecológico Municipal do Tamanduá em 2004. O espaço está situado às margens da nascente do córrego de mesmo nome do parque, no loteamento Residencial Park Garavelo. O Córrego Tamanduá possui aproximadamente nove quilômetros de extensão e nasce na área oeste do Residencial Park Garavelo, que deságua no Córrego Santo Antônio, vizinho ao Residencial Cândido de Queiroz, que por sua vez desemboca no Rio Meia Ponte, no trecho territorial aparecidense.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a designação de parque urbano é uma área verde com função ecológica, estética e de lazer, mas com uma extensão maior que as praças e jardins públicos. Os parques lineares urbanos deveriam ser construídos ao longo de cursos hídricos destinados à conservação e à preservação dos recursos naturais e interligar fragmentos florestais e de usufruto da população.
Ainda segundo o estudo de caso do Parque Tamanduá apresentado no Seminário Internacional de Arquitetura, Tecnologia e Projeto, a proposta de implantação de um parque linear urbano no espaço ao longo do curso d’água deve conectar os fragmentos de vegetação e estabelecer um ambiente de fauna e flora equilibrados para usufruto social adequado aos preceitos do desenvolvimento sustentável e da legislação ambiental pertinente. (E.M.)