MDB caminha para aliança com Caiado, com ou sem a eleição do novo diretório
É remota a possibilidade de que os ruídos surgidos no MDB nestes últimos dias por conta da eleição do novo diretório do partido, suspensa pela Justiça, consigam criar obstáculos capazes de barrar a aliança da sigla com o governador Ronaldo Caiado (DEM) para as eleições de 2022.
O atual presidente do partido no Estado, Daniel Vilela, tem total controle do diretório – do atual e do próximo – e caso ocorra a cassação da liminar que suspendeu a convenção que havia sido convocada para o dia 18 deste mês, ou na hipótese de nova eleição, ele reconvocou a convenção para o próximo dia 2 de julho, quando a sua chapa deverá ser confirmada.
Porém, a composição com o democrata independe dessa eleição ocorrer ou não. Daniel teve seu mandato prorrogado pelo Diretório Nacional do partido até fevereiro de 2022 e ninguém duvida que, se necessário, o presidente nacional, deputado Baleia Rossi (SP), poderá prorrogar o mandato por mais um ano.
Não é a primeira vez que o MDB estadual passa por um processo de divisão interna. Desde o seu nascimento, na década de 60, que o partido foi marcado por rachas. O MDB nunca foi um partido de poucas rusgas, nem durante os 16 anos em que esteve no poder no Estado. O ex-governador Iris Rezende que o diga: gastou horas “apagando incêndios” dentro do partido.
Mas o principal fator causador da divisão agora é a sucessão de 2022. De um lado está o ex-deputado e presidente do diretório da sigla, Daniel Vilela – filho do ex-governador e ex-prefeito de Aparecida Maguito Vilela, morto em janeiro por complicações da Covid-19 –, em sintonia com o ex-governador Iris Rezende, com tendência a fechar aliança com o governador Ronaldo Caiado.
Uma outra corrente é alimentada pelo prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, que, por sua vez, é fomentada por outras correntes de oposição fora do MDB, como, por exemplo, dois ferrenhos adversários de Ronaldo Caiado: o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) e o presidente da Fieg, Sandro Mabel, que deverão disputar eleição para a Câmara Federal em 2022 e procuram palanque.
O detalhe do imbróglio atual é que, embora Gustavo diga sempre que deve a Maguito as oportunidades e o apoio para crescer na política e repita juramentos de lealdade a Daniel Vilela, há fortes sinais que suscitam dúvidas sobre até quando o filho do saudoso Léo Mendanha se manterá fiel aos seus dois mentores. Os olhos de Gustavo brilham por conta dos estímulos que vem recebendo para sair candidato a governador pela oposição, ainda que por um partido que não seja o MDB.
Caso se confirme a aliança MDB-DEM para o próximo ano – o que parece mais provável a cada dia –, Daniel Vilela deverá ser candidato a vice na chapa à reeleição do governador Ronaldo Caiado. A possível consagração de Daniel ao cargo seria um bom começo da nova caminhada do partido rumo ao poder no Estado, após 24 anos de jejum.
Até agora o nome mais cotado para ser candidato ao Senado na provável chapa Caiado-Daniel é o do atual secretário da Fazenda no governo de São Paulo, Henrique Meirelles, que é também cogitado para ser vice na chapa do provável candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Contudo, aparentemente essa possibilidade parece já ter sido maior. O caso aqui funciona ao contrário da regra matemática segundo a qual o resultado da “soma de menos com mais é menos”, ou seja, quanto menor for a probabilidade de Henrique Meirelles ser vice de Lula, maior a probabilidade de ele ser candidato ao Senado na chapa de Caiado em Goiás.
Vencer o pleito de 2026 é a meta de Iris. Isso mesmo: 2026
Caso venha a fechar aliança com o DEM e na hipótese de Daniel Vilela ser indicado para a vice na chapa da reeleição do governador Ronaldo Caiado, o MDB (esse é o plano de Iris Rezende) abrirá uma larga avenida para voltar ao poder – do qual foi defenestrado por mais de duas décadas em 1998, quando Iris foi derrotado pelo jovem Marconi Perillo. Com a coligação vencendo em 2022, Daniel, na vice, se habilitaria como o próximo candidato a governador da aliança, já que provavelmente assumiria o governo em 2026, com a renúncia de Caiado para disputar o Senado, e na sequência se habilitaria para a reeleição. Iris entende que esse é o caminho para criar em Goiás uma estrutura de poder duradoura, evitando a volta do PSDB, que ele considera nociva para o Estado, ou a ascensão de aventureiros, que também prejudicariam a população goiana. Portanto, enquanto a classe política mira 2022, o velho cacique emedebista mostra visão de futuro e estratégia a longo prazo.