Sem propostas, Marconi e Eliton tentam voltar com estratégia de críticas e ataques
Os ex-governadores Marconi Perillo e José Eliton lutam hoje para reunir os cacos que sobraram do PSDB após as derrotas eleitorais acachapantes de 2018 e 2020, na tentativa de recuperar alguma visibilidade em Goiás.
Não foi só o insucesso nas urnas que empurrou os dois para um quase ostracismo. Houve também os eventos policiais que os tiveram como protagonistas, denunciados pelos Ministérios Públicos Estadual e Federal por receber propinas da Odebrecht e de empreiteiras estaduais, cometendo uma série de improbidade administrativa como gestores, além de Caixa 2 em suas eleições. Um, Marconi, experimentou o gosto da cadeia, e o outro, Eliton, teve a prisão requerida pelo MPF, mas negada na última hora pela Justiça.
De algum tempo para cá, dia e noite Marconi pontua nas suas redes sociais – que estiveram desativadas por quase dois anos, desde que perdeu a disputa pelo Senado – ataques diários ao governador Ronaldo Caiado. José Eliton não tem jeito para atuar no Instagram, Twitter ou Facebook, mas se vale da sua assessoria de imprensa, comandada pelo jornalista Jarbas Rodrigues, ex-titular da coluna Giro de O Popular, para cavar espaço nos veículos de comunicação, quando externa suas posições esdrúxulas sobre política – como a ideia escalafobética de um acordo entre PSDB e PT, prontamente rechaçada por Marconi. Ele também se esmera em ataques a Caiado.
1 Carência crônica de ideias e propostas para o Estado
Digamos que críticas e oposição são necessárias em qualquer regime democrático, às vezes até injustas ou sem fundamento. Mas os ex-governadores tucanos chamam a atenção pelo exagero.
Marconi e Eliton deixam de lado uma obrigação que é de todo e qualquer político que já passou por um cargo de governo: a de contribuir com o debate de ideias e propostas para o futuro, quem sabe até apresentando um projeto alternativo caso retomassem a gestão.
Olhando para a frente e não perdendo tempo rememorando o passado, hoje, as realizações de ontem são difíceis de entender dentro do contexto de mudança rápida e constante de todos os parâmetros da vida moderna. Bolsa Universitária e Renda Cidadã são exemplos.
Tiveram lógica quando foram implantados há quase 20 anos. Mas o tempo, que é implacável, tornou esses programas superados. Corretamente, Caiado atualizou o primeiro e acabou com o segundo – este, a Renda Cidadã, aliás, morreu por conta própria, com os beneficiários dos cartões magnéticos deixando de procurar os bancos para sacar os minguados proventos fornecidos a título de ajuda, ainda mais com a força da Bolsa Família do governo federal.
2 Obsessão com o passado é apenas perda de tempo
Marconi e Eliton vivem obcecados por lembranças. A essência da contestação que eles fazem ao Governo Caiado é a comparação vazia com o que já se foi. O próprio Marconi deveria se mirar no seu exemplo, quando foi governador e virou a página escrita pelo então PMDB, que passou 16 anos no poder.
O jovem tucano que venceu Iris Rezende em 1998 criou um novo desenho para as ações do poder público em Goiás. Isso é inevitável quando há rupturas administrativas, e é o que Caiado está fazendo, depois de passar uma borracha no tempo velho do PSDB. A Bolsa Universitária foi requalificada – com Marconi chiando porque o seu nome evoluiu para Universitários do Bem.
O segundo ponto é a falta de preparo dos ex-governadores para avaliar as políticas públicas implantadas por Caiado, que promoveram uma guinada de 180 graus no encaminhamento da gestão estadual. Nesse aspecto, a principal conquista é o ajuste fiscal, que os dois tucanos até almejaram, mas não conseguiram implantar, deixando como legado um Estado arrebentado financeiramente – em que as despesas não eram compatíveis com as receitas, criando um rombo de caixa que parecia perpétuo.
3 Na política, existe ressurreição, mas com trabalho e merecimento
Em vez de falar besteiras, Marconi e José Eliton deveriam se dedicar 1) a apresentar projetos para Goiás e 2) a usar o que resta do suposto prestígio que adquiriram governando o Estado para, por exemplo, atrair empresas, investimentos ou recursos para o desenvolvimento estadual. Qualquer coisinha ajudaria. Talvez eles ainda pudessem fazer isso, como resquício de um amplo relacionamento natural para qualquer um que passe pelo Palácio das Esmeraldas.
Só que não fazem e preferem mergulhar no provincianismo, que se baseia em ressentimentos e vingançazinhas. Na política e na Bíblia, existe o fenômeno da ressurreição. É o que Marconi e José Eliton perseguem e acalentam, mas, infelizmente, com os pés fora da realidade. Não será fácil. Depois de anos e anos de desgoverno e de sucessivos escândalos de corrupção, o eleitorado goiano passou a nutrir uma verdadeira ojeriza pelo PSDB e pelos seus principais líderes. Eles foram feridos de morte, politicamente falando. Voltar à vida pode ser um sonho impossível.