Erros em cascata tornam reeleição quase impossível para o presidente
Daqui pouco tempo, em março de 2022, estaremos a seis meses da eleição presidencial. De lá em diante, só haverá uma pergunta na pauta: quem será o próximo presidente?
Por enquanto, ainda há outros assuntos. As mudanças na liderança do Congresso, as contradições do Supremo Tribunal Federal, o fraco e contraditório governo de Jair Bolsonaro, agora manchado pelas suspeitas de corrupção na compra de vacinas.
Fora esses desgastes, a blindagem do capitão está corroída também pela série de erros no enfrentamento à pandemia. Não há como excluir a sua responsabilidade por parte expressiva das centenas de milhares de vidas brasileiras que a Covid-19 levou, sendo quase 20 mil em Goiás.
Hoje, qualquer discussão a respeito da próxima eleição deve começar por reconhecer que as coisas vão mal e que as pessoas estão insatisfeitas, com a sensação de que a vida piorou. Somente os que acreditam no coelhinho da Páscoa imaginam que vai melhorar algo daqui até o ano que vem.
Do Legislativo não virá nada (salvo o mesmo de sempre, piorado) e do Judiciário tampouco. Quanto ao que pode vir do governo nem Bolsonaro espera alguma coisa. Tudo que ele faz atualmente sugere que entregou os pontos. É até possível que, lá em 2019, ainda acreditasse em si mesmo, que conseguiria fazer um governo decente, pois lhe haviam dito que seria fácil. Não era e foi incapaz de se reinventar.
Bolsonaro teve, por exemplo, de abandonar a pretensão de liderar um plano nacional-desenvolvimentista e só lhe restou continuar amarrado ao seu ministro da Economia, antediluviano e cascateiro. Da turma de ideólogos de araque que recrutou para o Ministério não veio nada. De onde se esperava que nada viria, como de Sergio Moro, não veio nada mesmo.
Em sua trajetória política, sempre como deputado do baixíssimo clero eleito por um segmento limitado, Bolsonaro aprendeu uma única lição: pensar só na sua turma, falar apenas com ela, ignorar quem pensa diferente. Mesmo que à custa de escandalizar o resto do mundo.
As quase 58 milhões de pessoas que votaram no presidente têm de se fazer as perguntas normais em uma reeleição: valeu a pena, foi bom, o voto foi correspondido? Aconteceu o que elas esperavam, o candidato merece ser reeleito? A aposta de risco que muitos fizeram (pois ele era mal conhecido pela maioria) deu certo, era isso mesmo que queriam? A saúde, a economia, o emprego, a renda, a educação, a habitação, a segurança, o meio ambiente, a ciência, as artes e a tecnologia, a imagem internacional do País, estão dentro de suas expectativas?
Mesmo os bolsonaristas mais convictos são obrigados a admitir que respostas positivas para essas questões são difíceis. É daí que a sua derrota, em 2022, virá: da decepção que causou a quem o elegeu, superior ao fanatismo dos cada vez menos entusiastas das causas do presidente.