Caçula em Tóquio, Rayssa tem mãe ao seu lado e disputará medalha no skate
DANIEL E. DE CASTRO
TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Atleta mais nova do Brasil na história dos Jogos Olímpicos, a skatista Rayssa Leal, 13, não demorou para demonstrar seu carisma em Tóquio.
Nos últimos dias, uma foto sua sobre o skate na escada rolante do aeroporto da capital japonesa virou a mais curtida do perfil do Time Brasil no Instagram desde a chegada dos atletas ao país.
A maranhense também criou uma conta oficial no Twitter e foi “recebida” com a torcida da última campeã do BBB, Juliette, além de outros famosos.
Viralizar não é novidade para a adolescente. Aos seis anos, ela ganhou projeção nas redes sociais ao acertar manobras nas ruas de Imperatriz (MA) vestida com uma fantasia da personagem Sininho, que lhe rendeu o apelido de Fadinha –muitos a conhecem assim até hoje.
Mas Rayssa, 1,47 m de altura e 35 kg, não está a passeio no Japão. Segunda colocada no ranking da World Skate, a atleta chega à estreia olímpica do esporte com chances de subir ao pódio na categoria street, que será disputada a partir das 21h do dia 25 (horário de Brasília).
Ela e suas compatriotas Pâmela Rosa, 22, e Leticia Bufoni, 28, terão as três representantes japonesas (Aori Nishimura, Momiji Nishiya e Funa Nakayama) como principais concorrentes à conquista de medalhas.
Diferentemente do que ocorre em outros esportes, a federação internacional de skate não estabeleceu uma idade mínima para a participação olímpica. A britânica Sky Brown, também de 13 anos e que compete na categoria park, é meses mais nova que a brasileira.
Já se discute a possibilidade de um limite etário para Paris-2024. Em Tóquio, mesmo com as restrições impostas pela pandemia da Covid-19, Rayssa teve a presença de sua mãe autorizada dentro da Vila Olímpica. Lilian Mendes Rodrigues Leal frequenta o local durante o dia, mas dorme num hotel próximo da residência oficial. No quarto com a atleta fica a chefe de equipe do skate, Tatiana Lobo.
“Estamos muito felizes por essa conquista da Rayssa. Tanto eu, quanto o pai dela e os irmãos, estamos ansiosos. Poder estar ao lado dela, mais próxima neste momento, é gratificante. Com certeza o dia da prova vai ser muito emocionante”, diz Lilian à reportagem.
Rayssa brinca que a mãe também atua como sua treinadora, de tanto que já a acompanhou nas competições. “Ela sabe mais do que eu o que estou errando, as manobras que preciso aprender, as notas. Fico admirada, porque ela não anda de skate e aprendeu muito rápido.”
Lilian confirma que já adquiriu certa bagagem. “Desde o início eu acompanho a Rayssa, não apenas nas competições, mas também nos treinos. Por causa disso, eu acabei aprendendo bastante sobre o skate e passei a me interessar sobre os detalhes técnicos para, de alguma forma, poder ajudá-la.”
Vice-campeã mundial em 2019, Rayssa costuma definir sua relação com o esporte como uma “brincadeira com responsabilidade”, mas reconhece que a participação nos Jogos Olímpicos poderá ser um divisor de águas.
“É meio estranho do nada poder quebrar vários recordes e quem sabe ser a mais nova a ganhar uma medalha de ouro. Vou dar o meu melhor para isso acontecer e deixar todos os brasileiros muito orgulhosos”, diz.
O pai, Haroldo, também se surpreende com a velocidade das mudanças pelas quais a filha vem passando, principalmente desde o começo da pandemia.
“A Rayssa está crescendo e, nesse pouco mais de um ano mostrou que isso está acontecendo muito rápido! Ela amadureceu no skate, porque está mais focada. Já não é mais aquela menina de seis anos que viralizou andando com uma fantasia. Agora ela é a Rayssa Leal, atleta olímpica que vai representar o Brasil nos Jogos de Tóquio”, constata.
Os pais defendem a importância de que, além do sucesso esportivo, a adolescente não deixe de viver outras experiências fundamentais para o seu desenvolvimento. “Conversamos muito para entender se ela realmente se diverte praticando o esporte, porque isso tem que vir em primeiro lugar”, afirma Haroldo.
Moradora de Imperatriz (MA), Rayssa alterna a agenda de eventos esportivos e comerciais com atividades rotineiras para uma menina da sua idade.
Na escola (com aulas virtuais na pandemia), a disciplina preferida é geografia. Faz todo o sentido para quem já rodou o mundo por causa do skate e se diverte ao compartilhar o que viu durante essas viagens. “Nos livros aparece o Vaticano, o Coliseu, e eu falo: ‘ó tia, já fui lá’.”
No início, a pandemia atrapalhou os seus treinos, mas uma pista construída na casa da avó a ajudou a se manter ativa.
Rayssa sofreu a primeira lesão mais séria de sua vida neste ano. Machucou o pé e precisou ficar algumas semanas de molho. Sobre a experiência, ela fala como se estivesse num jogo de videogame, um dos seus passatempos preferidos. “Foi meio triste, queria ficar andando e treinando com as minhas amigas, mas foi uma coisa nova, um novo nível desbloqueado.”
Independentemente do resultado que obtiver em Tóquio, Rayssa tem na cabeça que pretende andar de skate por muitos anos. Após influenciar suas amigas a acompanharem o esporte em Imperatriz, ela deseja ver cada vez mais garotas skatistas no Brasil. Também pretende morar em Los Angeles, mas só quando terminar os estudos.
“Quero quebrar o preconceito de que a maioria dos esportes é para menino e que meninas não têm que estar lá”, finaliza.