Atletas e até organizadores aglomeram e relaxam uso de máscara nas Olimpíadas
LEANDRO COLON, DANIEL E. DE CASTRO E CAMILA MATTOSO
TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – A dias das Olimpíadas de Tóquio, o premiê Yoshihide Suga fez uma promessa a seu povo: “Vamos proteger a saúde e a segurança do público japonês”.
Bastaram poucos dias de Jogos para perceber que os protocolos anti-Covid já deixam a desejar. Os sinais de relaxamento são vistos durante as competições nas arenas e envolvem atletas, jornalistas e outros credenciados para o evento, incluindo dirigentes de confederações.
Em recente reunião com os chefes das delegações olímpicas, o comitê local dos Jogos alertou para as falhas de comportamento. Ameaçou inclusive retirar credenciais de quem descumprir as regras sanitárias.
Na terça-feira (27), a imprensa japonesa cobrou o COI (Comitê Olímpico Internacional) após o presidente da comissão olímpica do país-sede, Yasuhiro Yamashita, ser flagrado sem máscara no Budokan, ginásio de competição do judô, conversando com assessores. A dispensa do protetor facial tem sido comum da parte dele, segundo a mídia local.
O comportamento de Yamashita fere os protocolos estabelecidos no documento oficial dos Jogos.
O guia também obriga o distanciamento social de dois metros entre jornalistas e competidores após as provas. Em muitos casos, a exigência não tem sido respeitada, conforme presenciou a Folha nas arenas.
As recomendações, segundo essas diretrizes, são para evitar abraços e cumprimentos com as mãos, prática ignorada em muitos espaços olímpicos.
Tóquio registrou nesta terça 2.848 casos de Covid, um recorde na cidade-anfitriã dos Jogos. Os organizadores informam que há registros de 153 diagnósticos ligados às Olimpíadas, sendo 79 de residentes no Japão, e 74, não.
Atletas estão tirando a máscara para posar em cima do pódio. Alguns o fazem para o tradicional beijo ou mordida na medalha recém-conquistada.
Inicialmente, a regra oficial dizia que os vencedores e demais presentes naquele local são obrigados a usar o item de proteção, mas houve um afrouxamento no último fim de semana autorizado pelo COI.
Agora, os medalhistas olímpicos podem, após tocar o hino do país do vencedor do ouro, ficar sem a máscara por 30 segundos para tirar fotos, desde que respeitando o distanciamento. São orientados a vestir a máscara de novo em seguida e não mais retirá-la após descer do pódio.
O porta-voz do COI, Mark Adams, diz que os atletas têm sido alertados a manter o uso dos protetores após as celebrações de vitória. “É de nosso interesse, de todo mundo, termos Jogos seguros, e para isso temos que obedecer as regras”, disse.
Sobre o caso do dirigente da confederação japonesa, Adams afirmou que os comandos de todas as entidades dos países foram novamente avisados sobre as regras. Também foram relembrados das punições previstas, como a suspensão das credenciais de circulação. Segundo ele, as pessoas devem pedir que quem esteja sem máscara, como no caso do cartola japonês, a colocá-la.
Alguns atletas, por exemplo, não costumam pôr máscaras na tradicional zona mista do local de competição, onde dão entrevistas aos jornalistas.
Uma praxe dos organizadores é colocar gravadores e telefones dos repórteres numa bandeja para aproximar os equipamentos da boca do atleta, que responde às perguntas às vezes com o rosto descoberto.
Foi o que ocorreu, por exemplo, na entrevista da tenista japonesa Naomi Osaka acompanhada pela reportagem da Folha, após sua estreia, no último domingo (25).
Nessa conversa com jornalistas, aliás, as normas de distanciamento entre os repórteres foram ignorados. Houve aglomeração para perguntar -por vezes em gritos- a um dos nomes mais populares dos Jogos. Coube a Osaka acender a pira olímpica na cerimônia de abertura, na sexta (23). Ela foi eliminada nesta terça.
A mesma muvuca ocorreu para ouvir a americana Simone Biles na terça, após ela abandonar a final de equipes da ginástica.
Durante as primeiras disputas do skate não houve esse espaçamento entre os jornalistas, apenas uma divisão entre a imprensa e os atletas.
Depois, os medalhistas foram levados para a entrevista coletiva, em local totalmente fechado onde funciona a sala de imprensa.
Os competidores circularam, sem distanciamento, entre repórteres e trabalhadores da arena, em alguns casos parando para tirar fotos abraçados com pessoas de fora de suas “bolhas”.
Para circular pelas áreas de competição, o comitê local disponibilizou ônibus para os jornalistas credenciados, mas sem critérios de afastamento físico entre eles. A reportagem circulou em um deles lotado, com alguns passageiros sem máscara ou usando o item de forma inadequada.