Aparecida enterra a sua 1.501º vítima da Covid-19 em 15 meses de pandemia
Ao passo que o Brasil ultrapassou nesta semana a marca de 550 mil mortes por Covid-19, ao total 553.179, segundo dados de quarta-feira, 28, do Ministério da Saúde, Aparecida de Goiânia também atingiu um triste cálculo: por aqui, já foram 1.501 pais, mães, filhos, avós, sobrinhos, tios, esposos, esposas, amigos, enfim, aparecidenses que vieram a óbito em decorrência da doença, com quatro confirmados de terça para quarta-feira. Apesar de números estatísticos, são famílias, compostas por sentimentos, ceifadas por esse vírus, que propaga no município com velocidade a galope.
O aumento no número de mortes por Covid-19 em Aparecida é a consequência da adoção do modelo de escalonamento do comércio pela prefeitura em março deste ano. Desde que a prefeitura adotou esse sistema, além de casos e mortes, a ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s) aumenta vertiginosamente dia após dia. De acordo com o último dado do Painel da Covid-19, de quarta-feira, 28, ela estava em 58% na rede pública e 78% na particular. Já a ocupação geral (pública e privada) é de 66%.
Até hoje, o prefeito Gustavo Mendanha (MDB) insiste em afirmar que o modelo de abertura escalonada do comércio, indústria e serviços teria ajudado a estabilizar o avanço da doença, porém o que se vê desde dezembro é o avanço da pandemia na cidade. Imagens chocantes mostradas em edições passadas do Diário de Aparecida nos cemitérios locais exibiram uma sequência de valas abertas para receber caixões – em dezembro, eram cerca de duas mortes por dia, índice que se manteve em janeiro; em fevereiro subiu para aproximadamente cinco mortes por dia, e em março superou oito mortes por dia. Apesar de ter abaixado, em abril a média de mortes esteve em 7,4. Em junho, esse número esteve em quase quatro mortes por dia.
Um dos fatos polêmicos em relação às falhas do isolamento social foi a autorização para o funcionamento dos motéis. E ainda as feiras livres, como a do Setor Garavelo, também autorizadas pela prefeitura, acabaram virando cenário de aglomerações, uma situação de risco, já que o índice de ocupação de UTIs na cidade continuava aumentando. Além de não tomar medidas enérgicas de combate à doença, a Prefeitura de Aparecida de Goiânia suspendeu recentemente o escalonamento desde o dia 12 de julho e permitiu ainda mais a flexibilização do comércio e atividades não essenciais.
De acordo com a Portaria Nº 094/2021-GAB/SMS publicada no Diário Oficial Eletrônico (DOE) do dia 15 de julho, o regime de escalonamento pode ser retomado se Aparecida registrar índices elevados de ocupação de leitos de UTI, variação na média móvel de casos e avanço na velocidade de transmissão.
Para especialistas em saúde, o aumento no número de internação é reflexo da flexibilização das medidas de distanciamento social. “Não é hora para aglomeração. A gente não tem vacina para todo mundo. Se a gente não tiver uma cobertura vacinal, a gente não pode liberar tudo. Precisamos ter restrição. Ainda é um momento de atenção”, afirmou o médico infectologista Marcelo Daher.
A médica infectologista do Hospital Órion e da Polícia Militar Juliana Barreto adverte que não é o momento de relaxar nas medidas de contenção do vírus no Estado. “Quanto mais as pessoas colaborarem, mesmo entendendo toda a dificuldade econômica que se tem no momento no nosso País, no nosso Estado, mais rapidamente tudo poderá ser aberto com todas as condições de segurança.
Vacinação
A infectologista lembra que a vacina contra a Covid-19 é a arma ideal para combater a doença. “Vacinar em massa a população é a nossa esperança para redução e controle da doença, já que nós já sabemos que não há nenhuma medicação profilática, ou seja, preventiva, contra o coronavírus. A medicação preventiva é a vacina. E a vacina, junto com as medidas de segurança, lavagem correta das mãos, uso das máscaras a todo tempo e distanciamento social, é que vai levar à superação da pandemia”.
Embora haja uma previsão de aumento no ritmo de vacinação contra a Covid-19, as medidas de distanciamento, isolamento, uso de máscaras e higienização das mãos devem ser mantidas sem flexibilização. A orientação é da infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, Raquel Stucchi. “O anúncio de que a vacinação está acelerando não nos permite relaxar nenhuma medida de bloqueio da transmissão”, afirma em entrevista à CNN. Levantamento do Diário de Aparecida, baseado nos dados do Placar da Vida da última segunda-feira, 26, da Secretaria Municipal de Saúde do município, revela que apenas 13,99% dos aparecidenses receberam a segunda dose ou única da vacina contra a Covid-19.
Aparecida está em situação crítica no mapa de risco da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO). De acordo com a SES-GO, municípios que estão nessas condições deverão adotar procedimentos padronizados. No caso, deve-se reduzir a capacidade de atendimento em atividades de alto risco de contaminação, como bares e instituições religiosas – ambos passam a ter permissão para ocupar 30% da capacidade. Já as atividades de baixo risco, como salões de beleza, barbearias, shoppings e centros comerciais, ficam com o limite de 50% de utilização. Eventos, transporte coletivo e outros setores terão restrições específicas.