Editorial do Diário de Aparecida: Pandemia vs desemprego
A já conhecida discrepância entre os dados do Caged e os do IBGE sobre o mercado de trabalho se manteve nas divulgações deste fim de julho – segundo o Caged, o país criou 309 mil vagas formais em junho, elevando o saldo de 2021 para 1,5 milhão de novos postos de trabalho com carteira assinada; já a Pnad Contínua, do IBGE, registrou redução mínima no desemprego, que segue preocupante, com taxa de 14,6% no trimestre móvel encerrado em maio, apenas 0,1 ponto a menos que no trimestre móvel terminado em abril.
O número absoluto de desempregados se manteve estável: são 14,8 milhões de brasileiros à procura de um emprego, 40 mil a mais que no trimestre móvel anterior. Os números da Pnad Contínua permitem, pela primeira vez, enxergar o estrago causado pelo coronavírus no emprego ao longo de um ano, comparando “ambiente pandêmico com ambiente pandêmico”.
No total, somando os desempregados, os subocupados (que trabalham menos do que poderiam) e a força de trabalho potencial – pessoas que poderiam trabalhar, mas não trabalham, incluídos aí 5,7 milhões de desalentados, que já nem procuram mais um emprego –, o Brasil tem 33 milhões de trabalhadores ditos “subutilizados”, pessoas para quem faltam oportunidades. Por mais que se saiba que, em um cenário de recuperação da atividade econômica, a última variável a subir é o emprego, isso pouco serve de consolo imediato para essas dezenas de milhões de brasileiros que precisam sustentar a si mesmos e suas famílias.
Mesmo a perspectiva de crescimento acima de 5% em 2021 não é garantia automática de redução drástica no desemprego, pois o avanço do PIB se dá de forma desigual entre os setores da economia. No primeiro trimestre deste ano, quando o PIB subiu 1,2% na comparação com o último trimestre de 2020, indústria e serviços tiveram desempenho mais fraco, de 0,7% e 0,4% respectivamente – e são estes os principais empregadores do país.
A maior esperança está no avanço da vacinação, que permitirá a retomada da atividade econômica sem as restrições que vêm sendo impostas desde a chegada da Covid-19 ao Brasil. Há otimismo no setor de serviços, o mais afetado pelo coronavírus – o índice de confiança medido pela FGV já supera os números de antes da pandemia. Mas, para transformar a expectativa em realidade, é imprescindível superar de vez a doença.