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Marconi propõe a Lula chapa de oposição unindo PSDB, PT e Mendanha pelo PSB

Inquieto com a falta de alternativas competitivas com disposição para entrar na corrida pelo governo estadual pela oposição em 2022, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) se movimenta na tentativa de costurar aliança tendo como candidato ao governo o prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha.

Em telefonema para o ex-presidente Lula (PT) na última quarta-feira, 28, o ex-governador tratou da possibilidade de aliança entre PSB, PSDB e PT em Goiás, com Mendanha na cabeça da chapa, cabendo aos dois últimos a indicação dos candidatos a vice e ao Senado.

Perillo parece achar que Mendanha irá romper relação com o presidente estadual do MDB, Daniel Vilela, para se filiar ao partido do deputado federal Elias Vaz.

O telefonema de Perillo ao ex-presidente foi intermediado pelo ex-ministro da Justiça no Governo Dilma Rousseff (2011 e 2016) – José Eduardo Cardozo – a pedido do tucano.

Marconi e Lula ficaram de relações rompidas por 16 anos, sem se falar, por conta de declarações do tucano por ocasião do estouro do escândalo do mensalão, em 2005, quando ele alertou o então presidente Luiz Inácio da Silva sobre o pagamento de mesada a parlamentares em troca de apoio ao governo no Congresso. Embora o petista tenha confirmado dias depois a versão, a boa relação que havia entre eles até então foi interrompida e perdurou suspensa pelos últimos 16 anos.

Nesse período, eles experimentaram tensões em vários momentos, um em relação ao outro. Marconi chegou a chamar o petista de “canalha”, por conta de alguns imbróglios surgidos no seu caminho neste período, atribuídos por ele ao, hoje, ex-presidente. Pessoas mais próximas de Lula observaram, por ocasião do velório da ex-primeira-dama do País dona Marisa Letícia Lula da Silva, em fevereiro de 2017, que Marconi Perillo foi o único governador que não compareceu ao velório e sequer mandou um telegrama de pêsames ao ex-presidente pela morte da esposa.

Embora Marconi venha se movimentando na tentativa de montar uma chapa com Gustavo Mendanha na cabeça, contra a reeleição do governador Ronaldo Caiado, não há motivo para empolgação nesse sentido até o momento. Ao contrário, as previsões feitas nas últimas duas semanas entre lideranças do MDB não encorajam apostas em uma mudança de partido e candidatura majoritária no ano que vem.

Há um entendimento crescente no partido – e até em outras legendas – de que com a efetivação da aliança entre MDB e o governador Ronaldo Caiado (DEM), em fase de consolidação com Daniel Vilela de vice e Henrique Meirelles, ou João Campos ou Alexandre Baldy para o Senado, dificilmente Mendanha arriscaria trocar 2 anos e 9 meses do mandato de prefeito da segunda maior cidade de Goiás para embarcar numa aventura eleitoral e ainda ficar com a fama de ter traído Daniel e a memória do seu antecessor, Maguito Vilela, que o bancou na sua primeira eleição em Aparecida, em 2016.

O uso da expressão “aventura eleitoral” no parágrafo anterior é com base na pouca expressividade eleitoral dos três partidos sugeridos para bancar a candidatura do prefeito de Aparecida no momento: PSB, PT e PSDB. O primeiro, embora tenha presença expressiva em outros Estados, ainda não conseguiu se tornar uma sigla com capilaridade em Goiás. Com o PT, a situação é parecida: mesmo tendo participação maior em algumas unidades da Federação e ter vencido quatro eleições presidenciais, em Goiás, o partido só conseguiu até hoje resultados positivos em Goiânia e Anápolis.

Já o PSDB, mesmo tendo comandado a política estadual por 20 anos, está caminhando para se tornar um “partido nanico”, à medida que vem perdendo prefeitos, deputados estaduais e o único eleito para a Câmara Federal pela legenda em 2018, Célio Silveira, tem afirmado abertamente a intenção de mudar de partido – DEM e MDB são as opções prováveis. Aguarda apenas a chegada da janela que permite mudar de sigla sem perder o mandato, no mês de março, para migrar rumo a outra legenda.

Trair ou não trair, é essa a dúvida em uma certa cabeça de Aparecida

Uma das frases memoráveis que evidenciava a “mineirice”, ou seja, a “raposice” de Tancredo Neves era que nunca se deve brigar com ninguém de tal forma que não se possa reconciliar depois.

O prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, ignorou esse sábio ensinamento. Ressentido com o apoio que o governador Ronaldo Caiado deu a uma adversária na eleição municipal de 2020 e enraivecido com as operações da Polícia Civil que apuram corrupção em Aparecida, ele passou a atacar o governador e agora deu uma entrevista prometendo que nunca, jamais, em hipótese alguma apoiará a reeleição de Caiado.

O problema, para Mendanha, é que o seu “irmão” Daniel Vilela, como ele mesmo costuma dizer, está encaminhando junto com Iris Rezende um acordo entre o MDB e o DEM, do qual resultará uma chapa com Caiado para o governo e Daniel para a vice.

Vai ficar complicado para o prefeito aparecidense. Ele deve gratidão a Daniel Vilela, mas odeia Caiado, só que não há como apoiar o candidato a vice sem igualmente apoiar o candidato a governador.

Daí, se cruzar os braços ou se trabalhar contra Caiado no ano que vem, estará traindo Daniel Vilela, a quem deve um compromisso de lealdade, além de também trair a memória de Maguito Vilela – que bancou a sua 1ª eleição para a Prefeitura de Aparecida.

Para não passar à história como um “judas”, mais de 2 mil anos depois ainda lembrado pela facada nas costas de Jesus, Mendanha só poderia fazer o que ele garante que não fará jamais: apoiar Caiado, com o que estaria apoiando Daniel.

É por isso que Tancredo Neves ensinou: na política, deixe sempre uma porta aberta quando se contrapor a quem considera seu inimigo. Mendanha, ao radicalizar contra Caiado, foi longe demais e ficou sem alternativas se for concretizada a chapa Caiado governador-Daniel vice, a não ser assumir a deslealdade e ser lembrado para sempre como um “judas”.

De certa forma, Mendanha já traiu Daniel, ao incentivar a divisão interna do MDB e tentar levantar o partido contra a aliança com o DEM que vai beneficiar o seu “irmão”.

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