Com baixo investimento no combate, Covid-19 avança em Aparecida de Goiânia
A pandemia da Covid-19 permanece desenfreada nos bairros de Aparecida de Goiânia. O município possui 21 setores com mais de 1.000 casos confirmados da doença. O Jardim Buriti Sereno pode ser o epicentro de contaminação do novo Coronavírus na cidade, com 3.601 casos confirmados. De acordo com o boletim epidemiológico da Prefeitura de Aparecida de Goiânia, atualizado na última quarta-feira, 4, às 17 horas, o segundo setor com maior número de casos é a Cidade Vera Cruz, com 3.188. Em terceiro lugar aparece o Jardim Tiradentes, com 2.603. Atualmente a cidade tem, ao todo, 78.591 casos do novo Coronavírus, com 1.526 óbitos. A prefeitura da cidade despreza a velocidade de transmissão da doença e não investe em ações enérgicas de combate com a população.
Professor doutor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Thiago Rangel, que integra o grupo de pesquisadores que fazem estudos de projeção da expansão da Covid-19 em Goiás, afirmou que uma série de fatores pode contribuir para que um local específico tenha uma alta nos casos da doença.
Entre elas estão a condição social do bairro, aglomerações no comércio ou em outros setores específicos e o não uso ou uso incorreto de equipamentos de proteção individual. O pesquisador destacou que o nível social do bairro também influencia na incidência de contaminação. “As pessoas de baixa renda têm o pior atendimento em saúde e a maior parte precisa pegar o transporte público para ir trabalhar.” Ele cita pesquisas feitas em outras cidades que apontam o transporte público como local de alta contaminação do novo Coronavírus.
Recentemente, a ocupação de leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em Aparecida também registrou aumento. De acordo com dados da prefeitura, atualmente a rede geral (pública e privada) está em 64%. Para o especialista em saúde, o aumento no número de internações é reflexo da flexibilização das medidas de distanciamento social. “Não é hora para aglomeração. A gente não tem vacina para todo mundo. Se a gente não tiver uma cobertura vacinal, a gente não pode liberar tudo. Precisamos ter restrição. Ainda é um momento de atenção”, afirmou o médico infectologista Marcelo Daher.
Embora o prefeito da cidade, Gustavo Mendanha (MDB), despreze a ameaça da “terceira onda” no município e não adote medidas enérgicas de combate à Covid-19, ela é real. A expressão, que é popularmente aceita para descrever o agravamento dos números após uma relativa melhora, está relacionada a diversos fatores – entre eles, o relaxamento das medidas restritivas, que permitiu o retorno de atividades sociais e comerciais, e o consequente aumento da circulação de pessoas pelas ruas. A preocupação é que essa retomada acontece num período em que os sistemas de saúde ainda estão bastante fragilizados e sem condições de dar vazão à chegada de milhares de novos pacientes.
Escalonamento regional
Em março, a Prefeitura de Aparecida adotou o modelo de zoneamento do comércio e os índices de morte e casos de Covid-19 só aumentaram. Apesar de o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 classificar o município no cenário verde (baixo risco), Aparecida permanece em situação crítica no mapa de risco da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO).
Na medida em que a Prefeitura de Aparecida autorizou a flexibilização de atividades econômicas não essenciais, casos e mortes por Covid-19, além da ocupação de leitos de UTIs, cresceram. Até hoje Mendanha insiste em afirmar que o sistema de abertura escalonada do comércio, indústria e serviços teria ajudado a estabilizar o avanço da doença, porém o que se vê desde dezembro é o aumento das mortes diárias na cidade.
Imagens mostradas em edições passadas do Diário de Aparecida nos cemitérios locais exibiram uma sequência de valas abertas para receber caixões – em dezembro, eram cerca de duas mortes por dia, índice que se manteve em janeiro; em fevereiro subiu para aproximadamente cinco mortes por dia, e em março superou oito mortes diárias. Apesar de ter baixado, em abril a média de mortes esteve em 7,4. Em julho, essa média ficou em 3,45.
Um dos fatos polêmicos em relação às falhas do isolamento social foi a autorização para o funcionamento dos motéis. E ainda as feiras livres, como a do Setor Garavelo, também autorizadas pela prefeitura, acabaram virando cenário de aglomerações, uma situação de risco, já que o índice de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) na cidade continuava aumentando. Além disso, recentemente, a prefeitura liberou o funcionamento de atividades de lazer e eventos sociais públicos, privados e corporativos.