Aparecida

Mendanha só tem duas opções: ou apoia a aliança com o DEM ou deixa o MDB

A iminência do anúncio da formalização da aliança entre o MDB e o DEM, previsto para setembro, assim que o ex-prefeito Iris Rezende, grande e principal avalista do acordo, demonstre ter superado o AVC que o acometeu, coloca o prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, contra a parede.

Mendanha embarcou na aventura de trilhar um caminho contrário à tendência majoritária, dentro do MDB, de apoiar a reeleição do governador Ronaldo Caiado e a indicação do presidente estadual do partido, Daniel Vilela. Sozinho, sem o apoio de nenhum emedebista de peso ou expressão, resolveu sair a campo para defender o lançamento de candidatura própria a governador, mesmo depois de seis eleições consecutivas, desde 1998, em que os resultados foram derrotas – inclusive dos maiores nomes da legenda, como Iris Rezende (três) e Maguito Vilela (duas).

O prefeito de Aparecida saiu pelo Estado afora, visitando os municípios atrás de apoio para a sua tese. Deu com os burros n’água. Em algumas cidades, como Jataí, sequer foi recebido pelo prefeito local (Humberto Machado), um aliado de primeira hora da família Vilela e mais ainda do presidente Daniel Vilela. Em outras, logo após a sua passagem, os prefeitos emedebistas contatados anunciaram o seu aval à reeleição de Caiado, como foi o caso de Mineiros, com Aleomar Rezende, que Mendanha acreditava ser contra a aliança com o DEM.

A peregrinação foi em vão. Agora, com as notícias de que a composição está prestes a ser anunciada pelo trio Iris-Daniel-Caiado, o prefeito aparecidense entrou em um beco sem saída. Para mostrar que é um homem de coragem e decisão, a reação correta seria deixar o MDB, mostrando que não renuncia às suas convicções. Ou então, por outro lado, ceder ao bom senso e à lealdade que deve a Daniel Vilela e anunciar que, sim, reconsiderou e vai apoiar a aliança com Caiado e a chapa com o filho e herdeiro político de Maguito Vilela na vice.

Não há outras soluções, pelo menos que possam ser definidas decentes. Ou que não venham a manchar a reputação de Mendanha e o seu esforço para se transformar em uma liderança de nível estadual, o que, apesar de dirigir o 2º município mais populoso do Estado, ele, do alto da sua imaturidade e inexperiência, ainda não é.

Mendanha poderia, por exemplo, permanecer no MDB e sabotar o acordo com Caiado cruzando os braços na eleição do ano que vem, traindo seu compromisso de fidelidade a Daniel Vilela. Ou, então, abrir uma dissidência e apoiar um candidato a governador de oposição, o que seria mais desonroso ainda. Não são alternativas a cogitar por nenhum político que se queira respeitado ou mesmo admirado, como o prefeito sonha ser um dia.

Saindo do MDB ou, se permanecer, omitindo-se quanto às suas origens e raízes políticas, caso da ligação umbilical que tem com a família Vilela, responsável pela sua 1ª vitória para a Prefeitura de Aparecida, Mendanha se coloca na beira do abismo e encara as profundezas. E se candidata a mais do mesmo no baixo clero da política estadual, renunciando aos sonhos de glória e grandeza.

 

Os três motivos que movem o prefeito

Ressentimentos pessoais
O apoio efetivo que o governador Ronaldo Caiado, um político de posições claras e objetivas, deu à candidatura de Márcia Caldas, do Avante, em Aparecida, em 2020, irritou Gustavo Mendanha, que queria ser eleito sem nenhuma oposição.

Investigações da polícia
Gustavo Mendanha atribui a perseguição política de Caiado aos inquéritos da Polícia Civil que apuram corrupção na Prefeitura de Aparecida e no hospital municipal, onde a mulher do secretário da Fazenda, André Rosa, foi flagrada autorizando exames laboratoriais a preços superfaturados.

À sombra de Daniel
A assessoria próxima de Gustavo Mendanha pressiona para que ele saia da sombra de Daniel Vilela. Dizem – e o prefeito parece acreditar – que mantendo-se fiel e leal à família Vilela, ele jamais conseguirá alçar voo na política estadual, já que tem a mesma idade do presidente estadual do MDB. Um rompimento terá que acontecer um dia e não haveria hora melhor do que agora.

Depois de seis derrotas consecutivas, partido quer caminho de volta ao poder

O prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, traiu o presidente estadual do MDB, Daniel Vilela, ao defender, inclusive com viagens aos municípios, a tese de candidatura própria do partido nas eleições do ano que vem. A posição do filho e herdeiro político de Maguito Vilela é não só diferente, como também totalmente antagônica: depois de seis derrotas consecutivas para o governo do Estado, chegou a hora de uma solução capaz de revigorar o MDB, através de uma composição com o DEM e do apoio à reeleição de Ronaldo Caiado, em troca de um lugar na chapa encabeçada pelo democrata.

Gustavo Mendanha se colocou contra tudo isso. Iris Rezende também compartilha dessa posição e é claro na defesa do apoio à reeleição de Caiado. Mas Mendanha, mesmo assim, passou a dar entrevistas e a postar intensamente nas redes sociais a favor do lançamento de um candidato emedebista a governador, tese que a maioria esmagadora dos emedebistas recusa.

O prefeito chegou a constranger Iris Rezende, lembrando com frequência que o velho cacique emedebista, hoje internado no Hospital Neurológico para tratamento do AVC que o acometeu, sempre postulou uma “presença afirmativa” e a apresentação de candidato próprio da legenda nas eleições para o governo do Estado. O que é verdade, porém já explicado por Iris: tudo tem sua hora e, no momento, o caminho para a volta ao poder passa pela aliança com Caiado em 2022 e uma vitória em 2026.

Embora bem menos do que anteriormente, Mendanha continua repetindo que é “irmão” de Daniel Vilela e que tem dever de lealdade em relação a ele. Além de Maguito, que foi responsável pela primeira eleição de Mendanha em 2016, há também o fato de que foi Daniel quem bateu o martelo pela candidatura, já que, na época, o seu pai tinha a intenção de lançar o seu secretário de Captação de Recursos, Euler Morais, para a sua sucessão. O pai de Gustavo, Léo Mendanha, ameaçou com um racha do MDB em Aparecida, criando uma crise (a divisão poderia levar à derrota nas urnas) que foi resolvida com o recuo de Maguito e a decisão de engolir Mendanha em nome da unidade do partido – no entanto, apoiado por Daniel Vilela.

 

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