Mendanha só não vai para o PSDB por medo de incorporar a rejeição
O ex-governador Marconi Perillo e o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás, Sandro Mabel, estão articulando 24 horas por dia a formação de uma chapa para enfrentar a reeleição do governador Ronaldo Caiado em 2022.
Caiado, como se sabe, é tido como favorito. O governador mantém intactos os ganhos do seu discurso anticorrupção e da rígida postura ética e moral que é a característica principal da sua biografia como homem público. Além disso, realiza um governo sem escândalos, tendo arrumado a casa e promovido um saneamento financeiro que, hoje, garante o pagamento do funcionalismo e das despesas em dia.
Pesquisas sucessivas mostram aprovação elevada para a gestão estadual. Mas não é só no seu perfil e no front administrativo que Caiado está bem. Ele faz um trabalho de formiguinha para ampliar o número de partidos que darão sustentação à sua recandidatura, com ganhos expressivos caso conquiste o apoio de legendas emblemáticas como MDB, Republicanos e PSD, dentre outras.
É contra tudo isso que Marconi e Mabel tentam se levantar. Não é fácil. No momento, eles procuram montar uma chapa de oposição que tenha o prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha; o ex-prefeito de Trindade Jânio Darrot e o ex-ministro e atual secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo, Alexandre Baldy. Como coringa, eles querem a participação do deputado federal Delegado Waldir, que poderia ocupar qualquer uma das três posições – tanto como candidato a governador, a vice ou a senador.
Na sua edição on-line, o jornal Opção avançou na revelação de mais detalhes sobre essa articulação: “Um tucano que conversou com Marconi Perillo e Sandro Mendez (conhecido como Sandro Mabel) diz que está convicto de que o ex-governador e o empresário estão montando a seguinte chapa para 2022: Gustavo Mendanha (saindo do MDB) para governador, Jânio Darrot (Patriota) na vice e o ex-ministro Alexandre Baldy (PP) para senador. Se Baldy não ficar na chapa, será escalado o deputado federal Delegado Waldir Soares (PSL) para senador. Perillo e Sandro Mendez devem disputar mandato de deputado federal.”
Há problemas imensos atrapalhando a efetivação do projeto eleitoral de Marconi e Mabel. O prefeito Gustavo Mendanha, por exemplo. Ele vacila quanto a tomar uma decisão que contraria o ritmo morno da sua carreira política, que seria deixar o MDB, renunciar ao mandato em Aparecida e assumir uma candidatura ao governo por conta desse grupo. Falta coragem. A assessores próximos, Mendanha já confidenciou que receia os efeitos negativos da ligação com políticos desgastados como Marconi e Mabel, os dois profundamente atingidos pelas denúncias de irregularidades em que sempre se viram envolvidos.
As dificuldades não param em Mendanha. Jânio Darrot é outra encrenca. Ele cometeu o erro grave de se desfiliar do PSDB e ingressar no nanico Patriota, dirigido em Goiás pelo marqueteiro e financista Jorcelino Braga. E aí a porca torce o rabo: Braga é inimigo pessoal de Marconi e não se cansa de repetir que não se senta à mesa com o ex-governador em hipótese alguma. Menos de 15 dias atrás, reafirmou essa posição em declarações à imprensa.
Os problemas continuam em relação a Baldy e ao Delegado Waldir. O primeiro quer ser candidato ao Senado, só que na chapa da reeleição de Caiado. E o segundo, idem, tanto que, nos últimos dias, voltou a frequentar eventos ao lado do governador e a fazer discursos em que se mostra receptivo a uma composição em 2022, embora ressaltando que deseja também a candidatura senatorial.
Para complicar, entre Marconi e Mabel, os dois articuladores do plano oposicionista para o ano que vem, as coisas não estão resolvidas. Eles tiveram atritos violentos no passado, em especial quando o então governador tucano denunciou Mabel como protagonista do mensalão e o acusou de ter oferecido uma mesada para que a então deputada Raquel Teixeira se alinhasse com a base do presidente Lula na Câmara Federal. Graças a Marconi, Mabel enfrentou um calvário em Brasília. Sua cassação chegou a ir ao plenário, onde não foi aprovada.
Prefeito só não vai para o PSDB por medo de incorporar a rejeição
O ex-governador Marconi Perillo, hoje uma espécie de “amigo secreto” do prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, e seu principal conselheiro político, terminou a eleição de 2018 não apenas em 5º lugar na corrida para o Senado, como também na condição de candidato majoritário mais rejeitado pelo eleitorado.
Em Goiânia e Aparecida, Marconi ficou em 6º lugar, atrás até do inexpressivo Agenor Mariano, lançado pelo MDB por falta de outro nome melhor. Na reta final da campanha, o ex-governador tucano chegou a aparecer com 43% de rejeição em pelo menos uma pesquisa. Em outras, fica inevitavelmente acima de 30%, sempre como campeão da ojeriza popular.
Ou seja: entre um terço e metade dos goianos desenvolveram um sentimento negativo tão grande pelo nome de Marconi que ele passou a ser o principal fator prejudicial daquela eleição, influindo decisivamente, por exemplo, para puxar para baixo a candidatura do governador Zé Eliton – o preposto que ele escolheu para tentar continuar mandando, na visão do eleitor comum. Em faixas específicas da população, como os formadores de opinião que exibem o curso superior no currículo, Marconi chegou a 45% cravados de rejeição.
Se não fosse essa dura realidade, o prefeito de Aparecida já teria tomado a decisão de abandonar o MDB e se filiar ao PSDB. Marconi abriu – ou melhor: arreganhou – as portas para ele. Mas o problema para Mendanha é que ele sabe que o partido e sua liderança cabeça são tóxicos a tal ponto que contaminariam irreversivelmente a imagem do prefeito aparecidense, com um detalhe: até mesmo na sua base municipal, onde é reconhecido e já teve boa aprovação. Em resumo, Mendanha simplesmente incorporaria, assim que assinasse a ficha do PSDB, os desgastes dos tucanos e, em especial, de Marconi.
Os governos do PSDB e Marconi imaginavam que seriam lembrados pela História como responsáveis por realizações como Vapt Vupt, a Renda Cidadã, a Bolsa Universitária, o Cheque Moradia e outras novidades introduzidas nas duas décadas passadas no imaginário da sociedade goiana. Mas, não. Tudo isso é passado que não volta mais, ainda mais depois da borracha que o governador Ronaldo Caiado passou sobre essas lembranças. O que acaba saltando à vista é um dos maiores descalabros financeiros e administrativos da História, algo poucas vezes visto em outros Estados, comprometendo qualquer coisa que se tenha feito de positivo. É isso que o PSDB e Marconi significam. E que iria para as costas de Mendanha.