Professores de Aparecida de Goiânia repudiam declarações de seguidora de Gustavo Mendanha
O Comando de Luta da Educação de Aparecida de Goiânia emitiu uma nota de repúdio acerca das declarações de uma mãe, apresentada durante uma live no Instagram do prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (MDB), no dia 15 de agosto, contra os profissionais da rede pública municipal. Na ocasião, a mulher, que se apresentou como Adriana, denunciou ao gestor que os professores e coordenadores não estão oferecendo suporte pedagógico aos alunos que estão em Regime de Aulas Não Presenciais. Segundo ela, os educadores compartilham as atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVAP), no entanto, não explicam o conteúdo às crianças. A prefeitura minimiza o problema e destaca que cumpre as exigências.
No vídeo, a mãe expôs ao prefeito que tanto os alunos quanto os pais estão com dificuldades para manter diálogo com os professores para elucidações de dúvidas pedagógicas. “Tanto é, Gustavo, que até o grupo [em um aplicativo de mensagens] em si, os alunos não conseguem tirar dúvidas do que está acontecendo. Eu entrei em contato com a escola e eles me disseram que não adianta ligar na Secretaria de Educação, e está feio o caso. Como que a criança vai ter no mês quatro dias de aula com explicações e os demais dias fechados, sendo que só os professores podem mandar as coisas e os alunos não tiram dúvidas? Nós, mães, é que estamos dando aula. Eu acho que os salários dos professores deveriam ser para nós e não para eles”, cobrou a mãe.
Segundo o comunicado do Comando, “essa pessoa que fez o desabafo colocou para fora, de forma equivocada, suas angústias e dores sobre o ensino remoto que também são compartilhadas pelos professores e professoras, que desde abril de 2020 têm se desdobrado para ensinar de uma forma totalmente nova. Transformando sua casa em sala de aula, abrindo sua própria privacidade para dezenas de famílias de alunos, arcando com os custos e inclusive divulgando seu número pessoal de telefone e e-mail, trabalhando muito mais que as tais 30 horas semanais para as quais somos remunerados”.
De acordo com os colaboradores da rede pública de ensino do município, a mulher foi selecionada pelo prefeito para expor-lhes ao ridículo. “Suspeitamos primeiramente de que essa pessoa, mãe de aluno da escola supracitada [Escola Municipal Guiomar Rosa de Oliveira], foi escolhida a dedo, no intuito de expor os servidores e servidoras. Uma maneira vil e cruel de perseguir a escola, que foi palco de denúncias das péssimas condições das instituições diante do retorno das aulas presenciais, inclusive de vários casos de contaminação entre os trabalhadores.”
A professora Marildes Martins, da Escola Municipal Guiomar Rosa de Oliveira, rebateu as críticas feitas pela mãe e garantiu que a equipe pedagógica municipal da unidade preza pelo respeito e compreensão com as crianças. “Temos como essencial o respeito, a compreensão e o carinho com as nossas crianças, por sua vez, com as famílias, prezamos e fazemos questão de destacar estas características. Neste período caótico, onde tivemos que adentrar a esse universo da tecnologia, tornou-se comum o uso das máquinas, do celular e, por via deles, acessar as plataformas, aplicativos, links, entre outros. Ser professora a distância, não poder receber o abraço da criança, o carinho da família, fez se necessário tornar-se íntimos das redes sociais.”
Planejamento amador
Conforme o Comando de Luta de Aparecida, foi determinação da Secretaria Municipal de Educação (SME) que as escolas recebessem presencialmente 30% das crianças por semana, divididos em grupos, por quatro dias durante 4 horas e, que às sextas-feiras, durante 2h, os professores atendessem aos alunos que estariam em ensino remoto, no rodízio ou por entender que não é o momento de retorno diante das novas variantes e a possibilidade de uma terceira onda de casos e óbitos de Covid-19.
“O prefeito demonstra desconhecer essa diretriz da Secretaria de Educação, a maior pasta pública do município, dizendo que iria conversar com o responsável pela mesma. Saindo pela tangente, como sempre faz ao ser confrontado. Não defendeu os servidores e servidoras e deixou que fosse dito que ‘os pais estão dando aula no lugar dos professores’. Será que o prefeito pensa que ‘dar aula’ é apenas explicar ou auxiliar uma criança em uma atividade? Onde fica o planejamento das aulas e das atividades? A correção, a revisão, a avaliação, o replanejamento, o lançamento no Gemul [Gestor de Município] e a alimentação da plataforma AVAP? Que também não foi inventada, nem implantada pelos professores. Tudo foi uma determinação da SME, com o aval do prefeito. Por que o prefeito não defendeu sua própria gestão da educação? Ou será que ele anda tão ocupado com lives, mídia e viagens aos municípios goianos que tem deixado de governar a cidade?”, desabafa.
Secretaria minimiza problema e afirma apenas que “cumpre as exigências”
Por meio de nota, a SME esclarece que vem cumprindo os protocolos estabelecidos para o retorno presencial e de forma escalonada, para o atendimento de até 30% de cada sala, para os alunos matriculados na unidade de ensino.
“A SME, em reuniões com os gestores para melhor atendimento, tanto de responsáveis como do corpo docente, optou pelo seguinte formato. O planejamento das aulas presenciais e remotas são feitas (sic) a partir do mesmo conteúdo. Todas as aulas são postadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVAP), com detalhes para a execução das atividades, com roteiro semanal, links para vídeos e as orientações para que os alunos possam executar as mesmas”, diz o comunicado.
De acordo com a pasta, de segunda a quinta-feira ocorrem as aulas presenciais para os grupos de alunos definidos pela direção da instituição. Nesses dias, os alunos que não fazem parte do grupo presencial e estão no rodízio executam as atividades postadas no AVAP. Na sexta-feira, as unidades de ensino estão organizando plantões de dúvidas, além de corrigir e enviar as devolutivas sobre as atividades realizadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem.
Servidores denunciam que não recebem assistência da prefeitura
O Comando explica que as instituições escolares de Aparecida de Goiânia não receberam Equipamentos de Proteção Individuais (EPI’s) para alunos e servidores. Segundo o grupo, cada um desses sujeitos providenciou seu próprio equipamento: máscara, álcool 70%, capote, faceshield, luvas, entre outros. “Da mesma maneira que, durante todo o ensino remoto, a prefeitura e a SME do município também não arcaram com nenhum custo dessa modalidade de ensino, tudo ficou a cargo de alunos e professores. A Secretaria de Educação, em 1 ano e meio de pandemia, não se preparou de maneira eficaz para receber as crianças e servidores no retorno presencial”, denuncia.
O grupo acusa o prefeito de Aparecida de não investir na Educação e nos colaboradores. “Que prefeito é esse que não sabe como a Educação de seu município funciona? Um prefeito que não pagou o piso salarial e data base, que não sabe que suas escolas estão sucateadas, que os trabalhadores da educação pagam o combustível e a internet para trabalhar e que trabalham muito mais do que são remunerados, tanto nas instituições quanto em suas casas. Onde o prefeito estava que não sabia de todas essas demandas da educação? Fazendo propaganda na TV, dizendo que em Aparecida tudo está lindo, inclusive a educação! Agora ele diz não conhecer nada?”
Os professores destacam no comunicado que a sociedade deve cobrar uma educação de qualidade para os estudantes aparecidenses, “porém devemos reconhecer que professores e famílias seguraram a educação com sangue e suor durante todo esse tempo. E que a prefeitura não fez o mínimo que deveria ter feito durante todo o tempo de fechamento das escolas. A educação está em luta, prefeito, a culpa é sua!”, exclama. (Eduardo Marques / [email protected])