Mendanha reúne o MDB municipal e anuncia que vai enfrentar Daniel
Depois de blefar duplamente, uma ao mentir sobre o apoio de 80% dos prefeitos do MDB à sua tese da candidatura própria e outra ao sugerir que um abaixo-assinado de apoio à sua candidatura estaria sendo articulado dentro do partido, logo após a visita do governador Ronaldo Caiado ao diretório estadual emedebista, o prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, mostrou as cartas que tem realmente nas mãos.
E são fraquíssimas: Mendanha, na verdade, só tem o apoio do diretório municipal do MDB em Aparecida e dos vereadores do partido, que ele reuniu na noite da última segunda-feira, 23, para um discurso dramático e para colher a “decisão” do diretório de que estará a seu lado, custe o que custar e sejam quais forem as condições.
Dos 28 prefeitos emedebistas, 27 são a favor da aliança com o DEM e o apoio à reeleição de Caiado. Nos próximos dias, deve ser divulgada uma manifestação dos pouco mais de 30 diretórios do partido pelo Estado afora, na mesma linha, assim como uma outra dos presidentes de comissões provisórias. Em suma, Daniel Vilela não terá dificuldades para deixar claro, hoje, que a maioria esmagadora do MDB quer o acordo com Caiado e o seu nome na vaga de vice da chapa governista em 2022, inclusos aí vereadores, ex-prefeitos, lideranças de peso, mas fora de cargos partidários ou não.
Trata-se de um rolo compressor que vai passar por cima de Mendanha com facilidade. O que o prefeito tem, dentro do MDB, foi mostrado na reunião do diretório aparecidense: apenas e exclusivamente o partido em nível municipal, com um detalhe constrangedor, que é a presença de quase toda a Executiva em cargos da prefeitura.
Fora de Aparecida, somente o deputado estadual Paulo Cezar Martins apareceu na reunião, e discursou entusiasmado defendendo a candidatura própria. Além dele e de Mendanha, falaram apenas o presidente do diretório municipal, Tarcísio Francisco dos Santos, aliás, assessor especial do gabinete do prefeito, com salário superior a R$ 10 mil mensais, que abriu o encontro, e os seis vereadores do MDB, mais a vereadora licenciada Valéria Pettersen.
É tradição em Aparecida: em reuniões comandadas por Mendanha, quase ninguém dá um pio. Todos ouvem atenta e respeitosamente o prefeito. Por pragmatismo, evita-se correr riscos: uma frase mal construída, uma palavra colocada em contexto errado, um deslize qualquer pode despertar a ira de Mendanha e a consequente retaliação, ou seja, o decreto de exoneração dos quadros da prefeitura.
Mendanha, portanto, afora o MDB aparecidense, como seria de se esperar, não tem mais nada, porém anunciou no encontro o que julga ser uma “bomba”: vai partir para o enfrentamento com o presidente estadual, Daniel Vilela, estando já em posse da lista de delegados à convenção estadual (cada diretório e cada comissão provisória tem no mínimo dois), que, a partir de agora, vai procurar para conversar, um a um, e tentar emplacar a proposta da candidatura própria e a recusa à aliança com o DEM.
O resultado é um só: de blefe em blefe, Mendanha vai deixando claro que não tem articulação, está isolado dentro do partido e só ficou contra o acordo do MDB com Caiado porque alimenta ressentimentos pessoais contra o governador – a quem atribui os inquéritos da Polícia Civil que investigam corrupção na prefeitura e no hospital municipal, dentre outras reclamações.
Prefeito buscará os delegados à convenção para tentar derrubar a aliança com o DEM
Ao contrário da obsessão de postar imediatamente nas redes sociais tudo o que faz, o prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, não publicou nenhuma foto ou fez qualquer comentário sobre a reunião da noite da última segunda, 23, com o diretório municipal do MDB aparecidense.
O motivo: é desmoralizante para o prefeito, dias depois da visita do governador Ronaldo Caiado ao diretório estadual para convidar o partido a integrar a sua chapa em 2022, não ter ainda recebido qualquer apoio ou solidariedade para a sua defesa da candidatura própria e ser, assim, obrigado a recorrer ao que tem no quintal de casa.
Ou seja: o MDB aparecidense, cuja Executiva está quase que 100% nomeada na prefeitura. O presidente, Francisco Tarcísio dos Santos, é assessor especial do gabinete de Mendanha. O partido, portanto, é submisso e ajoelhado diante do comando do prefeito.
Ninguém da imprensa foi comunicado da reunião. Mendanha fez um longo discurso, cujo conteúdo o Diário de Aparecida levantou, ouvindo, sob garantia de anonimato, alguns dos presentes. Ele reafirmou que não se alinhará com o apoio à reeleição de Caiado e anunciou que, agora, vai atrás dos delegados dos diretórios municipais e das comissões provisórias, que votam na convenção estadual, para arregimentar votos para derrubar a proposta de aliança com o DEM.
Fazendo drama, Mendanha balançou a lista. Não mencionou o fato de que, há pouco tempo, também percorreu os municípios para concluir que 80% dos prefeitos emedebistas seriam a favor da candidatura própria, o que foi desmentido pelo manifesto em que 27 deles assinaram, declarando apoio à reeleição de Caiado. Mendanha, o único que não subscreveu, é o 28º.
Chamou a atenção um fato: Mendanha não fez críticas nem a Caiado nem a Daniel Vilela. Em relação ao emedebista, surpreendeu ao pedir uma trégua. “Não vamos falar mal do Daniel, nem entre nós, nem lá fora”, disse, em uma estratégia que foi entendida como uma cortina de fumaça para permitir que Mendanha ganhe tempo para tentar convencer os delegados que votam na convenção emedebista.
Importante: por ora, segundo ele mesmo, Mendanha continua no MDB. Mas ficou no ar a impressão de que, se o partido se aliar a Caiado, ele poderá buscar outra sigla, até 3 de abril do ano que vem, data final para a definição partidária de quem pretende disputar as eleições do ano que vem.