Doações de Mendanha a time de futebol foram duas e superam R$ 10,5 milhões
O prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha, não doou apenas R$ 5,3 milhões, em 2020, para um time de futebol profissional, a Associação Atlética Aparecidense, conforme denúncia publicada há alguns dias pelo Diário de Aparecida, mas muito mais: em 2018, igualmente sem qualquer procedimento licitatório, ele repassou R$ 5,2 milhões para o mesmo clube, totalizando em pouco mais de dois anos R$ 10,5 milhões.
O valor seria suficiente para pavimentar, a preços de hoje, muitas das ruas dos 60 a 80 bairros de Aparecida onde os moradores ainda sofrem com a poeira na época da seca e a lama no período das chuvas. Ou então construir 4 Cmei’s, no mínimo, amenizando o déficit de vagas do município na área de Educação Infantil, hoje calculado em 7 mil crianças sem escola. Ainda, implantar com folga de caixa o Banco de Alimentos que Mendanha prometeu na campanha para o 2º mandato.
Ambos os repasses da prefeitura para a Aparecidense tiveram a mesma motivação: a desculpa esfarrapada de financiar as famosas “escolinhas de futebol” ou, em outras palavras, pagar as despesas que o clube teria oferecendo iniciação desportiva para crianças e adolescentes. Ocorre que, na prática, isso não passa de fachada: segundo jornalistas esportivos que conhecem a realidade da Aparecidense, não mais que 200 jovens, muitos de outras cidades, seriam beneficiados anualmente com esse tipo de aprendizado, a maioria esmagadora com o objetivo de se profissionalizar.
Se há um adjetivo que pode e deve ser aplicado a Mendanha é: ousado. São inúmeros os casos de prefeitos em Goiás denunciados por improbidade administrativa à Justiça pelo Ministério Público em razão de doações parecidas, porém muito menores que as que ele fez à Aparecidense. Regra geral, é proibido ao poder público entregar dinheiro do contribuinte para equipes profissionais. Isso levou o MP a processar nomes conhecidos como Adib Elias, de Catalão; Vanderlan Cardoso, quando foi gestor de Senador Canedo, e, no momento, José Alves Vieira, o Zezinho Vieira, de Goiatuba (veja detalhes desse caso na matéria abaixo).
Todos eles foram alvo do Ministério Público por doações aos times profissionais das suas cidades, mas longe dos valores que Mendanha entregou de mão beijada à Aparecidense: Adib Elias, R$ 700 mil para o Crac; Vanderlan, R$ 300 mil para a Canedense; e Zezinho Vieira, R$ 800 mil para o Goiatuba Esporte Clube. No total, menos que 20% dos mais de R$ 10 milhões que a Prefeitura de Aparecida entregou a um time de futebol profissional, em uma operação considerada ilegal pelos Tribunais de Contas do País.
Das decisões das Cortes de Contas, nota-se que a concessão de subvenções sociais a times de futebol profissionais, mesmo disfarçadas sob a contratação de serviços de “escolinhas”, é proibida e só poderia ocorrer na ausência de finalidade lucrativa e de não profissionalização da entidade beneficiada.