Como lidar, de maneira prática e efetiva, com o medo de falar em público
Existe uma anedota que diz que o segundo medo mais comum do ser humano é a morte e que o primeiro é falar em público. Não existem pesquisas que comprovam isso mas segundo o mentor e palestrante Henri Cardim, é enorme a quantidade de pessoas que assumem esse temor ou conhecem alguém que passa por esse entrave. “O medo de falar em público tem uma origem simples: nós temos medo de sermos julgados. Não importa o quanto nos preparamos antes, quando chega a hora H começa o suor, a tremedeira nas pernas, a boca seca e aquele mal-estar todo”, brinca o especialista. Administrador de empresas pós-graduado em Consultoria Organizacional e Gestão em Negociação, Henri tem MBA em Gestão Empresarial e especialização em Marketing, Estratégia e Excelência Empresarial.
Segundo ele, essa reação física causada pelo medo ocorre devido à uma descarga de adrenalina no corpo, um mecanismo de defesa primitivo que serve para fugirmos de situações de perigo. No caso de falar em público, o corpo manda correr e o cérebro sabe que precisamos ficar, por isso em apresentações desastrosas, é comum ver pessoas falando rápido demais e engolindo palavras, se atropelando para escapar daquela situação o mais rapidamente possível.
Para Henri, não adianta fugir – é preciso, sim, perder o medo de falar em público ou, pelo menos, diminuir ele para ser um orador melhor. “Falar em público não é sorte, é técnica”, explica. Por isso Henri traz um passo a passo para lidar com esse sentimento de insegurança na hora de fazer contato pessoal ou profissional com outras pessoas:
Por que alguém ouviria você?
Quando falamos para determinada audiência, temos que nos lembrar de que estas pessoas estão dividindo o tempo delas conosco, por isso, antes de mais nada, é preciso entender o motivo pelo qual elas estão fazendo isso.
Existem três tipos de audiência: a audiência cativa, que não tem outra opção a não ser estar ali ouvindo (salas de aula); a audiência espontânea, que escolhe estar ali para ouvir (palestras); e audiência formada por superiores hierárquicos, onde é você que não tem escolha a não ser falar (reunião com o chefe). Para ser um orador melhor é preciso saber para quem você está falando e saber que cada audiência exige um tom diferente de fala. “Imagine que você vai falar sobre um mesmo assunto para duas escolas diferentes: uma é um colégio público em uma área empobrecida da cidade e a outra é o colégio particular mais caro da região. O público parece igual nas duas escolas, ou seja, adolescentes em idade escolar, mas como as escolas são extremamente diferentes, os alunos também serão e você precisa falar para cada grupo do jeito que eles entendam melhor”, exemplifica Henri.
Quando se fala em público, se fala para o público, por isso a fala precisa ser útil, necessária e de fácil compreensão.
Conte uma história
Uma história bem contada prende o interesse e captura a atenção de quem a ouve e, hoje em dia, todos os grandes especialistas em palestras concordam que utilizar o storytelling, ou seja, contar uma história durante a palestra, é um ótimo recurso para conseguir conexão com a audiência. “Toda boa história tem começo, meio e fim, e quando ela faz parte de uma palestra, ela precisa ter relação com o assunto principal para não ficar sem pé e nem cabeça. Uma história é um sanduíche e os ingredientes precisam combinar”, lembra Henri.
Qual o objetivo da sua fala?
Uma palestra ou qualquer fala para uma audiência precisa ter um dos três grandes objetivos: entretenimento, informação ou inspiração. Você só precisa saber qual é o seu para não errar o tom.
Se o objetivo da fala for entretenimento, você até pode trazer informação e inspiração, mas é preciso lembrar que este não é o foco. Se o objetivo for informação, o entretenimento e a inspiração podem fazer parte, usando o humor e contando uma história, mas o foco é a informação.
E se o objetivo for inspiração, o entretenimento e a informação podem até dar apoio, mas o ponto principal deve ser inspirar a audiência, muitas vezes, usando uma história.
Aqui a dica do especialista é avaliar a fala, definir um objetivo e não desviar dele. “É melhor ser bom em um estilo só do que medíocre em todos”, afirma.
Vamos à parte prática: como se preparar e preparar o local da fala? Por onde começar?
– para lidar com a sensação comum de sentir a boca seca, a dica é ter uma bala na boca e um copo de água por perto
– para diminuir a sensação de exposição, use um púlpito ou um microfone montado em um pedestal, pois por ficarem entre você e a audiência, eles passam a sensação de proteção
– visite o local da fala com antecedência e confira o funcionamento de todos os equipamentos
– em apresentações de apoio feitas no computador, use poucas palavras e muitas imagens simples, provocativas e relacionadas ao tema (lembre-se que todo texto deve ser preto em fundo branco com letras grandes e sem floreios)
– para testar o som do ambiente, se sente na última cadeira da sala e peça para alguém usar o microfone
Henri levanta, ainda, algumas dicas para o momento da apresentação:
Mãos: durante a apresentação, não mantenha as mãos no bolso e nem para trás, pois isso pode mostrar insegurança. As mãos, quando ficam soltas ao lado do corpo, se mexem sem você perceber, e levam movimento ao que você fala.
Microfone: o pedestal é mais seguro, mas se você preferir segurar o microfone, encoste ele no queixo.
Movimento: você precisa se mexer para não parecer um robô, porém, não
ande demais ou vai distrair a audiência.
Olhar: o ideal é olhar para todos, mas se não conseguir, foque o olhar em alguém que esteja sorrindo e concordando com você para ter mais confiança.
Texto: leia o mínimo possível.
Para finalizar, Henri destaca alguns cuidados a serem tomados no caso de apresentações virtuais. “De maneira diferente do presencial, aqui quem fala é responsável pelo cenário, portanto, é importante saber que o ideal é um fundo neutro para não desviar a atenção dos ouvintes. A iluminação e o som também precisam estar funcionando da maneira correta, assim como sua imagem precisa estar nítida. E o fator mais importante de todos é a conexão. Se ela for ruim, todo o resto desanda”.