Aparecida

Com mutirão agitando Aparecida e chegada da Ômicron, Mendanha passa quatro dias ausente

Gestão do município segue abandonada, com a prefeitura paralisada e problemas se multiplicando com o agravamento da pandemia e as chuvas que afetam a infraestrutura urbana

Da Redação

O prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha ausentou-se de Aparecida desde quinta-feira, 9, até domingo, 12, viajando para municípios longínquos para participar de reuniões políticas e cumprindo compromissos em Goiânia – tudo dentro da sua pré-campanha ao governo do Estado, que levou o presidente estadual do MDB Daniel Vilela a criticá-lo dizendo que “só pensa em eleições e não em administração”.

Dos quatro dias em que Mendanha esteve fora do município, dois foram úteis, isto é, dias em que deveria dar expediente normal na prefeitura ou então inspecionar a cidade, cujas ruas e avenidas sofrem com o avanço da estação chuvosa, com a proliferação do mato e disseminação de estragos na infraestrutura urbana, como os buracos no asfalto e as erosões nos bairros ainda não pavimentados.

Apenas no sábado, e rapidamente, o prefeito foi visto em Aparecida, em um evento da primeira-dama e secretária de Assistência Social Mayara Mendanha para a distribuição de cestas básicas. No mesmo dia, deslocou-se para Goiânia para assistir a um jogo de futebol, no Centro de Excelência da avenida Enquanto isso, no mesmo período, ocorriam em Aparecida dois eventos que demandavam a presença intensiva de Mendanha: o Mutirão Iris Rezende, que levou serviços do governo do Estado aos moradores da região do bairro Independência, um megaevento que fez 80 mil atendimentos, e a explosão da variante Ômicron da Covid-19, com dois casos descobertos entre os aparecidenses (um casal de missionários que retornou da África na semana passada).

De quinta, 9, a domingo, 12, Mendanha foi a pelo menos 10 municípios, desde São João D’Aliança e Posse, no nordeste goiano, até Ceres, na região do Vale do São Patrício. Em nenhum teve compromisso de interesse para a população de Aparecida ou relacionados com o cargo de prefeito municipal. Ele gastou o tempo com reuniões em garagens de residências e homenagens arranjadas em duas ou três Câmaras Municipais, em que recebeu títulos de cidadania honorária e “moções de aplauso”, em uma estratégia plantada para mostrar reconhecimento estadual.

Nesses quatro dias longe de Aparecida, Mendanha não foi recebido por nenhum prefeito nem esteve com nenhuma liderança de expressão, a não ser a deputada federal Magda Mofatto e os deputados estaduais Humberto Teófilo e Cláudio Meirelles, que o acompanharam e dizem apoiar a sua pré-candidatura (Mendanha viajou no helicóptero de propriedade da deputada Magda Mofatto).

A “agenda” desses quatro dias de ausência de Aparecida é um bom exemplo das dificuldades que a pré-campanha de Mendanha vem enfrentando. Ele só tem até agora o respaldo de dois partidos nanicos, o PTC e a DC. Legendas de porte como o próprio PL de Magda Mofatto ou o Podemos fecharam as portas para o prefeito em razão de fatores nacionais, como a filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL e a candidatura presidencial do ex-juiz Sérgio Moro pelo Podemos.

O resultado é que a fragilidade política de Mendanha chama cada vez mais atenção. Para piorar as coisas, ele abandonou a administração de Aparecida, entregue aos seus secretários. Mas esses, sem poder de decisão, já que tudo no município está concentrado nas mãos do prefeito, nada podem fazer. A prefeitura parou. Até serviços banais, como a poda do matagal que cresce sem controle nos lotes baldios, deixaram de ser oferecidos para a população, como atestam as seguidas reportagens publicadas pelo Diário de Aparecida.

Dos cinco deputados que apoiavam Mendanha, um desistiu e quatro estão cobrando contrapartida

A pré-campanha do prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, que meteu na cabeça a ideia de se transformar em liderança estadual candidatando-se ao governo do Estado, está vivendo uma espiral crescente de complicações.

Sem partidos políticos (até agora só duas legendas nanicas integram-se ao projeto de Mendanha, o PTC e a DC) e sem o envolvimento de nomes de peso, o prefeito aparecidense computa apenas cinco deputados ao seu lado – a federal Magda Mofatto, do PL, e os estaduais Paulo Cezar Martins (MDB), Humberto Teófilo (PSL), Cláudio Meirelles (PTC) e Major Araújo (PSL). Por coincidência, todos insatisfeitos com o governador Ronaldo Caiado, que não cedeu às exigências de cada um para cargos e benefícios no governo do Estado.

Mas, dos cinco deputados, um já desistiu: é o Major Araújo, que não é visto mais com Mendanha. E os restantes, com exceção de Cláudio Meirelles, aguardam uma resposta do prefeito quanto a contrapartidas a favor das suas campanhas (Paulo Cézar é candidato à reeleição para a Assembleia e Teófilo a deputado federal, enquanto Meirelles nunca manifestou interesse em entrar em Aparecida). Magda Mofatto tem uma agenda prometida por Mendanha em Aparecida, em que ela seria apresentada a possíveis apoiadores indicados pelo prefeito. Que, por ora, não foi marcada ainda.

Em política, não existe almoço grátis. Esses parlamentares, com exceção de Major Araújo, que cansou de esperar algum benefício eleitoral na base de Mendanha, sabem que são os únicos apoiadores da pré-candidatura do prefeito e que são eles que estão proporcionando o pouco de mobilização que ainda existe, como as reuniões nos municípios, mesmo com pouca ou nenhuma participação popular, servindo, no entanto, para fotos que Mendanha posta nas suas redes sociais tentando demonstrar movimento.

Todos, portanto, aguardam retorno. Em palavras diretas, isso significa votos, que eles acreditam que Mendanha, em Aparecida, com seus mais de 300 mil eleitores, tem à vontade. O problema é que, para manter a sua base unida no município, ele já tem compromissos com candidaturas locais, como a do seu secretário de Desenvolvimento Urbano Max Menezes ou com a do deputado federal Prof. Alcides, hoje principal fonte de recursos do orçamento da União para Aparecida. Nesse contexto, pegaria mal trazer gente de fora para cabalar votos dos aparecidenses.

Esse é mais um dos desafios para os quais Mendanha precisa bolar uma resposta urgente.

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