Mendanha tentou esconder viagem de dois dias a SP, em dias úteis, cumprindo agenda política
Para piorar as coisas, Secom nega-se a esclarecer se as despesas com passagens, hotel e alimentação foram feitas com recursos do município
O prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha tentou esconder uma viagem de dois dias a São Paulo para contatos com dirigentes partidários, na semana passada, em dias úteis, ou seja, quando deveria estar dando expediente administrativo.
Na terça, 14, e na quarta, 15, Mendanha estava na capital paulista, acompanhado pelo secretário municipal de Fazenda André Rosa e, nesse caso sem confirmação, pelo secretário municipal de governo Fábio Passaglia. Os dois, além de integrar a equipe de auxiliares, são também articuladores e orientadores políticos do prefeito.
Ao contrário do que faz habitualmente, quando posta nos seus perfis nas redes sociais até as suas idas ao banheiro, Mendanha não mencionou a viagem nas suas contas no Instagram e no Facebook, as que mais utiliza. O portal de notícias da prefeitura também não publicou uma linha sobre o deslocamento a São Paulo.
Na semana anterior, da mesma forma, Mendanha matou dois dias de expediente, na quinta, 9, e na sexta, 10, circulando por municípios do Nordeste goiano exclusivamente para atividades políticas, participando de reuniões com apoiadores em garagens de residências e recebendo homenagens arranjadas em Câmaras de Vereadores da região.
Não há como alegar cuidado com os interesses da população de Aparecida nessas viagens, cujas despesas a Secretaria municipal de Educação recusa-se a esclarecer, apesar dos questionamentos encaminhados pelo Diário de Aparecida e outros veículos de imprensa, através também da Lei de Acesso à Informação – uma lei federal que a prefeitura está sistematicamente desrespeitando.
Em São Paulo, segundo o blog de notícias aparecidense Folha Z, Mendanha se reuniu com a deputada federal Renata Abreu, presidente nacional do Podemos; com o ex-ministro Henrique Meirelles, do PSD, atual secretário de Finanças do governo João Dória; e com o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que está se transferindo para o PL, acompanhando o pai, o presidente Jair Bolsonaro.
O prefeito não publicou nenhuma foto ou registro desses encontros. Ao voltar, deu uma entrevista coletiva à imprensa, mas fugiu das perguntas a respeito da viagem a São Paulo, tratando apenas de temas administrativos.
Em pré-campanha para o governo do Estado, Mendanha praticamente abandonou a administração de Aparecida. Há 15 dias, em uma entrevista ao jornal O Popular, foi perguntado sobre viagens para finalidades políticas em horário de expediente. Como resposta, mentiu, dizendo textualmente que só atende a compromissos dessa natureza “nos finais de semana e à noite”, o que é uma inverdade facilmente comprovada por uma visita às suas próprias mídias sociais.
A suposta agenda de Mendanha em São Paulo mostra que ele está desesperado atrás de um partido ao qual se filiar para sustentar a sua candidatura a governador: os três contatos que desenvolveu na capital paulista – com o Podemos, com Henrique Meirelles e com o bolsonarismo – não têm conexões entre si e são até antagônicos, caso do Podemos, que banca a candidatura presidencial do ex-juiz Sérgio Moro, adversário do presidente Jair Bolsonaro.
Mas o que chama atenção é que o prefeito nada postou nas suas redes sociais, ao contrário do que faz várias vezes por dia, documentando cada passo com registros em áudio, foto e vídeo. Nem a Secom divulgou qualquer dado a respeito. Dessa vez, ele escondeu, para evitar produzir provas contra si mesmo, diante da indiscutível imoralidade de matar o expediente para fazer política partidária, tratar de eleições e possivelmente pendurar a conta nos cofres de Aparecida.
Secretário de Comunicação Oséas Laurentino recusa-se a prestar informações obrigatórias segundo uma lei federal
Viagens do prefeito são dispendiosas, mas quem está bancando as despesas?
A agenda de viagens do prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, que, ele mesmo informa, já ultrapassou 100 municípios neste ano e incluiu também passeios por outros Estados, como o Distrito Federal e, agora, São Paulo, não custa barato.
Nos deslocamentos, Mendanha tanto vai de carro quanto de avião. Mais recentemente, tem sido visto no helicóptero da deputada federal Magda Mofatto, porém costuma descer a uma certa distância dos locais das reuniões marcadas e chega de carro, para evitar desgastes. Para São Paulo, aonde foi na semana passada para se encontrar com políticos para tratar de eleições, acompanhado por assessores, pelo menos R$ 10 mil reais devem ter sido torrados.
Isso porque viagens significam gastos com passagens aéreas, hotéis, refeições, combustível, veículos e assessores – Mendanha, por exemplo, não vai a lugar nenhum sem levar a sua equipe de filmagem e de redes sociais. Tudo isso custa dinheiro – e muito.
Como não é sequer filiado a um partido político, que poderia pagar essas despesas, a pergunta a seguir é muito pertinente, em se tratando de um homem público, que ocupa um cargo importante e tem dever de transparência diante da sociedade: quem está se responsabilizando pela conta?
O fato do secretário de Comunicação da prefeitura de Aparecida, Oséas Laurentino, se negar a dar informações sobre as o lado financeiro das viagens do prefeito, cometendo improbidade administrativa, cria uma suspeita: recursos públicos estariam sendo usado, desde dinheiro vivo (dado aos volumosos adiantamentos a assessores do gabinete do prefeito, sobre os quais a Secom também recusa esclarecimentos) até veículos, combustível, motoristas, assessores e dispêndios como passagens aéreas e hotéis.
O Ministério Público Estadual, que inclusive faz no momento uma campanha de divulgação incentivando a população a fiscalizar os gastos dos prefeitos de municípios goianos, não se mexe para clarear essas dúvidas. Se as viagens de Mendanha são custeadas pelo erário aparecidense, há clara ocorrência de improbidade administrativa, já que os objetivos são descaradamente políticos, em horário de expediente e fartamente documentados nas redes sociais do próprio Mendanha.