PSDB e Marconi continuam nas cordas, sem qualquer futuro na política goiana
Após as derrotas de 2018 e 2020 e sem nomes competitivos para governador e senador, tucanos terão dificuldades até para formar chapas às eleições proporcionais (deputado federal e estadual)
Helton Lenine
Após ocupar o palco principal do poder em Goiás por 20 anos, o PSDB goiano luta desesperadamente para superar as derrotas de 2018 e 2020 e tentar se recolocar politicamente. Sem nome competitivo para governador e senador, os tucanos estaduais encontram dificuldades para formar chapas às eleições proporcionais (deputado federal e deputado estadual).
Ano passado, o PSDB elegeu apenas 20 prefeitos em um universo de 246. Parte deles já migrou para o DEM do governador Ronaldo Caiado. O único deputado federal da legenda – Célio Silveira – anunciou que vai deixar o ninho tucano para ingressar em um partido da base governista, provavelmente o MDB.
Dos seis deputados estaduais eleitos pelo PSDB em 2018, dois se desfiliaram – Diego Sorgatto, que se elegeu prefeito de Luziânia e Tião Caroço. Novo baque: os deputados Talles Barreto e Francisco de Oliveira (que se efetivou com a renúncia de Sorgatto) aderiram à base aliada do governo Caiado e prometem deixar o PSDB em abril, na janela partidária.
O ex-governador Marconi Perillo, após três anos vivendo em São Paulo, retornou a Goiás para trabalhar pela “recuperação” do PSDB. Tem participado de encontros regionais, que atraem pouco público. Aos companheiros, Perillo admite disputar o governo de Goiás e até mesmo vaga ao Senado. Ninguém acredita: o mais provável é que concorra à Câmara Federal, cargo que já ocupou na década de 1990.
O ex-governador José Eliton, a segunda maior liderança do PSDB goiano, está fora de combate: não vai disputar as eleições em 2022. Eliton não aparece bem em nenhuma pesquisa eleitoral para cargos majoritários. No início do ano, o PSDB teve uma surpresa negativa: Jânio Darrot, presidente da executiva estadual do partido, anunciou renúncia ao cargo.
O ex-prefeito de Trindade anunciou filiação ao Patriota, presidido em Goiás por um desafeto de Marconi Perillo – ex-secretário da Fazenda Jorcelino Braga –, e admitiu disputar a sucessão estadual. Além de Marconi Perillo, são citados como prováveis candidatos à Câmara Federal, ano que vem, os atuais deputados estaduais Helio de Sousa, Giuseppe Vecci e Lêda Borges, o que é muito pouco para se assegurar quociente eleitoral para conquistar uma ou duas cadeiras.
Mendanha rejeitou proximidade com os tucanos para fugir dos desgastes
Mesmo sem partido desde que se desfiliou do MDB, até o prefeito de Aparecida de Goiânia Gustavo Mendanha dispensou o convite do PSDB para disputar o governo de Goiás pelo partido. A aliados, Mendanha diz que não pretende ingressar em uma legenda que acumula desgastes desde 2018 quando obteve derrotas humilhantes para governador (José Eliton) e para senador (Marconi Perillo). Até sobre uma eventual candidatura a vice-governador em sua chapa, Gustavo Mendanha desconversa quando é apresentada a proposta de o PSDB indicar um nome. O prefeito de Aparecida cogita convidar o ex-prefeito de Trindade Jânio Darrot, atual pré-candidato a governador, para figurar como vice em sua chapa. Para agravar ainda mais a imagem do tucanato goiano, o governador Ronaldo Caiado, que vai concorrer à reeleição em 2022, não dá trégua ao partido de Perillo e Eliton, insistindo no discurso de que assumiu o governo de Goiás em janeiro de 2019 recebendo uma herança maldita, além de em ambiente de malversação do dinheiro público diante dos escândalos de corrupção da administração anterior. “Só estancando a corrupção é que se consegue fazer muito em favor dos goianos”, apregoa Caiado, em estocadas frequentes aos tucanos.
José Eliton: divergindo da orientação da Marconi e dando sinais de que se desfiliará do PSDB
O PSDB goiano não se entendeu sequer na escolha do candidato do partido à presidência da República, através das prévias realizadas em novembro. De um lado, Marconi Perillo e seus aliados votaram em João Doria; de outro, José Eliton e companheiros apoiaram Eduardo Leite. Eliton é o presidente licenciado do PSDB goiano e Perillo ocupa interinamente o cargo.g
José Eliton, em mensagem no Twitter, ao lamentar a desfiliação do ex-governador Geraldo Alckmin, criticou o PSDB nacional: “É hora de o partido reavaliar suas posições e dubiedades, de reencontrar com os valores e conceitos da Social-Democracia que formavam a base a base ideológica de sua fundação, sob pena de perda, não só de quadros, mas, principalmente, de sua identidade.”
Sobre o ex-governador Geraldo Alckmin, que deixa o PSDB por divergências com o governador de São Paulo, João Doria, pré-candidato do partido à presidência da República, José Eliton escreveu no Twitter: “A desfiliação do ex-governador Geraldo Alckmin – um dos quadros mais qualificados da política nacional – é uma grande perda para o PSDB. Desejo ao ex-governador muito sucesso em seus novos desafios.”
Ainda sobre Alckmin. Eliton completou: “Que o seu novo ciclo, seja ele qual for, possa contribuir com a construção de um país democrático, harmônico, reconciliado, com temperança, tolerância, competência e ética”. Com apenas 4% de intenções de votos para a presidência da República, segundo o instituto Datafolha, o governador João Doria fará campanha em Goiás, ano que vem, com um PSDB fragilizado e dividido.
O principal cabo eleitoral de Doria será o ex-governador Marconi Perillo, mas, como se vê, José Eliton e companheiros devem apoiar outro nome ao Palácio do Planalto, abrindo uma dissidência interna no ninho tucano goiano. Dificilmente João Doria conseguirá ampliar seus espaços em Goiás e no País, quando três nomes aparecem nos primeiros lugares na corrida à presidência da República: Lula (PT), com 48%, Jair Bolsonaro (PL), 22% e Sergio Moro (Podemos), 9%, segundo o Datafolha. Por isso, o desafio do PSDB de Goiás é buscar alternativas que evitem a repetição do cenário eleitoral de 2018 e 2020, quando o desempenho dos tucanos nas urnas foi desastroso e humilhante. (H.L.)