Major Vitor Hugo trabalhou contra Goiás, mas Bolsonaro… não o ouviu
Deputado federal do PSL tentou induzir o presidente da República em erro, retardando a assinatura da adesão de Goiás ao RRF, mas prevaleceu o bom senso
Helton Lenine
Pouco conhecido no Estado, exatamente por não ser goiano nem conviver com a realidade goiana, o deputado federal Major Vitor Hugo (PSL) deixou de ser republicano e tentou dificultar a adesão de Goiás ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). “Seria o momento de ser conhecido como alguém que joga a favor do Estado. Deveria ajudar Goiás, se sonha com outro mandato pelo Estado ou se deseja permanecer de consciência limpa na memória do povo goiano”, escreveu Ulisses Aesse, na coluna Café da Manhã, do jornal Diário da Manhã.
Para o jornalista do DM, não é errado pedir transparência ou debater o assunto, como fez o deputado – inclusive é necessário. “Mas não podemos, os goianos, suspeitar que existam interesses políticos nesta tentativa de impedir a adesão de Goiás”. Pré-candidato ao governo, Vitor Hugo não debateu a adesão à RRF quando houve a proposta, em 2019. Ele sabe que a não adesão pode representar o bloqueio do caixa e interrupções e atrasos de pagamentos de servidores e fornecedores.
Remédio anti-falência, o RRF para Goiás já foi aprovado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela Alego. O ministro Paulo Guedes parabenizou o governador Ronaldo Caiado pela aprovação técnica junto aos servidores do Ministério da Economia. Só falta a assinatura do presidente Jair Bolsonaro, que virá nesta sexta-feira, 24. “A política precisa ser jogada no campo da política. O caso do RRF é tema de direito administrativo e financeiro. Aí não deve ser política pela política. Todas as instâncias técnicas já aprovaram a medida”, completa Ulisses Aesse.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou agenda, nesta sexta-feira, 24, no Palácio Alvorada, em Brasília, com a presença do governador Ronaldo Caiado (DEM), senadores e deputados federais, para a assinatura da adesão de Goiás ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), já com aval da Secretaria do Tesouro Nacional e do Ministério da Economia.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, telefonou ao governador Ronaldo Caiado, semana passada, para cumprimentar o Estado de Goiás por ter feito o “dever de casa” no controle das finanças públicas, cortes de despesas e mantido em dia as suas obrigações financeiras com o funcionalismo, fornecedores e prestadores de serviços.
Deputado não é de Goiás e teve baixíssima votação em 2018
Mesmo eleito para a Câmara Federal com baixa votação – teve 31.190 votos -, na rabeira do campeão de votos do PSL goiano, Delegado Waldir Soares, o Major Vitor Hugo tentou convencer o presidente Jair Bolsonaro, agora filiado ao PL, a apoiá-lo para a disputa ao governo de Goiás. Intempestivo, Vitor Hugo saiu atacando a deputada federal Magda Mofatto e o presidente estadual do PL, Flávio Canedo, sem sequer ser filiado ao partido. Mofatto e Canedo são “bolsonaristas” tanto quanto ele. Obcecado em projetar seu nome para a corrida ao Palácio das Esmeraldas, o deputado constrangeu Jair Bolsonaro e ao PL, com críticas ao prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, que busca apoio dos liberais e do presidente ao seu projeto de disputar o governo de Goiás. Um deputado federal goiano foi claro: Vitor Hugo não tem capilaridade eleitoral para concorrer a uma eleição majoritária (governador ou senador) em Goiás. Natural da Bahia e com formação militar e profissional no Rio de Janeiro e Brasília, Vitor Hugo desceu de “paraquedas” no entorno do Distrito Federal para disputar mandato à Câmara Federal, em 2018. A previsão é a de que, em 2022, ele vai concorrer à reeleição, quem sabe pelo PL se vier a se entender com o casal Magda Mofatto/Flávio Canedo, “mandachuvas” do partido em Goiás.
Ernesto Roller: “Deputado nada sabe da realidade de Goiás e dos goianos”
Sustentando o desejo de ser candidato ao governo do Estado, o deputado federal Major Vitor Hugo (PSL) pegou carona na última live do presidente Jair Bolsonaro (PL) para criticar a adesão de Goiás ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). As falas do parlamentar destoaram dos seus colegas no Congresso, que têm trabalhado para agilizar o processo de inclusão do Estado no programa.
O posicionamento do bolsonarista desagradou, gerou tensão na classe política e foi classificado como “pobreza de espírito”, pelo secretário estadual de Governo, Ernesto Roller. “Ele (major Vitor Hugo) tem limitação de conhecimento técnico e não teve curiosidade de aprender”, afirmou Roller.
Durante a live de Jair Bolsonaro de quinta-feira, 16, o presidente afirmou que iria esperar mais um pouco mais para assinar a autorização do ingresso de Goiás ao RRF, e encontrou apoio do deputado goiano – que é tido como próximo do presidente. A posição do deputado federal pegou mal entre a bancada do Estado no Congresso.
Isso porque todos os demais representantes do Estado no Congresso apoiam a adesão ao RRF e buscam interlocução com a União para concretizar a renegociação das dívidas. Na avaliação de Ernesto Roller, a fala de Major Vitor Hugo revela desconhecimento da real situação fiscal do Estado e por que é necessária a adesão ao RRF.
O secretário de Governo, explica que o RRF fornece dois instrumentos vitais para o reequilíbrio das contas: a suspensão da dívida pública, dando fôlego ao Estado enquanto as medidas de ajuste implementadas trazem os resultados, e a reestruturação da dívida em condições melhores de taxas de juros e prazos.
Segundo o secretário, o desequilíbrio fiscal de Goiás vem desde 2010, com despesas continuamente superiores às receitas. Tanto é assim que o estoque de restos a pagar em cada ano chegou a R$ 3 bilhões desde 2015 e a folha salarial dos servidores públicos não pôde ser paga em 2018. Essa situação, segundo Ernesto Roller, demonstra que Major Vitor Hugo desconhece o assunto, ao fazer um paralelo entre as medidas de distanciamento social (ocorrido entre 2020 e 2021) com a situação fiscal do Estado, que resulta na necessidade do ingresso ao RRF.
“O espírito que está movendo o Major Vitor Hugo não é o espírito público, não é o de goianidade e não é o de amor por Goiás. É o espírito de porco”, dispara. Ernesto Roller ainda faz um alerta, que a necessidade do Estado em ingressar no RRF não pode ser utilizada por Major Vitor Hugo como uma manobra para apoios políticos em 2022. “Essa é a política daqueles que trabalham para dificultar a vida de um governante, movido pelo sonho de ser candidato ao governo de Goiás. Não sei quem que botou esse sonho na cabeça, mas ele não se reelege nem para deputado federal, e vem falar em ser governador”, opina o secretário. (H.L.)