Falta de iluminação põe em risco quem passa pela BR-153, em Aparecida de Goiânia
Problema afeta segurança de moradores e trafegabilidade de motoristas que circulam pela via
Eduardo Marques
Motoristas, pedestres e moradores reclamam da falta de manutenção na iluminação pública do perímetro urbano da BR-153, em Aparecida de Goiânia. Durante a noite, apenas os faróis dos carros iluminam a estrada. Há uma semana, na edição do dia 29 de dezembro de 2021, o Diário de Aparecida publicou uma reportagem onde a Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO) apontava que a possível causa sobre o acidente com um ônibus de viagem, que acabou com a vida de seis pessoas e deixou outras dezenas de feridos às vésperas do Natal do ano passado, no Km 508, pode estar ligada ao problema.
O DA retornou ao local na noite da última segunda-feira, 3, e percorreu a rodovia, entre a região dos motéis até a altura de uma indústria de biscoitos, e verificou que nada foi feito para atender aos anseios da população. Em março de 2021, Pedro Salles, presidente da Agência Goiana de Infraestrutura e Transporte (Goinfra), notificou o município, dando 90 dias de prazo para que ele assumisse plenamente o serviço.
Quem transita pela rodovia durante a noite encontra quase tudo às escuras. A estrada é iluminada pelos faróis dos carros que clareiam a via. É preciso muita atenção, sem falar no risco de ser assaltado. “A iluminação em geral já é precária, o tráfego é intenso e as árvores deixam o lugar mais escuro. Agora, se os postes não são acesos a situação fica ainda mais complicada”, observa o condutor Márcio Pinheiro, de 33 anos.
De acordo com pessoas que transitam pela rodovia, a maioria dos postes em quase toda a extensão da via está sem funcionar. Com o serviço de iluminação precário, o tráfego de veículos que é intenso na região também fica confuso. Os pedestres explicam que é difícil atravessar nas passarelas de um lado para o outro, já que a segurança no local também é precária. “É muito escuro por aqui. Depois das 19 horas quase ninguém gosta de arriscar a vida para atravessar a BR-153. Esses dias mesmo eu fui assaltada por um cara lá em cima. Se estivesse iluminada, eu teria visto ele antes de subir”, disse um funcionário de uma fábrica às margens da rodovia, que não quis se identificar.
Os comerciantes que têm estabelecimentos citam outros transtornos que aparecem com a falta de iluminação. “A gente precisa da iluminação porque tem muita prostituição e muitos menores traficando”, relata um comerciante, que preferiu não se identificar por medo de represálias. A população afirma que está cansada de ficar no escuro e de não obter solução por parte da administração pública. “Nós pagamos pela iluminação pública, vem no nosso talão. A Prefeitura de Aparecida de Goiânia fica fazendo propaganda de ‘cidade inteligente’ para todo canto, mas o básico, que é iluminação pública de qualidade, ela não oferece e nós ficamos na mão”, indigna-se o morador Roberto Araújo, de 25 anos.
Rosaílson de Moura Júnior, de 19 anos, mora no Setor Nossa Senhora de Lourdes, às margens da BR-153, e reclama da falta de manutenção nos postes de luz do local. “Aqui é costume faltar energia, sim, pois as lâmpadas ficam sem manutenção”, afirma. As condições precárias da iluminação pública neste trecho também afetam o pedreiro Wilson Pereira Fernandes, de 29 anos, que precisa passar todos os dias de bicicleta pela rodovia. “Aqui é escuro demais. Tem poste que está caindo e eles não ajeitam. É perigoso acontecer um acidente. Essa BR-153 é muito perigosa”, diz.
Período chuvoso
Ivan Almeida, de 23 anos, morador do Jardim Eldorado, no município, utiliza moto e carro para se locomover na Região e reclama da falta de iluminação no trecho da rodovia por onde passa. “A via tem muitos buracos. Em tempo de chuva, os riscos de sofrer acidentes aumentam demais. A água tampa os buracos e sem iluminação suficiente é quase impossível enxergar”, lamenta.
Para Ivan, a melhor forma de evitar possíveis acidentes é diminuindo a velocidade. “É meio complicado porque, muitas vezes, eu preciso reduzir e ficar encostado no meio fio. À noite é o momento em que várias pessoas voltam para casa e isso pode aumentar ainda mais os riscos de mortes”, argumenta.
Reduzir a velocidade também foi a alternativa encontrada por Júlio Cesar, de 20 anos, morador do Setor Vila Maria, em Aparecida de Goiânia. Ele também transita pela rodovia todos os dias. No momento em que o cozinheiro vai ao trabalho, em Goiânia, apesar dos buracos, não encontra muitas dificuldades, já que o sol está aberto. Mas, quando volta do serviço para casa, ele precisa ficar atento ao passar pelas ruas sem iluminação.
O DA entrou em contato, por e-mail, com a Secretaria de Comunicação (Secom) da Prefeitura de Aparecida de Goiânia para saber o plano de restauro da iluminação pública no perímetro urbano da BR-153, porém, até o fechamento desta edição, ela não havia respondido aos questionamentos da reportagem. Em cumprimento às leis vigentes neste País, o espaço segue aberto para novas declarações.
Iluminação é essencial para segurança em rodovias, sobretudo as de maiores movimento
O fator de iluminação é absoluto para garantir a segurança nas estradas. Perdas de visibilidade pela metade, noção de espaço desorientada e aumento natural do sono são determinantes que transformam o período noturno perigoso para motoristas. Outro agravante na direção noturna é o fenômeno natural lusco-fusco que consiste na transição entre o período diurno e noturno que atrapalha a visão porque ela demora a se adaptar à mudança de luminosidade.
Segundo o diretor de comunicação da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior, a visão periférica fica reduzida, tubular e borrada à noite. “Não conseguimos dimensionar espaços, distâncias e velocidade com a mesma exatidão que temos de dia. O sono vem naturalmente, sentimos a fadiga do desgaste diário e tendemos a relaxar e perder atenção”, explica.
De acordo com a especialista em psicologia do trânsito, Salete Romero, a maior parte das ocorrências de acidentes acontece em rodovias em boas condições. A combinação de asfalto liso e estradas vazias à noite ou de madrugada resultam no aumento de velocidade dos veículos que reduz a visibilidade e torna o cenário mais propício a acidentes. Se a via estiver sem iluminação, a condição fica ainda mais comprometida.
Especialistas e representantes dos órgãos de trânsito em todo País possuem uma opinião consensual: prudência e atenção devem ser os principais fatores para evitar acidentes à noite. Segundo o professor de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Gilberto dos Passos Aguiar, pesquisas apontam que o maior número de acidentes ocorre nas cidades, porém os acidentes fatais se dão nas autoestradas e no período noturno, com apenas 25% do tráfego.
Ele ainda aponta que um veículo a mais 100 quilômetros por hora tem um ângulo de visão restrito a 40 graus e sonolência de apenas dois segundos em um carro que viaja em velocidade de 130 quilômetros por hora fica sem controle por 72 metros. O professor explica que a vista humana leva até sete segundos para recuperação quando é atingida pelo efeito do ofuscamento causado pela luz de um farol.