Saúde mental: famílias de bebês prematuros necessitam de atenção especial
Para enfrentamento à momento delicado, ONG Prematuridade.com cria núcleo de atendimento
O nascimento de um bebê prematuro, por si só, é um grande desafio e, em tempos de pandemia, com um cenário repleto de restrições, a situação é permeada por angústias. No mês dedicado à campanha Janeiro Branco, voltada aos cuidados com a Saúde Mental, a ONG Prematuridade.com reforça a importância do trabalho nesse sentido, aos pais e familiares de crianças prematuras.
Para atender às famílias nesse perfil, a entidade criou um Núcleo de Saúde Mental, com reuniões quinzenais e atendimentos gratuitos, quando necessário.
“Na prematuridade, estamos lidando com a família que sente a chegada de um bebê antes da data prevista, quebrando as expectativas e podendo gerar sentimento de culpa, incapacidade, medo, que se, não tratados adequadamente, podem gerar adoecimentos psíquicos, dificuldade no vínculo com o bebê e no cuidado dele”, fala a psicanalista Simone Dantas, coordenadora de Núcleo de Saúde Mental da ONG Prematuridade.com.
A psicóloga e também coordenadora do Núcleo, Sueli Lopes, salienta que é importante lembrar que a preocupação com a saúde também chega ao bebê que está internado na unidade neonatal. “Separar os pais, tratá-los como visita, interfere negativamente na saúde mental da família, bem como na da criança. A atenção à saúde mental deve estar presente desde a concepção até a morte, como parte que é de qualquer ser humano”, fala.
No atual período pandêmico, a situação ficou ainda mais delicada, com a separação de recém-nascidos prematuros de suas mães, fato que resulta em sofrimento e até mortes desnecessárias, como destacado em estudo da OMS (Organização Mundial das Saúde), divulgada no ano passado.
A pesquisa trouxe a problemática de quem, em muitas localidades, se houver suspeita ou confirmação de infecções por Covid-19, os bebês recém-nascidos são rotineiramente separados de suas mães, o que os coloca em maior risco de morte e complicações de saúde ao longo da vida. “Este é especialmente o caso nos países mais pobres, onde ocorre o maior número de nascimentos prematuros e mortes infantis”, destaca o relatório que, ainda, frisa que as interrupções no cuidado com o método canguru – que envolve contato próximo entre um dos pais, geralmente a mãe, e um bebê recém-nascido – devem piorar esses riscos.
Entre os bebês prematuros ou com baixo peso ao nascer, o método canguru demonstrou reduzir a mortalidade infantil em até 40%, a hipotermia em mais de 70% e as infecções graves em 65%.
A OMS recomenda que as mães continuem dividindo o quarto com seus bebês desde o nascimento e sejam capazes de amamentar e praticar o contato pele a pele – mesmo quando houver suspeita ou confirmação de infecções por COVID-19 – e devem receber apoio para garantir práticas adequadas de prevenção de infecções. “As instituições hospitalares e profissionais de saúde devem estar preparados para acolher e dar suporte aos pais. Os familiares precisam se sentir confortáveis para discutir todas as suas preocupações e seus sentimentos, tanto físicos quanto mentais”, pontua Sueli. “Além disso, as instituições hospitalares e seus profissionais precisam ter ciência da necessidade de manter mães e bebês juntos, pela saúde física, emocional e mental de todos os envolvidos nesse processo”, conclui.