Aparecida

Tempo de traição : Mendanha descarta Podemos e deve se filiar ao PL bolsonarista

Prefeito vira as costas para a presidente nacional Renata Abreu e, mesmo rejeitado pelos extremistas ligados ao presidente em Goiás, vai se abrigar no mesmo partido

Helton Lenine

O prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha chega ao final do mês de janeiro sem saber exatamente a qual partido vai se filiar e entra no leilão que inclui o PL do presidente Jair Bolsonaro e o Progressistas do ministro da Casa Civil Ciro Nogueira.

Três dias após indicar o vice-prefeito Vilmar Mariano para a presidência estadual do Podemos, em lugar do deputado federal José Nelto, Gustavo Mendanha “apunhalou” a presidente nacional do partido, Renata Abreu, descartando filiação.

O prefeito aparecidense também prometeu a Renata Abreu formar chapa competitiva para deputado federal, no Podemos, mas a reportagem obteve, com exclusividade, a lista de nomes, cujos integrantes não têm expressão eleitoral no Estado: Heuler Cruvinel (Rio Verde), Veter Martins (Aparecida), Cristovão Tormin (Luziânia) e Sônia Chaves. Está longe de formar chapa com 18 candidatos, sendo que seis deverão ser mulheres. Qualquer analista político atesta que se trata de uma chapa eleitoralmente fraca em Goiás.

Mendanha passou a quarta-feira, 19, em Brasília, acompanhado dos deputados federais Magda Mofatto e Professor Alcides, em contato com os cardeais do PL e do Progressistas, avaliando em qual legenda vai se filiar para a disputa ao governo de Goiás. Teve encontros com Valdemar Costa Neto e com Ciro Nogueira.

Até agora, Mendanha tem ao seu lado apenas dois partidos: Podemos e PTC. É muito para quem se dispõe a enfrentar uma disputa ao Palácio das Esmeraldas. Mesmo tendo o Podemos sob controle, o prefeito não vai contar com os quadros do partido: o deputado federal José Nelto, ex-presidente, e 14 prefeitos anunciam desfiliação nos próximos dias.

“Fui apunhalado pelas costas”, desabafa José Nelto ao Diário de Aparecida, que ficou sabendo, pela imprensa, que estava destituído por Renata Abreu da presidência do Podemos de Goiás. Nelto deve se filiar, até 3 de abril, ao PSD de Vilmar Rocha. Mesmo que venha a se filiar ao PL ou ao Progressistas, partidos que estão comprometidos com a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, Gustavo Mendanha não terá a garantia que os bolsonaristas estarão em seu palanque na campanha para o governo de Goiás.

O ativista de redes sociais Gustavo Gayer, quarto lugar na disputa pela prefeitura de Goiânia, em 2020, ficando à frente, por exemplo, do deputado federal Elias Vaz (PSB), dos deputados estaduais Talles Barreto (PSDB) e Alysson Lima (SD) e Major Araújo (PSL) e Virmondes Cruvinel (Cidadania), da vereadora Cristina Lopes (PL), ex-deputado estadual Samuel Almeida (Pros), critica Gustavo Mendanha pela presença de partidos de esquerda no secretariado aparecidense.

“Gustavo não tem qualquer afinidade com os princípios da direita e com os projetos do presidente Jair Bolsonaro. É uma decepção política, apesar de ter uma carreira exitosa em Aparecida”, dispara Gayer, bolsonarista raiz, que tem milhares de seguidores no Twitter e Facebook.

O deputado federal Major Vitor Hugo (PSL), pré-candidato a governador, faz duros ataques a Gustavo Mendanha, pelas redes sociais e entrevistas. O bolsonarista deixa claro que não pretende apoiar o projeto eleitoral de Mendanha. “O prefeito não tem identidade com o grupo político de Bolsonaro, faz o jogo da esquerda, não assume posições de direita”. Apenas a deputada federal Magda Mofatto, que é aliada do presidente Jair Bolsonaro, defende a filiação de Gustavo Mendanha ao PL para disputar a sucessão estadual deste ano.

Prefeito irrita petistas e tucanos ao dispensar apoio de Lula e Marconi

Com apoio de apenas três partidos até agora – Podemos, PTC e DC –, o prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha se dá ao luxo de dispensar apoios para a sua candidatura a governador. Em entrevista ao jornalista Jackson Abrão, de O Popular Online, Mendanha disse que não irá pedir votos para o petista Luiz Inácio Lula da Silva na disputa pela presidência da República e que rejeita aliança com o PSDB do ex-governador Marconi Perillo.

Se de um lado irrita os petistas, ao dispensar o eventual apoio deles, de outro Mendanha tem a reprovação dos seguidores de Jair Bolsonaro, pelo fato de manter no secretariado representantes de cinco partidos de esquerda. “Não há como servir a dois senhores, Mendanha vai ter de tomar posição no aspecto político-ideológico e qualquer que seja sua decisão vai perder votos”, diz um analista político.

A presidente estadual do PT Kátia Maria chegou a agendar conversa com Gustavo Mendanha para discutir aliança, mas recuou diante das “incertezas e recuos” do prefeito aparecidense. “Só iremos tratar de alianças com partidos e lideranças que estiveram comprometidas com a candidatura de Lula à presidência.”

Cardeais petistas manifestam decepção com o ex-emedebista por aparecer na mídia descartando apoio à campanha de Lula à presidência. “Não pretende estabelecer vínculo com a campanha de Lula em Goiás”, disse o prefeito aparecidense. Os seguidores de Bolsonaro em Goiás não “engolem” Mendanha por várias razões, entre elas a proximidade do prefeito com a esquerda. O prefeito nomeou em seu secretariado representantes do PT, PSB, PC do B, PV e PDT.

Com esse posicionamento político, Gustavo Mendanha perderá votos de eleitores e seguidores de Lula e de Bolsonaro na corrida ao governo de Goiás em 2 de outubro.Os tucanos também estão “perplexos” com o “amadorismo político” de Mendanha, ao descartar aliança com o PSDB dos ex-governadores Marconi Perillo e José Eliton. Marconi cogitou disputar vaga ao Senado em chapa conjunta com Gustavo Mendanha.

“Nunca vi candidato a governador dispensar acordo com partido que tem capilaridade eleitoral, tempo na propaganda no rádio e televisão, como é o caso do PSDB”, diz um ex-dirigente do partido em Goiás. Até o Patriota, que tem o marqueteiro Jorcelino Braga, não decidiu apoiar Mendanha para governador e mantém a pré-candidatura de Jânio Darrot pelo menos até as convenções partidárias, em julho. Darrot poderá ser vice de Mendanha. (H.L.)

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