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Definição pelo PL bolsonarista traz mais problemas que soluções para Mendanha

Atrelar uma candidatura a um presidente polêmico e instável atrairá um passivo de desafios que mais podem prejudicar do que ajudar

Da Redação

Depois de quatro meses de nhenhenhém partidário, após sair do MDB, o prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha finalmente resolveu filiar-se ao PL agora sob as asas do presidente Jair Bolsonaro, depois de concluir que esse é o partido onde terá um maior nível de segurança – nunca de 100% – quanto à sustentação da sua candidatura ao governo do Estado.

Mendanha até que tentou manter-se longe da campanha presidencial que se avizinha, polarizada entre Lula e Bolsonaro, em um esforço para fugir dos riscos de desgastes que uma escolha entre esses dois candidatos fatalmente irá acarretar a partir das multidões de eleitores encolerizados a favor ou contra uma e outra.

Sem saída, o prefeito definiu-se pela filiação ao PL. Inevitavelmente, encontrará nessa legenda mais desafios para superar do que soluções para embalar a sua ambição de disputar a corrida pelo Palácio das Esmeraldas, que tem o governador Ronaldo Caiado, buscando a reeleição, como favorito.

Se ele, Mendanha, não queria se envolver com a briga entre Lula e Bolsonaro, é porque obviamente percebeu que existem perigos nessa confrontação e que ele acabaria prejudicado ao se meter em um conflito com o qual nada tem a ver, porém infelizmente forçado a se decidir por um dos lados – e, como se viu, foi o do presidente.

Presidente perde entre os evangélicos  por postura anticristã e até por palavrões

Um dos motivos que levou Gustavo Mendanha a se definir pelo PL foi a impressão de que o presidente Jair Bolsonaro é aceito pela maioria dos evangélicos, ramo religioso a que o prefeito de Aparecida pertence. Mendanha imaginou que aumentaria a sua penetração nesse segmento, onde já existiria uma simpatia natural pelo presidente.

Mas não é bem assim. Hoje, as pesquisas mostram que Lula vence Bolsonaro de cabo a rabo entre o eleitorado brasileiro, inclusive os evangélicos. Motivos? São muitos: um deles é o espírito anticristão do presidente, que é, por exemplo, contra a vacinação anti Convid-19 e assim também contra a vida.

Em sua desumanidade, Bolsonaro sempre desdenhou e debochou dos mais de 600 mil mortos pelo novo vírus no país. “E daí? Todo mundo vai morrer um dia”, chegou a dizer. Evangélicos podem ser conservadores quanto a pautas de costumes, mas não são contra a vida – e aí o distanciamento com o bolsonarismo.

Sabia, leitor, que Bolsonaro não é evangélico? Pois é: ele se declara como “católico romano”. Mas o que o faz ser visto com restrições pelos evangélicos não é isso. O presidente tem a boca suja e isso incomoda as famílias, por mostrar sempre um comportamento vulgar, falar palavrões sem o menor pudor e deixar claro que, pela falta de solidariedade e empatia, não compartilha o espírito cristão.

Rejeição é alimentada pela indefinição ideológica, com esquerda na prefeitura

Complicando as coisas para Gustavo Mendanha, os bolsonaristas de Goiás não escondem a rejeição radical que têm pelo prefeito. Políticos identificados com o extremismo de Jair Bolsonaro dizem que o prefeito nunca defendeu o presidente, não tem definição ideológica clara (ou seja: sem compromisso com a direita) e mantém em seu secretariado representantes de partidos de esquerda como o PT e o PC do B.

Entre esses críticos de Mendanha, estão o deputado federal Major Vitor Hugo e o ex-candidato a prefeito de Goiânia Gustavo Gayer (que ficou em 4º lugar na disputa). Nenhum dos dois tolera o aparecidense e, com frequência, referem-se a ele ressaltando a sua falta de confiabilidade e oportunismo – esse último item pela aproximação com o bolsonarismo apenas para viabilizar a sua candidatura a governador, depois de bater com o queixo nas portas fechadas por outros partidos.

Não se sabe, por ora, se Major Vitor Hugo e Gustavo Gayer também seguirão o presidente e se filiarão ao PL para disputar as próximas eleições. O deputado, inclusive, apresenta-se como pré-candidato a governador, pretensão que, se viabilizada em outra legenda, esvaziará o fluxo de votos que Mendanha pensou em atrair ao assinar a ficha do mesmo partido onde Bolsonaro está abrigado.

Casal Mofatto-Canedo não é confiável e tem traição no currículo. Bolsonaro, idem

Gustavo Mendanha pode dormir tranquilo com a certeza e a segurança de que o PL vai endossar a sua candidatura ao governo do Estado? Infelizmente para ele, a resposta é não. O PL não oferece 100% de garantia a Mendanha de que ele será o candidato a governador da sigla. Daqui até as convenções, o prefeito viverá dias de incerteza, sob o receio de ser colhido por uma surpresa desagradável na reta final.

E isso por duas razões: uma, a instabilidade dos dirigentes do PL em Goiás, a deputada federal Magda Mofatto e seu marido Flávio Canedo. O casal tem antecedentes que minam a sua confiabilidade política. Em Goiânia, em 2020, acolheram a filiação da vereadora Dra. Cristina, com o compromisso público de ela seria candidata a prefeita. Na hora H, mudaram de ideia e resolveram que o PL apoiaria a candidatura de Maguito Vilela.

Dra. Cristina havia sido escolhida até mesmo por uma convenção do partido, que Magda Mofatto e Flávio Canedo anularam sem nenhum pejo. O mesmo pode acontecer com Mendanha? Em tese, sim. Basta que a dupla dirigente do PL resolva atender seus interesses pessoais buscando um outro rumo, como aconteceu em Goiânia.

Não é só. Há outro fator de dúvidas: o presidente Jair Bolsonaro, outro político notório por não cumprir a palavra empenhada. Ele se filiou ao PL mediante o compromisso do presidente do partido Valdemar Costa Neto de que a palavra final sobre candidaturas nos Estados seria sua. Se Bolsonaro achar que o Major Vitor Hugo ou qualquer outro nome atende melhor aos seus objetivos políticos, não vai hesitar nem por segundo para mudar de posição e abandonar Mendanha à beira do caminho.

Lula cresce e pode vencer no 1º turno, enquanto o adversário cai nas pesquisas

Um outro inconveniente que a filiação de Gustavo Mendanha ao PL trás é a sua amarração a Jair Bolsonaro em um momento em que o presidente continua em queda nas pesquisas, assistindo sem reação ao distanciamento do petista Lula da Silva – que, pelas projeções atuais, ganharia no 1º turno. Nesse cenário, qual seria a vantagem para o prefeito aparecidense?

Nenhuma. Aliás, só desvantagens. Ele pode até acreditar que Bolsonaro, em Goiás, tem um respaldo eleitoral maior do que na média do país e é verdade. Mesmo assim, as pesquisas mostram que Lula ganha no Estado. E que Bolsonaro, sem tem um desempenho um pouco melhor que no resto do Brasil, deve isso ao apoio do agronegócio, setor conservador por tradição e excelência.

Isso significa que, mesmo preferindo Bolsonaro, o agronegócio tem um compromisso muito maior com o governador Ronaldo Caiado, que tem uma vida em defesa dos interesses dos produtores rurais – ele mesmo um deles. Mesmo votando em Bolsonaro, os eleitores desse segmento tenderão a fazer por conta própria uma dobradinha com Bolsonaro, ignorando a existência de Mendanha, que não tem nada a dizer sobre a problemática do homem do campo, assunto que ele não conhece e no qual a sua atuação é e sempre foi nula.

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