Arqueólogos descobrem múmias de seis crianças no Peru; entenda o que é e como funciona a mumificação na história
Os antigos egípcios popularizaram a técnica que deu início aos estudos de anatomia. Saiba mais sobre a mumificação
Múmias pré-incas de seis crianças, com idade entre 1.000 e 1.200 anos, foram descobertas por arqueólogos peruanos nos arredores de Lima, no antigo complexo urbano de barro de Cajamarquilla. Segundo o arqueólogo Pieter Van Dalen, coordenador do projeto na cidade, os restos mortais foram encontrados envoltos em fardos funerários perto do túmulo de uma importante personalidade da época, cuja múmia já havia sido achada em novembro de 2021.
“As crianças, segundo nossa hipótese de trabalho, teriam sido sacrificadas para acompanhar a múmia no caminho para o mundo dos mortos”, explicou Van Dalen à agência de notícias AFP. No trabalho, junto com as seis crianças, também foram achadas ossadas de sete adultos, que por sua vez não estavam embrulhados em fardos. Com isso, chega a 14 o número de restos mortais encontrados pelos pesquisadores da Universidade de San Marcos na área desde o ano passado.
Muito exploradas no mundo do entretenimento, seja em desejos animados ou em filmes, as múmias são objetos de muita curiosidade e, por vezes, podem ser bastante assustadoras. Mas, afinal, o que é a mumificação, como funciona esse processo, por que ele existiu, de que modo influenciou a preservação de corpos humanos e até influenciou os conhecimentos sobre anatomia humana? Neste artigo, você entenderá mais sobre o que é esta técnica, como ela surgiu e era feita.
O que é a mumificação?
A mumificação é um fenômeno de preservação de um corpo humano ou animal que pode ocorrer de forma artificial ou natural. Neste processo, o corpo passa pela putrefação de maneira lenta, podendo levar anos e até mesmo décadas.
A origem da palavra múmia vem do idioma árabe (mumiya ou mumia) e significa betume ou breu. O termo é originário do monte Mumia, localizado na região da Pérsia. Acreditava-se que o local contava com propriedades medicinais que poderiam curar os mais variados tipos de doenças.
Onde surgiu essa prática?
Apesar de muitas civilizações terem se utilizado desta técnica ao longo dos séculos, como os maias e os incas, foram os egípcios que se tornaram os mais bem-sucedidos no desenvolvimento e no estabelecimento da mumificação como prática para preservar cadáveres.
A prática da mumificação surgiu no Egito, datada aproximadamente de 5 mil anos a.C. (antes de Cristo). Os egípcios acreditavam na vida após a morte, desde que o corpo do falecido se mantivesse preservado para receber a nova vida.
Em busca de maneiras de preservar os corpos de seus mortos, os egípcios deram início aos estudos de Anatomia Humana. Foi por meio da mumificação que este povo descobriu diversas substâncias químicas que poderiam ser utilizadas para a preservação do corpo.
Uma das múmias mais famosas de todos os tempos é a do faraó Tutancâmon, que faleceu em 1323 a.C. com apenas 18 anos de idade. Sua tumba foi descoberta em uma pirâmide no Cairo, atual capital do Egito, em 1922, pelo arqueólogo inglês Howard Carter.
A tumba de Tutancâmon continha, além do corpo mumificado há milhares de anos, peças valiosas como jóias, esculturas e vasos, além da icônica máscara mortuária do jovem faraó.
Apesar das múmias egípcias serem as mais conhecidas, elas não são as mais antigas. Há registros de múmias incas (povos que habitavam regiões onde hoje fica o Peru) de cerca de 5 mil a.C. Também já foram encontradas múmias em outras regiões da África, Ásia e Oceania.
Por que esse processo foi criado?
Os antigos egípcios eram povos politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. Em sua crença de vida eterna, o espírito dos mortos retornaria ao seu corpo após a morte em nova vida.
Para isso, era necessário que o corpo fosse preservado até o momento do retorno da alma. As pirâmides foram criadas para abrigar os cadáveres, e os processos de mumificação foram desenvolvidos para preservar os corpos até que as almas voltassem.
Além de corpos humanos, os animais eram mumificados no Antigo Egito. As crenças diziam que bichos como gatos, pássaros e cachorros eram representações de deuses sagrados e, por isso, deveriam ser preservados. Os corpos mumificados eram símbolos de culto e fé.
Vale lembrar que a mumificação não era um procedimento acessível a qualquer pessoa no Antigo Egito. Inicialmente, o processo era reservado somente ao faraó e, com o tempo, foi autorizado que nobres também mumificassem seus entes queridos.
Aos poucos, qualquer pessoa que pudesse pagar por este processo — caro e demorado — poderia realizá-lo, de acordo com os rendimentos disponíveis pela família do morto.
Como funcionava a mumificação?
Em aspectos químicos, a mumificação é um procedimento que desacelera o processo de decomposição do organismo. Isso é alcançado pela eliminação da ação das enzimas e microorganismos responsáveis pela putrefação do corpo humano. Existem dois tipos de mumificação: a natural e a artificial — a última é a que se tornou especialidade dos antigos egípcios.
Mumificação natural
Dependendo das condições climáticas, um corpo pode passar por um processo natural de mumificação. A mumificação natural acontece quando há condições extremas de calor (em desertos), frio (regiões geladas, como a Antártida), quando o solo do local do sepultamento tem temperatura elevada ou em regiões de pântano, que contém substâncias que diminuem a velocidade de atuação das bactérias.
Mumificação artificial
O procedimento inventado e aprimorado pelos antigos egípcios passa por uma série de etapas. A primeira era a retirada de todas as vísceras do cadáver. Por um corte no abdômen, eram extraídos estômago, bexiga, fígado, rins, intestino, baço e o coração — o último era armazenado separadamente. Nesta etapa também tiravam o cérebro do corpo por via nasal.
Depois disso, o corpo ficava em um recipiente com água e sal para matar as bactérias e acelerar o processo de desidratação. Após 70 dias descansando nesta solução, o corpo era preenchido com ervas que ajudavam a evitar a deterioração e serragem.
O próximo passo era enfaixar o cadáver, que era completamente envolvido por ataduras de linho branco. Após isso, o corpo recebia uma camada de cola especial antes de ser colocado dentro do sarcófago, o caixão da época. Os cadáveres de faraós eram sepultados nas pirâmides, enquanto os nobres e os sacerdotes eram destinados a um tipo de túmulo conhecido como mastaba.
A mumificação ainda é utilizada nos dias de hoje?
A prática da mumificação foi muito utilizada entre 5 mil a.C. e 1.700 a.C. Depois, quando a influência do cristianismo ganhou mais espaço em sociedades como a egípcia, o costume praticamente desapareceu.
Atualmente, ainda existem maneiras de preservar cadáveres por alguns motivos específicos. Um exemplo é quando é necessário locomover o corpo do local de falecimento até outro ponto, onde será realizado o sepultamento.
Essa situação ocorre quando o falecido precisa ser transportado para velórios e cemitérios distantes para os familiares darem o último adeus e prestar homenagens póstumas, se reunindo, velando, enviando coroa de flores e, por fim, enterrando.
O método de preservação mais comum nos dias de hoje é o embalsamento. Consiste em injetar uma mistura de formaldeído (formol) e fenol depois que os fluidos corporais são retirados do cadáver. O procedimento desacelera a ação microbiana, que só ocorre após a evaporação das substâncias. Outras técnicas de preservação utilizadas incluem a evisceração e a plastinação.
A evisceração consiste na retirada das vísceras, limpeza do corpo com ácido acético e água destilada e lavagem com formalina. Por fim, mergulha-se o cadáver em um tanque com cloreto de quinina, glicerina e acetato de potássio. Este procedimento foi utilizado para preservar o corpo de Vladimir Lênin, líder soviético morto em 1924.
Já a plastinação é realizada pela substituição de fluidos corporais por substâncias plásticas, como poliéster, epóxi e silicone. Isso garante que as partes do corpo se tornem mais plásticas e é muito utilizada na preservação de corpos para fins de estudo.