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Um mês depois: crianças ucranianas enfrentam morte e deslocamento

ONG Visão Mundial alerta para o risco de exploração sexual e tráfico de crianças, especialmente aquelas que se perdem dos pais durante a travessia para fora da Ucrânia

Peter Lazer / AFP

À medida que o conflito na Ucrânia atinge sua marca de um mês, a agência internacional de ajuda humanitária Visão Mundial alerta que crianças estão sofrendo graves consequências, sendo mortas, forçadas a fugir de suas casas e correndo alto risco de tráfico e abuso.

O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) estimou que já houve 90 mortes infantis e 118 crianças feridas, mas também acrescentou que “os números reais são consideravelmente maiores” devido aos atrasos na obtenção de informações de áreas de “hostilidades intensas”. Isso inclui áreas como Mariupol, Volnovakha (região de Donetsk), Izium (região de Kharkiv), Sievierodonetsk e Rubizhne (região de Luhansk) e Trostianets (região de Sumy), onde há relatos de “numerosas baixas civis”.

Segundo a líder regional da Visão Mundial para o Oriente Médio e Europa Oriental, Eleanor Monbiot, os relatos de mortes de crianças são “de partir o coração”. “A morte de qualquer criança é uma tragédia, mas a morte de pelo menos 90 crianças na Ucrânia após apenas um mês de combate é devastadora”, disse Monbiot. “Cada uma dessas crianças teve uma vida e um futuro roubados delas. Cada uma deixa para trás uma família destruída que chora em luto a perda de uma criança preciosa, tudo ao tentar lidar com o medo do bombardeio e do desafio do deslocamento”.

Os relatos de mortes de crianças chegam ao mesmo tempo em que o governo ucraniano divulgou, nesta semana, que 1.500 edifícios residenciais, 202 escolas e 34 hospitais tinham sido bombardeados em todo o país. Meios de comunicação também informaram que os prédios residenciais na periferia de Odesa tinham sido submetidos a bombardeios.

Monbiot realça que civis nunca devem ser alvos e condenou o ataque a qualquer infraestrutura civil. “Condenamos qualquer violência contra civis, lares, escolas e estabelecimentos de saúde, e apelamos a todas as partes do conflito para que assumam suas responsabilidades, de acordo com o Direito Humanitário e o Direito Internacional”.

“Embora este conflito já tenha afetado gravemente civis e infraestrutura civil, ainda não é tarde para a paz. A Visão Mundial se junta aos apelos para o fim imediato das hostilidades. Civis devem ser capazes de evacuar o país com segurança se quiserem – e sem discriminação. As agências devem ter permissão para acessar todas as pessoas necessitadas onde quer que estejam e entregar a assistência humanitária”.

Número de refugiados passa de 3,5 milhões: uma em cada cinco crianças ucranianas é refugiada

Com base nas últimas estimativas de que 1,5 milhão de crianças ucranianas, de uma população infantil de 7,5 milhões, tinham atravessado fronteiras internacionais para buscar segurança, 20% – ou um em cada cinco – tornou-se refugiada desde que o conflito começou em 24 de fevereiro, um número sem precedentes.

Segundo Monbiot, o elevado número de crianças refugiadas provocou grandes preocupações sobre o potencial de tráfico em áreas fronteiriças. A equipe da Visão Mundial relatou ter visto muitas crianças desacompanhadas na fronteira da Ucrânia com a Polônia, diz.

“Nossa equipe de proteção infantil testemunhou um número esmagador de crianças e jovens deslocados, alguns deles profundamente traumatizados, desesperadamente famintos e profundamente preocupados com seus pais e parentes que ainda estão na Ucrânia”, disse ela. “Viajar sozinho os coloca em maior risco de abuso, violência e exploração, incluindo o tráfico”.

“Estou extremamente preocupada com os riscos que essas crianças enfrentam, fugindo para o que elas acreditam ser um lugar seguro, apenas para acabar vítimas de abuso sexual ou tráfico. Esta crise já é ruim o suficiente sem outra crise emergindo de dentro dela”, acrescenta a porta-voz da Visão Mundial.

“Crianças desenraizadas, especialmente aquelas que viajam desacompanhadas ou que foram separadas de suas famílias durante a viagem, estão em maior risco de violência, exploração e abuso. Os governos e a comunidade humanitária devem estabelecer urgentemente mecanismos para identificar e registrar as crianças que chegam mais vulneráveis, a fim de reduzir os riscos de proteção reais que enfrentam, incluindo o tráfico, e começar a atender às suas necessidades imediatas e de longo prazo”.

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