Política

Terceira Via nunca teve espaço no Brasil, mas está mais uma vez colocada na mesa

A procura de uma alternativa para os radicalismos ainda não conseguiu arrumar o candidato ideal a presidente

Nem à esquerda nem à direita, nem Lula nem Bolsonaro: a saída para o Brasil seria a porta do meio?

Da Redação

Para as eleições de outubro próximo, projeta-se uma disputa pautada por uma polarização focada nos candidatos que, até o momento, concentram as intenções de votos em pesquisas – o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula da Silva (PT). Porém, essas figuras, graças às suas trajetórias políticas e à história política recente do Brasil, acumularam um relevante grau de rejeição junto à população. É a partir daí que a Terceira Via precisa ser entendida. Assim, essa parcela da população – de pessoas que buscam uma alternativa ao antagonismo que vem protagonizando o debate político -, aliada a convicções pessoais e projetos partidários, vêm respaldando o surgimento de diferentes projetos que postulam a construção de uma Terceira Via capaz de ir ao segundo turno das eleições 2022.

Entraram nessa disputa até agora, como principais pré-candidatos além de Lula e Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT), João Dória (PSDB), Simone Tebet (MDB), Luís Felipe d’Ávila (Novo), e Sérgio Moro (ex-Podemos, atual União Brasil, que desistiu). Destaca-se que, apesar de os nomes citados agregarem basicamente nomes que vão do centro à direita (com exceção de Ciro Gomes), pode-se dizer que a rejeição a Bolsonaro e Lula é transversal, atingindo os mais diversos setores da sociedade – com grupos de esquerda e de direita se posicionando contra ambos.

Vale lembrar que a expressão Terceira Via não é original do Brasil. Ela foi criada como uma “proposta de renovação política e economia alternativa ao socialismo e ao liberalismo”, tendo como um de seus criadores o sociólogo Anthony Giddens, ligado ao partido trabalhista britânico.

A teoria formulada atingiu um nível de sucesso considerável, uma vez que foi indicada, à época, como linha política de figuras importantes, como Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil, Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos da América (EUA) e Tony Blair, ex-primeiro-ministro da Grã-Bretanha. Os dois últimos foram explícitos nesse sentido, quando, em conferência em Nova York para lançar a ideologia, “rejeitaram a crença neoliberal de que tudo pode ser deixado para o mercado, mas também viam a tradicional fé na intervenção estatal na economia por parte da esquerda como datada”.

Nesse sentido, Leon Victor de Queiroz ressalta que essa “Terceira Via seria capaz de oferecer respostas que a dicotomia direita-esquerda não conseguiu”. Contudo, com o passar dos anos, a ideologia foi perdendo força no cenário internacional e o conceito foi adquirindo outro significado para a política brasileira. Esse contexto consolida duas impressões. A primeira é que, diferentemente do cenário projetado para 2022, “Terceiras Vias no contexto brasileiro vêm se mostrando bastante conjunturais com políticos de esquerda”. A outra é que “se as 8 eleições passadas indicam algum padrão, a 3ª via no Brasil é algo ainda a ser construído”, não tendo obtido sucesso eleitoral em 3 décadas de sucessivas eleições presidenciais.

 A rejeição a Bolsonaro

Eleito na onda antipolítica que varreu as eleições de 2018, o presidente do Brasil vem perdendo força junto à população com o decorrer dos anos – até por ser um político que investe mais no fomento de bases radicalizadas e disputas “ideológicas” que em um verdadeiro projeto de país. Dentre os inúmeros fatores que podem levar alguém a rejeitar um candidato a qualquer cargo – como ideologia e projeto de país, por exemplo – destacam-se, no caso de Bolsonaro, dois pontos principais: a condução da pandemia de covid-19 pelo governo federal e a crise econômica. O primeiro ponto já é amplamente conhecido, com diversos especialistas apontando que a atuação do governo federal acabou contribuindo para o aumento do número de mortos no país. Hoje o país conta mais de 600 mil vítimas da doença, com o número de mortes evitáveis no Brasil variando entre 120 mil e 400 mil pessoas.

O governo federal apontou uma contraposição entre saúde e economia, tomando medidas que eram contra o isolamento social e a prevenção da contaminação para não interromper a atividade econômica no país. Essa contraposição, de acordo com o economista Francisco Ferreira, da London School of Economics, não é verdadeira. De acordo com ele, “os países que perderam mais economicamente foram os mesmos que perderam mais em termos de mortalidade”.

O governo federal demonstrou uma opinião desfavorável ao uso de máscaras, da quarentena, e ao avanço na distribuição de vacinas quando estas se fizeram disponíveis, como apontam especialistas. Nesse contexto soma-se ainda a contribuição da CPI da Covid, que levantou uma lista de possíveis crimes cometidos pelo governo federal e outros atores do meio político, médico e empresarial.

 A rejeição a Lula e o antipetismo

Lula, assim como Jair Bolsonaro, sua contraparte nesse antagonismo eleitoral, é uma figura extremamente controversa na cena política brasileira – angariando tanto “amor” quanto “ódio” em qualquer lugar do Brasil. Ao mesmo tempo, em termos de história brasileira recente, o ex-presidente é uma das figuras mais importantes para se entender a política no país.

Persistente na arena eleitoral, uma vez que caminha para sua sétima eleição presidencial, o ex-presidente aposta no público cativo que conquistou durante seus mandatos – especialmente o segundo (2006-2010), quando a base de apoio petista muda, como mostra André Singer (2012), com a perda de apoio das classes médias (muito devido ao escândalo do mensalão) e a conquista da parcela mais pobre da população, graças ao momento econômico extremamente positivo e às políticas sociais abrangentes que foram então implementadas.

Contudo, não só o político, mas também o seu partido (PT), acumularam muita rejeição e muitos opositores com o passar dos anos, uma vez que, mesmo com políticas meritórias e uma espécie de continuação do social-liberalismo iniciado nos anos 1990 com FHC (1995-2002), os 16 anos de governos petistas acumularam escândalos e inúmeras polêmicas.

Assim como no caso de Bolsonaro, são fáceis de identificar os motivos da rejeição à candidatura petista. Essa rejeição, à Lula e ao PT, passa principalmente por dois fatores: os esquemas de corrupção identificados tanto no governo Lula (2003-2010) quanto no governo Dilma (2011-2016) e os problemas econômicos que levaram à recessão de 2015-2016.

 

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo