Europa vive dilema sobre como lidar com Bolsonaro, após reeleição de Macron
O obstáculos surgiu em 2021, quando o francês recebeu Lula no palácio presidencial
Da Redação
Com as primeiras estimativas apontando uma definição na eleição na França, a Europa vive um dilema sobre como lidar com Jair Bolsonaro no Brasil. Emmanuel Macron é considerado em Brasília e mesmo em Bruxelas como um dos maiores obstáculos para que Europa e Mercosul possam ratificar o acordo comercial que foi negociado desde 1999. Mas, para os observadores, parte de sua resistência tinha uma relação direta com a eleição, disputada ontem, domingo, 24.
Na busca pelos votos de ecologistas, o presidente francês não poderia ignorar o desmatamento na Amazônia e passou a insistir que, sem um compromisso do governo Bolsonaro neste sentido, não haveria uma ratificação do acordo comercial.
Também de olho no voto dos agricultores – muitos dos quais simpáticos à sua rival Marine Le Pen – Macron não poderia aceitar um acordo com o Brasil que representasse uma maior importação de bens agrícolas do Mercosul e que colocaria em risco seu resultado eleitoral em diversas regiões do país.
O problema que enfrenta a França é que, para a União Europeia, o acordo que Bruxelas fechou com o ex-chanceler Ernesto Araújo é extremamente vantajoso para seus interesses e desequilibrado para o Brasil.
Ainda existe uma consideração geopolítica: a Comissão Europeia acredita que se o continente não se apresentar como um parceiro comercial de peso na região, esse espaço será ocupado de forma permanente pela China, que não irá impor condições ambientais ao Brasil para fechar acordos comerciais.
Agora, uma parcela da Comissão Europeia acredita que haveria uma janela de oportunidade para um acordo e que Macron poderia ajustar seu discurso. Com o voto de agricultores e ambientalistas já assegurado, ele poderia atender aos interesses dos industriais europeus, ávidos pelo mercado da América do Sul.
Macron pode dar o sinal verde para o acordo que representaria ganhos comerciais para a Europa. Mas, se optar por esse caminho, recompensaria o presidente brasileiro com um acordo histórico e que poderia até mesmo fortalecer Bolsonaro nas eleições em outro.
O mal-estar entre Macron e Bolsonaro chegou ao auge em 2021 quando o francês recebeu, no palácio presidencial, o rival de Bolsonaro: Luiz Inácio Lula da Silva. O gesto foi interpretado como um sinal de humilhação e uma resposta aos anos de uma relação tensa entre os dois governos.
Lula retribuiu e, na semana passada, usou as redes sociais para pedir votos pelo presidente da França contra a extrema-direita.