Mais do mesmo: prefeito Vilmarzim faz a gestão de Mendanha, sem Mendanha
Aparecida tem dois prefeitos: um é o fantasma que renunciou ao mandato, mas continua dando ordens, outro é o vice que assumiu, porém não tem força nenhuma
Da Redação
Isso ninguém nunca viu antes em parte alguma do Brasil: Aparecida continua sendo administrada por Gustavo Mendanha, mesmo tendo ele renunciado ao cargo no dia 31 de março, portanto há quase 50 dias, para se lançar na aventura de disputar o governo do Estado. Naquela data, assumiu o vice-prefeito Vilmar Mariano, que manteve intocado o secretariado montado por Mendanha, no qual, em meio a excessivas 27 pastas, 25 são ocupadas por homens e apenas 2 por mulheres.
Vilmarzim, como Vilmar Mariano é conhecido, vem mantendo total discrição na prefeitura. Chegou a participar de reuniões com a equipe em que Mendanha sentou-se na sua cadeira e deu as ordens, sob o seu silêncio obsequioso.
A um empresário que pediu providências em uma determinada Secretaria municipal, Vilmarzim respondeu pelo WhatsApp: “Procure o secretário e peça para ele”. O interlocutor respondeu, não sem ironia: “Uai, pensei que você fosse o prefeito”. E ele: “Infelizmente, não sou”.
Mendanha é uma presença invisível que segue controlando todas as áreas da prefeitura. Uma equipe de limpeza não vai roçar o mato de um bairro qualquer sem a sua anuência. Todos os seus auxiliares foram mantidos, exceto alguns poucos que saíram para se candidatar a deputado.
A sua mulher, Mayara, continua despachando, intocável, na Secretaria de Assistência Social, pasta que, pela tradição que vem desde prefeitos mais antigos, é sempre destinada à primeira-dama do momento – no caso Sulnara Santana, mulher de Vilmarzim, deslocada e sem ter o que fazer como condutora oficial da política social em Aparecida .
Vilmarzim se comporta como se tivesse recebido o cargo de prefeito como uma doação de Mendanha e não como seu direito, na condição institucional de vice. Nos bastidores, comenta-se que haveria um acordo pelo qual ele concordado em ser um mero marionete até a data da eleição, 2 de outubro, ficando liberado depois para colocar as coisas do seu próprio jeito, inclusive o secretariado.
Mas a timidez da sua atuação e a onipotência nem tão secreta assim de Mendanha sobre os assuntos municipais têm causado prejuízo à imagem do vice que se tornou prefeito, pela subserviência explícita ao antecessor e até por se expor a questionamentos sobre a usurpação das suas funções e responsabilidades por pessoa não vinculada funcionalmente a prefeitura.
Não é que os secretários não atendem às ordens de Vilmarzim. Atendem. Mas só depois de conferir com Mendanha, mesmo em questões menores e sem importância, como a remoção de um servidor, por exemplo. O atual prefeito, prevenido, tem evitado passar orientações e determinações. Omite-se e deixa que os secretários consultem Mendanha, à procura do que fazer em cada situação que aparece.
Até hoje, com 50 dias como prefeito do 2º maior centro urbano do Estado, Vilmar Mariano não reuniu o seu secretariado. Ou melhor: o secretariado de Mendanha. O motivo é que ele não teria o que dizer, nenhuma orientação a passar. Isso, como a prefeitura de Aparecida está funcionando, continua competindo ao prefeito anterior, que renunciou ao cargo, porém continua mandando.