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Em Aparecida, prefeitura tem excesso de cargos de chefia com altos salários

Tribunal de Contas dos Municípios aponta também número elevado de comissionados, muito acima do percentual recomendado para uma gestão de qualidade

Um levantamento do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) apontou Aparecida de Goiânia entre as cidades goianas que mais contam com cargos de chefia em sua estrutura de pessoal, sempre com salários elevados. O TCM aponta que 5% dos 11 mil servidores municipais aparecidenses são designados como chefes de gabinete, superintendentes, diretores e chefes de unidades específicas.

Ainda segundo o tribunal, também quando observada a proporção de comissionados dentro do quadro geral de servidores, 37% estão nessa categoria. O número é superior a faixa recomendada pelo TCM como sinal de alerta.

Além disso, correm no tribunal processos em que são investigados desvios de função, em que até mesmo funcionários do setor de limpeza receberam gratificações de chefia e foram lotados em outros departamentos, o que é considerado irregular.

Nos 5 anos e 3 meses de gestão de Gustavo Mendanha, a contratação de comissionados, em cargos de chefia ou não, foi levada à potência máxima, para sustentar a cooptação de praticamente 100% da classe política do município. É por isso que Mendanha exerceu o poder sem enfrentar qualquer oposição.

Um exemplo recente: todos os vereadores da Legislatura passada que não conseguiram se reeleger em 2020 ganharam cargos em secretarias executivas na prefeitura de Aparecida. Em consulta ao Portal de Transparência do Município, constata-se que nenhum deles ficou sem a garantia de um salário considerável, por conta do município, após o insucesso nas eleições.

Da mesma forma, estão na folha de pagamento suplentes, presidentes de partidos e seus indicados, assim como também os apaniguados de quase todos os 25 vereadores. Até mesmo lideranças de bairro, desde que se destaquem, são nomeadas.

PASTORES

Mendanha também lotou a prefeitura com pastores evangélicos, grande parte da igreja a que pertence, selecionados por ele mesmo e pela ex-primeira-dama Mayara, que mantém contato estreito com as principais denominações do crentismo em Aparecida. Nesse sentido, é notável a influência do pastor Romeu Ivo, da Assembleia de Deus Esperança, que é conselheiro espiritual do casal Mendanha e também seu orientador na política, tanto que, em 2020, chegou a ser indicado para compor a chapa da reeleição do então prefeito como vice (ele não quis).

Uma consequência dessa estratégia deletéria de Mendanha foi o aumento das despesas com pessoal, que se refletiu na queda dos investimentos da prefeitura em Aparecida a partir do fim do mandato de Maguito Vilela. O desempenho global do município no ranking da FIRJAN, considerado como uma pesquisa criteriosa e de elevada credibilidade no país, denominado como Índice FIRJAN de Gestão Fiscal, mostra que em 2019, ainda sob o legado de Maguito Vilela, Aparecida figurava com brilho na 26ª posição do ranking. Mas, de um ano para o outro, caiu 223 posições.

Com Mendanha, segundo a FIRJAN, a situação dos investimentos entrou na condição “amarela”, que a coloca hoje como sendo de “dificuldade”. O levantamento que avalia a saúde financeira das prefeituras mostra que nos últimos anos o volume de recursos aplicados na cidade caiu de forma assustadora, o que explica a ausência de obras estruturantes de importância e de qualquer programa relevante em matéria de benefícios para a população.

Nacionalmente, Aparecida ocupava a 15ª posição no balanço da FIRJAN, em 2016, quanto a investimentos da prefeitura, mas, depois que Mendanha assumiu em 2017, caiu para o 249º lugar em 2020, ano a que se referem os últimos números. O município, assim, andou para trás nesse período.

 

“ESSES COMISSIONAOS ESTÃO PREPARADOS?”

 

Na avaliação de Jessica Traguetto, professora e pesquisadora da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (Face) da (UFG), ouvida por O Popular, o excesso de unidades de comando pode atrapalhar o bom funcionamento dos órgãos públicos. “Causa dificuldade de orientação, de receber ordens, chefes diferentes uns dos outros”, avalia. “Não há uma proporção adequada entre qualificação e os cargos de chefia. Dessa forma é preciso questionar: esses comissionados estão preparados para assumir esses cargos?”

Mendanha criou o maior cabide de empregos jamais visto na história de Goiás

 

Aparecida é o maior exemplo no Estado de Goiás de uma prática nefasta da “velha política” que teima em subsistir no Brasil: a utilização dos cofres públicos para comprar apoio político, através do loteamento dos cargos públicos, de maior ou menor importância, entre os partidos e seus integrantes.

Note bem o leitor: o prefeito Gustavo Mendanha cooptou toda a classe política, inclusive a oposição. Os 25 vereadores estão na sua base de sustentação. Todos os partidos políticos, inclusive alguns que são rivais nacional ou estadualmente, como o PSDB e o PT, tiveram seus presidentes nomeados para cargos, em especial as numerosas secretarias municipais.

Numerosas, sim

Mendanha entregou ao seu vice uma prefeitura com incríveis 27 pastas, muito mais que a de Goiânia, cidade com população 3 vezes maior, ou a de São Paulo, que governa 12 milhões de habitantes (Goiânia tem 20 secretarias e São Paulo apenas 15).

Os últimos tempos de pandemia, com e da sua influência negativa sobre o mercado de trabalho levaram o desemprego para muitos aparecidenses, mas não para os políticos locais. A abundância de secretarias, com suas chefias de gabinete, superintendências, diretorias e coordenadorias, permitiu a criação de um dos maiores cabides de empregos que já se viu em Goiás e talvez no Brasil, premiando todos os que, ainda que minimamente, tenham qualquer tipo de liderança política em Aparecida.

Mais de 20 presidentes de partidos estão assalariados na prefeitura. Os 25 vereadores nomearam apadrinhados à vontade. Suplentes bem votados e ex-vereadores também foram aquinhoados. E todos sabem que, caso cometam qualquer deslize, serão imediatamente retaliados, ou seja, serão demitidos ou terão seus indicados exonerados.

Foi o que houve com o vereador Elio Bom Sucesso, do MDB, que anunciou apoio à reeleição do governador Ronaldo Caiado e teve imediatamente exonerados todos os seus indicados pelo prefeito Vilmar Mariano, que sucedeu a Mendanha e mantém-se submisso à sua orientação.

TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO JORNAL DIÁRIO DE APARECEIDA IMPRESSO DO DIA 28 DE JUNHO DE 2022

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