Cidades

Em Aparecida, 10 ruas do Morada dos Pássaros II e América Park esperam por asfalto

Bairros vizinhos já foram asfaltados e moradores que não tem o benefício se sentem discriminados

Luciana Brites

Buracos deixam as ruas intransitáveis tanto em tempos seco quanto de chuva

Dez ruas sem asfalto, cheias de poeira e mato, cercadas de asfalto por todos os lados. Essa é a situação de oito ruas do Setor Morada dos Pássaros 2 e duas ruas do América Park, em Aparecida de Goiânia. Na página do bairro no Facebook são incontáveis as reclamações, que contam a história de uma espera que já dura 40 anos.

Antônio escreve que não entende os motivos pelos quais apenas aquelas poucas ruas não receberam  asfalto.

“É sem lógica. O Porto das Pedras, o Itapuã, o Morada dos Pássaros 1, todos já foram asfaltados e a gente vai ficando pra depois”, relata indignado.

Para Sebastião, o que mais irrita é ouvir, nas palavras dele, as justificativas de sempre.

“Ficam dizendo que é problema de orçamento, depois é de problema de cronograma. Isso tudo é desculpinha pra não resolver”.

Regina acrescenta que sempre que alguma autoridade vai ao bairro diz que o asfalto

“está no projeto mas os anos passam, a lama vai, a poeira vem e tudo continua do mesmo jeito”.

Em uma interação com outra moradora, Rosimar, ela conta que, no período chuvoso, já ficou até uma semana sem sair de casa, por conta das dificuldades.

Excesso de rebaixamento das ruas compromete a estabilidade dos postes de energiaAs fotos publicadas na página mostram buracos, mato alto e até um poste que aparenta estar com a estabilidade comprometida. O problema, no relato de Joaquim, teria sido provocado pelo excesso de patrolamento das ruas.

“De tanto passar máquina as ruas estão sendo rebaixadas. Rebaixa, rebaixa e nada de asfalto. As ruas estão afundando e qualquer hora dessa um poste vai cair, aí vai ser um peteco”, prevê.

Rede de água e esgoto

Mário conta que mora no bairro há 12 anos e que, tempos atrás, a justificativa para não haver asfalto era a necessidade da instalação da rede de água e esgoto, antes da pavimentação. Desde 2021 as ruas contam com esses serviços mas, nem assim, o asfalto chegou.

“Isso é o que mais me chateia, a gente ter rede de  água tratada e esgoto prontos mas não poder fazer a ligação”, desabafa.

Uma equipe de TV é aguardada na próxima semana e isso só aumenta a agitação no grupo. Seis moradores escrevem que estão dispostos a aparecer, mostrar o rosto e reclamar da situação em que vivem.

Antônio informa que fará questão de mostrar a calçada quebrada da porta de casa e contar que no período de chuva as ruas ficam intransitáveis.

“Eu tenho filmado. Essa rua aqui virou um rio e depois tinha dois carros atolados. Vou mostrar”, anuncia.

Mário faz mais um comentário, dizendo que as calçadas, sem o asfalto, não resistem e acabam quebrando em pouco tempo.

“É prejuízo de um jeito ou de outro. Sem elas a gente não entra em casa, fica na lama e a gente já faz sabendo que vão durar pouco”.

Rosimar, que mora na Rua dos Pombos,  avisa que não será gentil com os políticos que aparecerem na região.

“Quando vierem aqui pedir voto e fazer promessa, vou bater com o portão na cara de todos eles, pode ser quem for. Na hora de cobrar o imposto e pedir votos, são bons, mas pra trazer o asfalto, nada”.

Mato alto e coleta irregular de lixo também são problemas

Também há espaço para reclamações sobre o mato alto e a coleta irregular de lixo. Regina, Joaquim e Mário contam que já houve época em que os caminhões de lixo ficavam até uma semana inteira sem passar pelas ruas sem asfalto. O problema aconteceu no período chuvoso e eles especulam que os motoristas tiveram medo de ficar atolados.

Procurada pelo Diário de Aparecida, a prefeitura não se manifestou.

As redes sociais demonstram amplo poder de aglutinação e mobilização

“Hoje eu desafio o mundo sem sair da minha casa”, diz a letra da música “Me deixa”, da banda O Rappa. Hoje, de qualquer lugar do mundo, inclusive de casa, com um celular e acesso à internet, é possível desafiar, reclamar, mostrar, elogiar, curtir e questionar o mundo, a vida e o cotidiano. Quando muitos decidem fazer o mesmo, num ambiente virtual, está criada a rede social.

Fato é que mesmo antes da pandemia, as redes sociais já tinham demonstrado enorme poder de aglutinação e mobilização. Se, por um lado, validaram os conceitos da globalização, no qual todos interagem com todos, ao mesmo tempo e sem fronteiras, as redes sociais também têm o poder de mobilizar grupos menores, que se aproximam por afinidades, preferências ou necessidades. Os grupos de moradores de bairro, ainda muito atuantes no Facebook, são um bom exemplo disso.

O sociólogo espanhol Manuel Castells, considerado um dos mais importantes teóricos atuais sobre comunicação virtual, constatou que as redes sociais abriram uma fenda na imprensa tradicional, que durante séculos monopolizou os canais de comunicação. “Definitivamente, acabou o tempo da comunicação unidirecional”, escreve ele em seu livro “Redes de indignação e esperança”.

Nas redes sociais, todos são repórteres e editores e contam, uns aos outros e para os outros fora do seu convívio, o que vivem, como pensam e o que desejam.  Quando chamam a atenção da grande mídia, comemoram e se enchem de esperança de ver suas demandas resolvidas; se a atenção desejada não vem, pelo menos desabafam, não se sentem sós e, na interação uns com os outros, reforçam um sentimento de pertencimento. (Com informações da Revista Enecult / UFBA).

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