A 40 dias das urnas, uma bomba atômica que implodiu a oposição
Crescimento exponencial e consolidação de vitória no 1º turno com 63% dos votos válidos não eram esperados e colheu os adversários desprevenidos
Na noite do último domingo, 21, uma notícia surpreendeu a classe política em Goiás: o jornal O Popular divulgou a última pesquisa do instituto Serpes, apontando o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) com 47,7% das intenções de voto, ou na prática, com 63% dos votos válidos, o que garante a sua reeleição no 1º turno.
Mais espetacular ainda, Caiado, da pesquisa do Serpes em julho, quando teve 37,6%, para essa nova rodada cresceu inacreditáveis 10 pontos – um desempenho que corresponde a intensa movimentação política do governador e sua constante agregação de apoios de importância.
Pelo que a pesquisa sugere, Caiado vai arrasar a concorrência quando sair o resultado das urnas de 2 de outubro, vencendo no 1º turno com uma margem expressiva de votos válidos. De cada 10 eleitores, o levantamento do Serpes mostrou que entre 6 e 7 vão concordar com mais um mandato para o governador.
Além disso, Caiado predomina em todos os recortes: regiões geográficas, idade, nível de ensino e religião. Supera com folga o evangélico Mendanha entre os evangélicos. Tem 55% no Entorno de Brasília, contra 5% do ex-prefeito de Aparecida e uma mixaria do Major Vitor Hugo. Ganha em Goiânia e no Centro, onde se situa Aparecida, o que prenuncia o que ninguém esperava: a derrota de Mendanha em seu próprio curral eleitoral.
A oposição quedou-se atônita. Gustavo Mendanha (Patriota) veio em 2º lugar, com 19,7%, apenas 1 ponto a mais que o levantamento do mesmo Serpes no mês de julho, quanto Vitor Hugo (PL) apareceu com 3,7%, um acréscimo de pífios 0,6 décimos sobre o seu índice há 30 dias. Todos os demais candidatos somaram mais 8,2 pontos. Tudo somado, os candidatos de oposição têm hoje pouco mais do que a metade do índice alcançado por Caiado. Por isso, a pesquisa do Serpes foi recebida como uma bomba atômica que implodiu a oposição em Goiás, a 40 dias da data das eleições.
Descobriu-se de repente que os oposicionistas não têm a menor possibilidade de reação para fazer frente à irreversibilidade de mais um mandato para o atual governador. Para piorar as coisas, na próxima sexta, 26, começa o horário gratuito da propaganda eleitoral no rádio de televisão, último cartucho para as campanhas que estão atrás, como as de Mendanha e Vitor Hugo.
Só que os dois candidatos estão pessimamente posicionados quanto aos programas do TRE: Mendanha terá 0,58 minutos e Vitor Hugo, 0,52, em cada um dos dois blocos diários, além de 2 a 3 pílulas também diárias de 0,30 segundos, tempo que os especialistas em marketing consideram insuficiente para atender ao mínimo necessário para uma boa comunicação com o eleitorado: se apresentar, formular propostas, criticar os adversários e, em caso de ataques, se defender.
Caiado, enquanto isso, terá a metade do horário da propaganda eleitoral: 5,02 minutos em cada bloco, além de uma avalanche de inserções de 0,30 segundos durante a grade diária das rádios e TVs – entre 13 e 14. Será um massacre, preveem especialistas em publicidade eleitoral.
A isso, o governador está acrescentando uma movimentação de campanha substancial pelo Estado afora – liderando carreatas, caminhadas e comícios na região metropolitana e nos municípios, ao lado da maioria esmagadora das lideranças políticas que têm peso em Goiás.
Mendanha e Vitor Hugo, nesse particular, enfrentam dificuldades para montar agendas consistentes de eventos. No mais das vezes, estão indo praticamente sozinhos a feiras-livres, avenidas e pontos de comércio. Mendanha leva seu candidato a senador João Campos e Vitor Hugo faz o mesmo com o seu, Wilder Morais. Mal dá para fazer fotos, por falta de acolhimento e de gente interessada em conversar ou ouvir os esforçados oposicionistas.
Tempo de rádio e TV de Mendanha e Vitor Hugo não dá para tocar o jingle
Depois de ter sido rejeitado por todos os grandes partidos – PL, PP, Republicanos, PSD e Podemos –, o ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha acabou se filiando ao que sobrou: o Patriota, legenda nanica que mesmo assim se dividiu, com vários dos seus poucos quadros em Goiás preferindo apoiar o governador Ronaldo Caiado.
Já Vitor Hugo saiu-se melhor: graças ao presidente Jair Bolsonaro, de quem de fato é amigo, ganhou o PL na bandeja. O PL é um partido de porte, hoje o maior da Câmara Federal. Garante recursos do fundo eleitoral e um bom tempo na propaganda eletrônica, ao contrário do Patriota de Mendanha.
Mendanha não escolheu o Patriota. O partido, na verdade, foi a tábua de salvação para a sua candidatura aventureira ao governo do Estado. Para piorar as coisas, ele anunciou uma coligação com um pacote de legendas nanicas, que não acrescentaram nada à sua campanha. Na última hora, conseguiu pegar o Republicanos, essa, sim, uma sigla de destaque.
Mesmo assim, tanto para Mendanha quanto para Vitor Hugo, esses partidos foram poucos. A Justiça Eleitoral distribui 90% do tempo de rádio e TV conforme a representação dos partidos na Câmara e Federal e 10% igualitariamente entre os candidatos. No caso de coligações, os segundos e minutos são somados conforme os 6 maiores partidos participantes (sempre em termos de representação na Câmara).
A maioria dos nanicos de Mendanha não contam com deputados federais e, portanto, não entram nessa conta, ou seja, a fatia do horário eleitoral no rádio e TV a que teriam direito é zero. Já o Major Vitor Hugo ficou isolado no PL e não conseguiu mais nenhum partido para reforçar a sua candidatura.
Resultado: enquanto o governador Ronaldo Caiado montou uma frente de 12 legendas e reservou, com isso, 50% do horário eleitoral de propaganda gratuita no rádio e televisão, além de 13 a 14 inserções diárias, Mendanha e Vitor Hugo acabaram um com 0,58 segundos e o outro com 0,52 segundos. Além disso, 2 pílulas diárias, de vez em quando 3.
Não dá tempo nem para tocar os jingles de campanha. O de Mendanha tem 1,33 minuto e o de Vitor Hugo, que mais exalta Bolsonaro que a sua própria candidatura, 1,2 minuto.
Com tão pouca exposição, os dois oposicionistas estão condenados a passar incógnitos pelos 36 dias de campanha pelo rádio e TV. Principalmente na televisão, onde a repetição é essencial, não serão vistos nem lembrados pelos telespectadores.