Política

Polarização entre Lula e Bolsonaro não tem reflexos na campanha ao governo de Goiás

Enquanto o presidente da República alcança 40,8% das intenções de voto e o ex-presidente 34,5%, no Estado, segundo o Serpes, Major Vitor Hugo (PL) tem 3,6 % e Wolmir Amado (PT) e Cíntia (PSOL) pontuam ainda pior

Campanha nacional domina a eleição e concentra as atenções no enfrentamento entre Lula e Bolsonaro, mas sem consequências na disputa pelo Palácio das Esmeraldas

Por: Helton Lenine

Presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estão em disputa acirrada também em Goiás. O primeiro aparece com 45,1% e o petista com 30,5%, segundo dados do Paraná Pesquisas, divulgados no último dia 10. Na pesquisa Serpes/O Popular, imbatível em matéria de credibilidade, Bolsonaro aparece com 40,8%, enquanto Lula tem 34,5%.

 

No entanto, esses números não se refletem nas candidaturas locais. O candidato que representa Bolsonaro em Goiás, Major Vitor Hugo (PL), se equilibra na faixa de 3,6%, no Serpes. Para a esquerda no Estado, a situação é ainda pior. Mesmo juntando as intenções de votos do ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Wolmir Amado e da candidata da federação PSOL/REDE, Cíntia Dias, o resultado fica longe dos 30% de Lula, o total dos dois alcança a casa dos 5 pontos.

 

Mário Rodrigues, diretor do Grupom Pesquisas, destaca que falta um estudo para atestar o grau de conhecimento dos eleitores acerca dos candidatos ao governo de Goiás. “A maioria considera que votar nos candidatos à presidência já resolve. O nível de indecisos para o cargo de presidente é muito baixo. Para os demais cargos, os índices de indecisos são bem elevados, mas está sobrando muito pouco tempo para os candidatos a outros cargos serem conhecidos”, pontuou.

 

O especialista salienta ainda que os postulantes ao Palácio das Esmeraldas se apresentaram ao eleitorado há menos de 6 meses; no caso do candidato do PT em Goiás, Wolmir Amado, ele se colocou de fato na disputa neste mês, pois havia a perspectiva de uma frente ampla pró-Lula, liderada pelo ex-governador Marconi Perillo (PSDB).

 

“Não houve tempo para se tornarem conhecidos e, muito menos, mostrar quais seriam seus planos de governo. O nível de desconhecimento é enorme e os índices alcançados por todos eles até agora deve-se mais ao descontentamento com o governo estadual do que com seus projetos políticos”, afirma.

 

Nessa conjuntura, o ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha (Patriota) tem buscado colar também. No Serpes, ele está com 19,7% de intenção de votos, menos da metade do que o presidente alcança em Goiás. Vitor Hugo, pior ainda: só 3,5% de intenções de voto. A tradição, em Goiás, é a separação entre as campanhas presidencial e estadual, sem interpenetração.

 

Sem ligação com o cenário eleitoral do país, Caiado faz campanha com independência e lidera as pesquisas

 Caiado repete 2018 e não vincula a candidatura a um presidenciável

 

 

O governador Ronaldo Caiado está distante das campanhas presidenciais de Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) em Goiás, mesmo porque o seu partido – União Brasil – tem candidato, ou seja, candidata ao Palácio do Planalto: a advogada Soraya Thronicke, senadora pelo estado de Mato Grosso do Sul, em substituição a Luciano Bivar.

 

Caiado faz campanha da mesma maneira de 2018, quando concorreu ao governo de Goiás de forma independente, sem se envolver na disputa presidencial. Ganhou as eleições no 1º turno, o que deverá se repetir no pleito deste ano, conforme todas as pesquisas divulgadas até agora.

 

Nas eleições para o governo de Goiás, desde a redemocratização do país, nunca houve impacto em razão do pleito presidencial, pois o goiano sempre separou as motivações de cada pleito. O maior exemplo disso é que Lula de elegeu 2 vezes presidente e Dilma Rousseff também 2, porém nem por isso os candidatos do PT deslancharam suas campanhas em Goiás.

 

Caiado segue fazendo uma campanha propositiva, mostrando as ações que praticou para recuperar a administração do Estado, sem ataques aos adversários, o que tem sido compreendido pelo eleitor: o governador cresceu 10% de intenção de votos do levantamento do Serpes realizado em julho para agosto deste ano e agora chega a 63% dos votos válidos, suficientes para eliminar, com folga, a necessidade de um 2º turno.

 

 

Atual presidente lidera no Centro-Oeste e Sul, enquanto o petista no Sudeste, Norte e Nordeste

 

Os números a seguir são impressionantes. O Brasil é a 4ª maior democracia do planeta em número de eleitores registrados. A quantidade de votantes é igual a 148,3 milhões, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se comparado com 2018, que registrou 147,3 milhões para o pleito daquele ano, percebemos uma evolução de 0,7% para a eleição deste ano.

 

Com algumas pesquisas eleitorais divulgando seus resultados com recortes regionais, uma pergunta de enorme relevância é: em quais regiões do país a disputa eleitoral deverá ser travada? A região Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo) segue sendo o maior colégio eleitoral do país, com 63,3 milhões de eleitores, o que equivale a 42,6% de todo o eleitorado brasileiro.

 

A região Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) é o segundo maior colégio eleitoral, com 39,8 milhões de eleitores (ou 26,8% do total). Essas duas regiões somam juntas quase 70% do total de eleitores no país. Sudeste versus Nordeste Pela sua dimensão demográfica, o Sudeste é sempre decisivo nas eleições presidenciais.

 

No primeiro turno de 2018, por exemplo, Jair Bolsonaro (então no PSL) ganhou de Fernando Haddad (PT) em todas as regiões – exceto no Nordeste, tradicional reduto petista – com uma diferença nacional de 18 milhões de votos, sendo que 85% dessa diferença foi obtida no Sudeste.

 

Essa região foi fundamental para a vitória de Bolsonaro no passado, mas será agora? Chama a atenção que, dos 18 milhões de votos de vantagem de Bolsonaro sobre Haddad, um total de 15,3 milhões vieram da diferença entre eles no Sudeste. Ou seja, estes 15,3 milhões de votos mais do que compensaram a desvantagem de 24,7 pontos percentuais de Bolsonaro no Nordeste, onde Haddad abriu uma margem a seu favor de 7,2 milhões de votos no primeiro turno daquele ano.

 

Por regiões, Bolsonaro está numericamente à frente no Sul, Centro-Oeste e Norte, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera no Sudeste e no Nordeste, aí com grande diferença. Observa-se que Lula é o beneficiário do desgaste de Bolsonaro depois de três anos e seis meses de um governo com baixos índices de aprovação popular – os mais baixos da história entre presidentes em primeiro mandato.

 

Essa realidade traduz-se em números de intenção de votos inferiores aos obtidos pelo atual presidente em 2018. Em um ambiente concorrencial tão adverso, a estratégia do governo visando à reeleição de Bolsonaro fatalmente apostará em instrumentos para que a imagem de Lula seja afetada de tal maneira que possa vir a perder pontos nas pesquisas, não só no Sudeste, mas também no Sul, Centro-Oeste e Norte. Como resultado, o eleitor vai começar a se defrontar com lembranças públicas e midiáticas do passado e da conturbada era petista em período mais recente.

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