Política

“Embate com Bolsonaro sobre a pandemia é assunto superado em Goiás”, diz Caiado

Governador fala ao mais importante jornal do país e explica por que resolveu apoiar a reeleição no presidente, no 2º turno

Foto publicada pela Folha de S. Paulo para ilustrar a reportagem com o governador Ronaldo Caiado

O governador reeleito de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), garantiu ao jornal Folha de S. Paulo que o embate com Jair Bolsonaro (PL) sobre a pandemia de Covid-19 é um assunto superado e acrescentou ter declarado apoio ao presidente depois de colocar na balança o “contexto global”. “Você tem que analisar o todo. Você, por exemplo, coloca o problema da pandemia, um ponto de divergência. Vamos botar outros pontos. Eu fui o único governador no Brasil que conseguiu fazer a renegociação da dívida e entrar no Regime de Recuperação Fiscal”, argumentou o governador.

Caiado avaliou que “nunca teve um governo com tamanho volume de repasse aos governadores e prefeitos” como o governo Bolsonaro. O governador lembrou também que nunca brigou com o resultado das eleições e que chama a urna eletrônica de “Vossa Excelência”, mas poupa Bolsonaro pelas ameaças golpistas e ataques ao sistema de votação atual.

Sinceramente, eu não o vi contestar o resultado das urnas neste momento, no 1º turno”, diz.

 

 

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 “Jamais briguei com urnas. Aliás, eu as chamo de Vossa Excelência”

 

Folha de S. Paulo – O sr. rompeu a relação com Bolsonaro no auge da pandemia e decidiu apoiá-lo no segundo turno. Não há incoerência nessa mudança de posição?

 

Ronaldo Caiado – De maneira alguma. Primeiro porque sou uma pessoa extremamente coerente. Se eu tivesse mudado a minha posição em relação às ações que tomei para enfrentar a pandemia, aí sim. Esse é um assunto superado em decorrência da chegada da vacina e dos protocolos que implantei. Nós estamos agora em um outro momento. Se [a eleição] fosse restrita ao eleitorado goiano, o presidente Bolsonaro, como eu, teria sido eleito no 1º turno. Pela votação expressiva que ele teve no Estado de Goiás, declarei apoio a ele.

 

Folha – Quando o sr. fala assim, parece que está apenas seguindo a vontade do eleitorado goiano.

Caiado – Sem dúvidas. Sou um democrata. Jamais abri mão dessa posição. Nunca briguei com o resultado das urnas. Nunca. Não discuto com urna. Chamo urna de Vossa Excelência, entendeu? Porque ali é o sentimento da população.

 

Folha – O presidente Bolsonaro é a melhor opção?

Caiado – Eu, com 39 anos de idade, fui candidato a presidente da República quando enfrentei também o PT e Lula. Então isso é uma história de vida. Você vai naquilo que não é contraditório com o que você defendeu a vida toda. Nunca abri mão da vida, do direito à propriedade, da economia de mercado, da liberdade do cidadão. São princípios que sempre defendi.

 

Folha – Nesse caso, o apoio do sr. é menos uma questão de acreditar em Bolsonaro e mais de rechaçar o outro lado?

Caiado – Não. Vejo que você faz uma escolha, simplesmente. Você tem que analisar o todo. Você, por exemplo, coloca o problema da pandemia, um ponto de divergência. Vamos botar outros pontos. Fui o único governador do Brasil que conseguiu fazer a renegociação da dívida e entrar no Regime de Recuperação Fiscal, deu governabilidade ao Estado de Goiás. Fiz parcerias com o governo federal.

Se você for contabilizar quais são as divergências, foram do ponto de vista do protocolo, que cumpri com base na ciência. Isso aí é um assunto. Não me impediu de fazer convênios com o Ministério da Saúde, ampliar e regionalizar minha rede, expandir minha rede de educação, ter segurança pública e programas sociais.

Eu, como ex-parlamentar, posso lhe dizer que nunca teve um governo com tamanho volume de repasse aos governadores e prefeitos como nós tivemos neste governo. Eu discuti com o presidente, mas é meu estilo. Vão ter momentos em que vou concordar e outros em que vou discordar, mas, se eu puser na balança, avancei muito mais na parceria com o presidente Bolsonaro do que, acredito eu, se tivesse a continuidade do governo Dilma.

 

 “Não fui sozinho apoiar o presidente, levei comigo mais de 200 prefeitos”

 

 

Folha – O sr. conversou a sós com o presidente antes de anunciar apoio a ele?

Caiado – Na segunda-feira mesmo [dia 3], ele me ligou meio-dia para conversar comigo e pediu que a gente fosse lá. Eu vou ser bem objetivo com você. Eu também sou muito pragmático, até porque sou cirurgião. Eu não fui ao Palácio da Alvorada para simplesmente conversar. O que eu disse foi: presidente, eu cheguei aqui e tem mais de 200 prefeitos ali na sala. Fui o único governador que não foi visitar o presidente sozinho.

Dos 246 prefeitos de Goiás, eu levei mais de 200 prefeitos e prefeitas a ele. Eu falei: “Presidente, o que ganha a eleição agora não é fazer discurso para convicto. Ao invés de ter reuniões, com todo respeito, com empresários, industriais e tudo mais, agora você tem que fazer política com político. Fazer política com quem sabe onde tem votos, quais são as angústias, as dificuldades em cada local, o que cada um enfrenta. Quem tem capacidade de mobilização, quem tem capacidade de convencimento, quem tem capacidade de reverter o quadro são os prefeitos e vereadores”.

 

Folha – O presidente já afirmou que vai avaliar a proposta de aumentar o número de ministros do Supremo. O sr. concorda?

Caiado – Uma coisa é você ter a sua ideia. Outra coisa é aprovar isso no Congresso. Eu, sinceramente, acho que a tese de você ter mandato é muito mais democrática do que a aposentadoria por idade. Se ele [presidente] tem força para aumentar, tem força para nomear. Se ele colocar todos os ministros com 40 anos de idade, todos terão 35 anos de mandato. Eu sou defensor do mandato no Supremo.

 

Folha – Como o sr. imagina a relação com o ex-presidente Lula em um eventual governo?

Caiado – Eu aprendi que você tem que respeitar a liturgia do cargo público. Se ele for o presidente, eu chegarei lá como governador do Estado de Goiás. Da mesma maneira, ele vai me tratar como sendo presidente da República. Eu respeito a liturgia, mas consciente das minhas prerrogativas, dos meus direitos e do que devo levar para o povo de Goiás. Nós convivemos na Câmara e no Senado a vida toda. Divergências, na democracia, não significam que você não vá conversar, que seja inimigo. Essas coisas não me dão nenhuma intranquilidade. Claro que vou trabalhar para que Bolsonaro seja o presidente.

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