Queda de braço entre Lula e Bolsonaro não esquenta o clima eleitoral em Goiás
A poucos dias da data das urnas, movimentação eleitoral ainda é fria e se limita a reuniões promovidas por Caiado e Wilder e a carros adesivados nas ruas
A disputa entre o ex-presidente Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), cujo desfecho se dará no próximo dia 30 de outubro, um domingo, não esquentou o clima eleitoral nas maiores cidades de Goiás. Pelo menos até o início da última semana até a data das urnas. Afora carros trafegando com adesivos de Bolsonaro, não há mais nenhuma movimentação.
As campanhas decidiram não promover comícios, carreatas e caminhadas, limitando-se a reuniões para a mobilização de lideranças. Mesmo assim, uma carreata cruzou as ruas de alguns bairros como o setor Bueno, em Goiânia, no final da tarde de sexta, 21, liderada pelo deputado federal eleito Gustavo Gayer.
Não há como negar que o bolsonarismo tem ocupado mais espaço. A luta pela reeleição do presidente é comandada estadualmente pelo governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e pelo senador Wilder Morais (PL), que estão se reunindo com prefeitos no comitê montado à frente à nova sede da Assembleia Legislativa para distribuir material e orientar sobre o trabalho a ser feito nos municípios.
É óbvio que, dentro dessa estratégia, o peso do governador é grande: o seu poder de atração tem garantido quórum elevado a esses eventos, que juntam entre 40 e 50 prefeitos a cada edição.
A estratégia definida por Caiado é a de acionar o dispositivo montado para a sua própria eleição, no interior do Estado, quando cerca de 236 dos 246 prefeitos se engajaram com força na sua candidatura vitoriosa. Ele tem a opinião de que, agora no 2º turno presidencial, o corpo-a-corpo das lideranças municipais tem mais importância para aumentar a votação de Bolsonaro que postagens nas redes sociais e manifestações nas ruas.
Caiado está sendo secundado pela primeira-dama Gracinha Caiado, que também promove encontros com prefeitas, primeiras-damas e lideranças municipais, dentro de uma série de reuniões eleitorais batizadas de “Mulheres com Bolsonaro”.
Fora Caiado e Wilder, nem mesmo os políticos que se declararam bolsonaristas de primeira hora, em Goiás, têm aparecido em público para pedir votos para o presidente, a não ser nas redes sociais – onde pontificam Major Vitor Hugo e os deputados estaduais reeleito Major Araújo e Delegado Eduardo Prato.
O ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha, apesar de ter declarado voto em Bolsonaro no 1º turno mesmo sem ter a sua candidatura apoiada pelo presidente, voltou das férias e foi a Brasília, onde participou de um almoço no Palácio da Alvorada com a presença de Bolsonaro em carne e osso.
Como de hábito, Mendanha postou a foto nas suas redes sociais, dando a entender que só ele e o presidente estavam na mesa, em ao lado, no entanto, sentava-se, por exemplo, o Major Vitor Hugo.
O próprio Bolsonaro postou nas suas redes sociais uma foto mais completa, aparecendo os demais convivas, interpretando a situação como um atestado de que Goiás estaria 100% ao lado da sua reeleição, uma vez que os principais candidatos ao governo – Caiado inclusive – declararam o seu apoio a ele.
O ágape teria provocado ciúmes nos deputados federais bolsonaristas Prof. Alcides e Magda Mofatto, que apoiaram Mendanha para o governo do Estado, mas não foram convocados para acompanhar o ex-prefeito a Brasília.
Com vantagem de 465.480 votos no Estado, no 1º turno, presidente ainda pode ampliar
Jair Messias Bolsonaro venceu Luiz Inácio Lula da Silva em Goiás, no 1º turno, com quase 2 milhões de votos e uma vantagem de exatos 465.480. Consta que se trata do melhor resultado numérico já obtido no Estado por um candidato a qualquer cargo eletivo, em todos os tempos.
Bolsonaro teve quase 100 mil votos a mais que o governador Ronaldo Caiado, eleito no 1º turno – quando não declarou apoio a nenhum candidato a presidente, nem mesmo à representante do seu partido, o União Brasil, na disputa, que foi a senadora Soraya Thronicke.
Mas, já na segunda-feira após o domingo da eleição do 1º turno, Bolsonaro telefonou cedo para Caiado para abrir o diálogo e tratar da hipótese de apoio do governador goiano ao seu nome, que não tardou e veio logo no dia seguinte.
Na sequência, Caiado foi a Brasília levando um grande número de prefeitos e foi ao Palácio da Alvorada para tornar público, de viva voz, o seu engajamento na campanha da reeleição presidencial.
A principal justificativa apresentada por Caiado foi a de que “tem lado”: sempre combateu as esquerdas, sem nunca sair do campo democrático, e não seria agora que mudaria de posição ou se omitiria, como fez questão de frisar durante o evento de anúncio de apoio a Bolsonaro.
O governador retomou a sua agenda administrativa, prejudicada pelos 46 dias de campanha do 1º turno, mas tem reservado espaço para promover reuniões com prefeitos, convocados a Goiânia para alinhamento com o proselitismo da reta final do 2º turno a favor do presidente.
Meta de Caiado, Wilder e Vitor Hugo é ousada
Lançada inicialmente pelo deputado federal e candidato derrotado a governador Major Vitor Hugo, a meta do bolsonarismo em Goiás é conquistar um milhão de votos a mais para a reeleição do presidente, no 2º turno, além dos quase 2 milhões alcançados no 1º turno.
Endossando esse objetivo, logo se juntou o senador eleito Wilder Morais e por último o governador Ronaldo Caiado. Todos eles definindo como meta alcançar os tais 1 milhão de votos a mais, o que seria uma façanha dada as dificuldades como a abstenção de quase um milhão de eleitores no 1º turno, que costuma aumentar no 2º e reduz o contingente de votos válidos para pouco mais de 3 milhões, no máximo.
Para tornar realidade a meta de Major Vitor Hugo, Wilder e Caiado seria praticamente necessário que pelo menos 3 milhões votassem em Bolsonaro. Ou seja: uma quase unanimidade, matematicamente impossível, quando se lembra que, no 1º turno, Lula chegou a quase 1,5 milhão de sufrágios.
O discurso de um milhão de votos a mais, portanto, é retórica. Um instrumento de campanha, destinado a motivar a militância bolsonarista a arregaçar as mangas e sair de porta em porta pedindo votos para o presidente.