Mudanças climáticas e verticalização aumentam pontos de alagamento em Goiânia
Especialistas destacam necessidade ações na infraestrutura para minimizar o impacto dos alagamentos
Certamente os alagamentos ocorridos nas últimas semanas em Goiânia chamou sua atenção. Na internet, moradores e veículos de notícias compartilharam cenas, em diversos bairros, mostrando que as ruas estavam intransitáveis.
De imediato, muitos comentários nas redes sociais e em grupos de Whatsapp apontavam que deveria ser o excesso de chuva que estava causando tantos alagamentos na cidade. Outros já falavam em excesso de asfalto ou excesso de prédios.
Para entender o que, de fato, acontece, a equipe do Diário de Aparecida foi a campo e em busca de pesquisas e profissionais que possam explicar o que está causando o problema. Em busca rápida pelo Google verificamos que o problema é recorrente e que, desde 2014 muitos pontos já são noticiados com amplitude.
De acordo com André Amorim, meteorologista do Climego, o caso dos alagamentos em Goiânia já estão se tornando recorrentes. Ele recorda que em 2017, o Lago das Rosas, que no último domingo ficou alagado e transbordou para a Avenida Anhanguera, também teve um grande transbordamento que paralisou a avenida. “A única diferença nas imagens são os pedalinhos que este ano foram para o meio da rua”, recordou.
André destaca que as mudanças climáticas e a variabilidade climática estão diretamente ligadas ao que está acontecendo em Goiânia. De acordo com ele, a variação da forma das chuvas em Goiânia está causando boa parte do transtorno. “Não é que as chuvas estão acima da média. Há uma maior ocorrência de tempestades. E isso é algo que é apontado dentro das mudanças climáticas. Hoje Veneza está com os seus canais secos e o Brasil com enchentes e alagamentos”” disse o meteorologista ao explicar que a situação dos alagamentos em Goiânia é causada por diversos fatores, entre eles climáticos e ambientais a nível internacional.
Sobre o volume das chuvas, o meteorologista disse que não está chovendo tanto quanto está sendo imaginado. Segundo ele, de outubro de 2021 até 22 de fevereiro de 2023 choveu 1700 milímetros de chuva. Já de outubro de 2022 até 22 de janeiro de 2023 são 1180 milímetros.
“Não está chovendo tanto quanto a gente imagina. A ocorrência de tempestades está nos trazendo uma falsa impressão de que está chovendo demais. Não quer dizer que não esteja chovendo. As chuvas estão muito concentradas em alguns locais”, disse ao explicar que de 2021 para 2022 choveu mais que de 2022 para 2023, mas que neste ano estão tendo muitas tempestades que chamam a atenção.
O meteorologista explicou que quando se compara regiões bem próximas em dias de tempestade, como aconteceu no domingo, há uma discrepância muito grande na quantidade de chuva e isso confirma que as tempestades são locais e intensas.
Os dados do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás (CIMEHGO), fornecidas pelo meteorologistas mostram que na terça-feira, 21, na região leste (autódromo) choveu 25,4 mm; na região leste (jardim Olinda), 48,2mm; na região norte (Sta. Genoveva), 16,4mm; na região Noroeste (Pompeia), 24,0mm; na região Noroeste (Perim): 91,4mm; na região Noroeste (Jardim Curitiba), 10,0mm; na região Noroeste (aeródromo), 9,4mm; e na região Central, aproximadamente 45,0mm. O maior volume de chuva caiu em torno de 1h e 15 minutos. E, as rajadas de vento na capital na casa dos 45 a 51,8km/h
O meteorologista destacou que espera que os alagamentos não sejam vistos como algo normal e que é preciso traçar estratégias para que isso seja revertido. Entre as ações citadas por ele estão a drenagem urbana, a impermeabilização, devido a grande quantidade de asfalto e concreto, que torna a área de absorção da água. “Nós fomos ocupando espaços que não deveríamos ter ocupado. Agora não tem como voltar atrás. Já que já estamos aqui temos que buscar soluções e traçar outras estratégias”, destacou.
O Engenheiro Civil e Conselheiro do Crea-GO, Henrique Toledo Santiago, destaca que é preciso investimento para atualização do sistema de água pluvial, principalmente nos bairros que estão recebendo grande verticalização. Foto: Acervo Pessoal.
O Engenheiro Civil e Conselheiro do Crea-GO, Henrique Toledo Santiago, explica que o déficit de planejamento urbano e a verticalização da cidade é um dos fatores complicadores e causadores dos alagamentos em Goiânia. Santiago explica que nas regiões em que estão acontecendo os alagamentos, ou pelo menos na maioria delas, nota-se um adensamento populacional causado pela verticalização sem planejamento e sem estrutura. Como exemplo, ele citou a região do entorno do Lago das Rosas. “Antigamente tínhamos mais casas. Três lotes, cada um com uma família, foi transformado em um prédio que tem uma média de 80 a 120 famílias. Esses edifícios chegam sem planejamento para receber essa mudança”, explicou.
Santiago também explicou que um outro problema recorrente e que precisa ser solucionado é o descarte de lixo em vias públicas. “É uma questão de educação mesmo. As pessoas fazem o descarte errado do lixo, jogam na rua ou deixam no chão os sacos de lixo. Quando vem a chuva, eles são arrastados para os bueiros que acabam sendo obstruídos, o que dificulta a passagem da água”, explicou o engenheiro.
O conselheiro do Crea, destaca também o que André Amorim já havia nos falado: a mudança do perfil da chuva. De acordo com ele, com as tempestades, que aumentam o índice pluviométrico em uma pequena região, o escoamento da água fica mais difícil e requer outro tipo de estrutura na cidade, que não está preparada para isso.
Sobre a solução para a questão, o engenheiro foi enfático em dizer que por fim nestes alagamentos não é uma tarefa fácil e nem barata. Ele destacou que é necessário investimento para atualização do sistema de água pluvial, principalmente nos bairros que estão recebendo grande verticalização como é o caso do Marista, o baixo bueno, setor sul, coimbra, jardim américa.