Goianas empreendem e buscam independência financeira
Pesquisa do Sebrae em parceria com a UFG mostra que número de empreendedoras goianas dobrou nos últimos 40 anos
Uma pesquisa desenvolvida pelo Sebrae Goiás, em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) mostra que em hoje 42% das empresas goianas são criadas por mulheres. Em 1980, o índice era de 21%.
Do total global dos empreendedores goianos, 35% são mulheres. Destas, 30% são trabalhadoras por conta própria e 5% de empregadoras. As empregadoras têm idade média de 43 anos, enquanto as trabalhadoras por conta própria têm em torno de 41 anos.
A renda média da empreendedora goiana é de R$ 2.263. O estudo mostrou que os homens empreendedores possuem renda média de R$2.943, que é 30% mais alta que a renda média das mulheres.
Uma dessas mulheres que está fazendo a diferença e mudando a realidade empreendedora de Goiás é Silvia Takamine, 40 anos. Formada em Engenharia de Alimentos pela Universidade Federal do Tocantins, ela se viu sem emprego e precisou se reintegrar ao mercado de trabalho, após se casar e mudar de estado.
Chegando a Goiânia, ela decidiu empreender. Aproveitou o conhecimento adquirido na faculdade e investiu na produção de marmitas saudáveis e marmitas fitness. “Eu sempre tive uma alimentação bastante balanceada e quando cheguei aqui, há 10 anos, percebi esse gargalo. Iniciei a produção experimental em casa. Hoje emprego 6 mulheres”, revelou Silvia.
Outro exemplo é Cristiana Costa, 60 anos. Cristina é natural de Formoso, no interior de Goiás, casou cedo e se mudou para Aparecida de Goiânia aos 24 anos. Na época ela já tinha 4 dos 9 filhos. Ela revela que não pode estudar, por ter se casado aos 14 anos, e que dedicou sua vida à família.
Aos 55 com todos os filhos criados e já casados, ela ficou viúva, e precisou buscar alguma coisa para preencher o espaço deixado pela ausência do marido e dos filhos. Foi aí que ela fez um curso de cartonagem, que é uma técnica artesanal para fabricar caixas e convites e cartões de luxo.
“Peguei gosto por essa fabricação. Hoje eu tenho duas ajudantes e já estamos com a nossa agenda lotada até setembro deste ano. A melhor coisa que eu fiz foi empreender. Minha vida mudou do marasmo para a atividade constante”, disse.
Cristina revelou ainda que está montando dois cursos de cartonagem. “Vamos ter aulas online e presenciais. Muita gente das cidades vizinhas ou mesmo de Goiânia me procuram para aprender. Ainda não tinha organizado o curso, mas esse ano sai”, revelou.
A ex-dona de casa disse que soubesse o quanto é bom ser independente financeiramente, tinha buscado empreender a muitos anos atrás. “Tudo eu precisava pedir pro meu marido. Veja bem, eu pedia R$:30,00 pra fazer unha. Hoje acho isso uma vergonha. Tenho meu dinheiro. Mantenho minha casa, compro os presentes dos meus netinhos, faço minhas viagens”” revelou.
Luzia Silva, 39, é trabalhadora por conta própria. Faz bolos e doces em casa e garante a renda para pagar todas as contas e manter o sustento dos três filhos. Ela aprendeu a arte da confeitaria há 4 anos quando fugiu de casa com os filhos após ser agredida pelo ex-marido.
Ela relata que as agressões eram constantes e que naquele dia sentiu que precisava colocar um fim naquela situação. “Eu percebi que iria morrer se eu continuasse lá. Me preocupava o futuro dos meus filhos e qual a imagem que eles teriam da mãe e do pai. Fugimos, ele veio atrás de nós após o juiz determinar a medida protetiva. Chamamos a Polícia e ele morreu em confronto. Não foi o fim que eu queria, mas desde então eu precisei me virar para cuidar das crianças”, conta.
Luzia diz que fatura mais de R$ 4 mil mensais com o seu trabalho. “Eu sou prova que com qualificação e resistência, podemos virar o jogo. Era dependente. Vivia uma situação de violência familiar por ter medo dos meus filhos passarem fome. Graças a Deus, fomos acolhidos, qualificados e viramos o jogo”, finalizou.
Mais dados da pesquisa do Sebrae e da UFG
A pesquisa desenvolvida pelo Sebrae e pela UFG apontou ainda que renda das mulheres goianas ainda é menor que a dos homens, como em todo o Brasil. Porém, nos últimos três anos , houve aumento constante do ganho das empreendedoras empregadoras. A média saiu de R$ 4.576 em 2019 para R$ 5.202 em 2021.
O estudo também apresenta a média da renda das trabalhadoras por conta própria. Em 2019 esse valor era de R $1.737. No ano seguinte, em 2020, houve uma redução (R $1.511), seguido de um crescimento (R $1.780) em 2021.
A organizadora e coautora do estudo, Polyanna Marques Cardoso, que é analista da Unidade de Gestão Estratégica do Sebrae Goiás, ressalta que este é um trabalho muito rico, pois reúne estatísticas de vidas reais.
De acordo com o diretor superintendente do Sebrae Goiás, o empreendedorismo por mulheres contribui para o crescimento da economia, para a criação de empregos e para a transformação das relações sociais. As empresárias influenciam e inspiram outras mulheres, compartilhando suas histórias e ajudando-as a superar os obstáculos e desafios.
“Este estudo tem uma importância não só para atuação do Sebrae, mas traz informações para os atores públicos na construção de políticas em favor do empreendedorismo feminino e de direcionamento de alternativas de apoio às mulheres em situação de vulnerabilidade”, diz.