Estudo revela circulação da bactéria da febre maculosa em Goiás
Pesquisadores da UFG identificam bactéria que transmite a febre maculosa
Uma pesquisa patrocinada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), envolvendo cientistas da Universidade Federal de Goiás (UFG), descobriu a presença de bactérias responsáveis pela febre maculosa em Goiânia. Amostras de diversas áreas da capital goiana e também de outros locais de Goiás, onde a doença não havia sido registrada até recentemente, revelaram a circulação dessas bactérias.
No Brasil, entre 2007 e 2021, foram confirmados 2601 casos de febre maculosa, com 848 resultando em morte, conforme dados do Sistema de Informação de Agravos e Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde. Isso indica que cerca de 33% dos infectados não resistem à doença. Em Goiás, foram reportados 16 casos confirmados durante o mesmo período, sem nenhuma morte registrada.
Embora os resultados da pesquisa tenham sido divulgados em março deste ano, o tema ganhou destaque recentemente após a notificação de 12 casos em São Paulo, com seis mortes. Acredita-se que a maioria dos infectados tenha sido picada por carrapatos em uma fazenda próxima à cidade de Campinas.
No estudo conduzido pela Fapeg, o Dr. Felipe da Silva Krawczak, da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) da UFG e consultor do Ministério da Saúde, juntamente com sua equipe do Laboratório de Doenças Parasitárias (LADOPAR-UFG), começou uma investigação para avaliar a possível circulação de riquétsias (bactérias) em carrapatos coletados de cães, cavalos e capivaras, que são os principais hospedeiros desses parasitas.
A pesquisa também envolveu o teste de anticorpos contra riquétsias, responsáveis pela febre maculosa, em amostras de sangue desses animais. O estudo contou com o financiamento da Fapeg, através do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS).
Sob a coordenação do professor Krawczak, a equipe LADOPAR/EVZ/UFG coletou carrapatos de cães, cavalos e capivaras em áreas de vigilância epidemiológica, além de realizar exames moleculares e sorológicos para riquétsias. Os resultados demonstraram a circulação dessas bactérias, destacando a necessidade de estudos mais aprofundados sobre a doença na região e a implementação de medidas de vigilância mais intensivas, especialmente em áreas com capivaras que podem servir como hospedeiros para a bactéria.
Os dados coletados durante o estudo são encaminhados às secretarias de saúde do estado e da capital para tomada de decisões e para publicações científicas. “Nós fornecemos informações para que as autoridades saibam se há risco para os humanos; se esses carrapatos estão infectados e se são carrapatos que picam humanos”, explicou Krawczak.
O objetivo deste programa de financiamento é apoiar pesquisas que visam melhorar a qualidade da assistência à saúde em Goiás, contribuindo significativamente para o desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (CT&IS) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O programa é realizado em parceria com o Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (Decit/SCTIE) do Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Secretaria de Estado da Saúde (SES).
A febre maculosa brasileira (FMB) é uma doença transmitida pela picada do carrapato Amblyomma sculptum (conhecido popularmente como carrapato estrela), que é portador da bactéria Rickettsia rickettsii. A doença é mais comum em áreas rurais ou locais infestados por carrapatos que podem estar infectados pela bactéria, que é hospedada principalmente por capivaras e cavalos.
Para que a transmissão ocorra, o carrapato infectado precisa estar fixado na pele do indivíduo por pelo menos quatro horas. De acordo com o Ministério da Saúde, as larvas e, em especial, as ninfas do carrapato são as fases mais agressivas para os humanos.
Esses carrapatos podem se mover rapidamente por mais de um metro em busca de um hospedeiro, atraídos pelo CO2 expelido durante a respiração. Portanto, a prevenção é essencial, recomendando-se o uso de roupas longas e claras, preferencialmente com botas, ao entrar em áreas de mata.
“A febre maculosa brasileira é uma das doenças infecciosas mais letais do mundo”, destaca o pesquisador Felipe Krawczak. Por seus sintomas se assemelharem aos de outras doenças, como mal-estar, febre e dor de cabeça, a febre maculosa pode ser facilmente confundida com condições virais. Daí a importância de informar ao médico a frequência a lugares como fazendas ou áreas de mata com a presença de cavalos e capivaras e se houve observação de carrapatos no corpo.
O diagnóstico tardio pode ocorrer devido à confusão com outras doenças, o que aumenta o risco de evolução da doença. Em alguns casos, pode ser necessária a hospitalização do paciente. A falta de tratamento ou demora pode agravar o quadro da febre maculosa, podendo levar à morte. Segundo o Ministério da Saúde, o tratamento é feito com antibióticos específicos e deve ser iniciado assim que a doença é suspeitada.
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