Brasil

Caiado critica Lula e estreita laços com Israel

Especialista diz que Caiado e Tarcísio de Freitas discutem cooperação e geopolítica, enquanto almejam apoio para as eleições de 2026 e fortalecem laços com o eleitorado evangélico, num contexto de críticas brasileiras às ações israelenses em Gaza

Em uma recente movimentação política, os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil) de Goiás e Tarcísio de Freitas (Republicanos) de São Paulo aceitaram um convite do Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para visitar o país. A viagem acontece em um contexto onde as relações internacionais estão especialmente tensas, devido às críticas feitas pelo presidente brasileiro Lula à ofensiva de Israel em Gaza, que ele chegou a comparar ao genocídio e ao holocausto.

A agenda da visita inclui uma série de compromissos significativos, como uma visita ao local de ataques do Hamas durante um festival de música e encontros com sobreviventes desses ataques, além de uma visita ao Museu do Holocausto. Os governadores também têm reuniões agendadas com o presidente de Israel, Isaac Herzog. Para a especialista Simone Couto, a primeira leitura do cenário sugere um esforço dos governadores para fortalecer laços com Israel, talvez como uma estratégia para angariar apoio político doméstico, especialmente considerando suas potenciais candidaturas presidenciais em 2026.

Para Couto, o momento ressalta a complexidade das relações internacionais e a importância da diplomacia, particularmente em tempos de tensão geopolítica. “A visita pode ser vista como um gesto simbólico de alinhamento político e ideológico com Israel, refletindo as dinâmicas políticas internas do Brasil, onde questões de política externa têm sido cada vez mais centralizadas no debate público”, pontua. 

A especialista pontua ainda que é importante considerar como essas interações podem afetar a imagem do Brasil no cenário internacional, especialmente em um momento em que as ações de Israel sob a liderança de Netanyahu estão sob intensa escrutínio global. Discussões sobre a condução do conflito com o Hamas e as implicações de longo prazo para a região têm sido centrais nas análises políticas internacionais, onde a estratégia de Israel em relação ao Hamas tem sido debatida e criticada por diversos observadores

Especialista diz que fortalecimento de laços com a “terra santa” visa eleições 2026 e apoio de líderes evangélicos

Durante o encontro com Netanyahu, que ocorreu na terça-feira (19/3), foram discutidos temas como a guerra contra o Hamas e a relação entre Israel e o Brasil. Caiado expressou sua insatisfação com a declaração do petista, na qual comparou a situação da Faixa de Gaza ao Holocausto. Segundo Caiado, a afirmação não representa o pensamento dos brasileiros. O encontro, que durou cerca de uma hora, aconteceu a portas fechadas na sede oficial do governo israelense, em Jerusalém. Após a audiência, Caiado compartilhou um vídeo no qual o primeiro-ministro agradeceu a presença da comitiva brasileira e reforçou sua amizade pelo Brasil. 

Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, também participou da reunião e discutiu possibilidades de cooperação com Israel na agricultura, inovação, tecnologia e segurança pública. Ele expressou solidariedade ao povo de Israel e votos de sucesso nas negociações para trazer os reféns de volta às suas casas, além de torcer por um caminho para a paz. 

A visita oficial ocorre em meio a uma crise diplomática entre o governo brasileiro e Israel, e as declarações de Caiado e Tarcísio têm implicações significativas para as relações bilaterais entre os países. Para entender melhor o contexto, a reportagem do Jornal Diário de Aparecida conversou com o analista político Aluísio Cerqueira sobre as possíveis consequências dessa reunião e o impacto das declarações de ambos os governadores. 

Além disso, Aluísio afirmou que a aproximação com Israel pode ser estratégica para Caiado, especialmente considerando as eleições de 2026, nas quais ele pretende ser o sucessor do ex-presidente Bolsonaro, com o representante da direita brasileira. No entanto, o analista também alertou para a necessidade de equilíbrio nas relações internacionais, pois a postura de apoio incondicional a Israel pode gerar atritos com outros países árabes e muçulmanos.

O especialista detalha ainda que a visita a Israel e postura que está sendo adotada por Ronaldo Caiado eleva a sua aprovação junto aos eleitores evangélicos, cuja  importância tem crescido significativamente, refletindo uma tendência que pode ser decisiva para as eleições de 2026. 

“O cenário político brasileiro, especialmente após a eleição de 2022, demonstra que os candidatos precisam considerar seriamente o impacto e o alcance desse grupo demográfico. Lula venceu as eleições de 2022 com uma margem estreita, e o apoio ou a rejeição dos evangélicos pode ter implicações significativas para futuros candidatos, como Ronaldo Caiado, que busca se posicionar como sucessor do ex-presidente Bolsonaro, um favorito notável entre os eleitores evangélicos”, detalhou.

Ele apontou ainda que a crescente influência dos evangélicos na política brasileira é evidenciada pelo aumento substancial no número de candidatos evangélicos e pelo seu sucesso eleitoral em legislaturas federais e estaduais. De acordo com Cerqueira, desde 1998, observou-se um aumento contínuo na quantidade de candidatos evangélicos, o que demonstra a mobilização e o engajamento político desse grupo. Ele recorda ainda que, embora o número de candidatos tenha aumentado, a representação ainda não é proporcional ao tamanho da população evangélica no Brasil, indicando um potencial inexplorado que pode ser crucial em eleições futuras.

“A  aproximação de Caiado com Israel pode ser estratégica, visando consolidar apoio entre os eleitores evangélicos, que frequentemente valorizam fortes laços com Israel por razões religiosas e ideológicas. No entanto, essa estratégia requer uma abordagem equilibrada. Embora possa fortalecer laços com eleitores conservadores e evangélicos, também há o risco de alienar outros grupos, incluindo comunidades internacionais, se percebida como uma postura excessivamente unilateral em questões geopolíticas sensíveis”, explica.

 Ele pontua ainda que a habilidade em navegar essas complexidades será crucial para qualquer candidato que aspire ao sucesso nas eleições de 2026, especialmente em um ambiente político que continua a evoluir com dinâmicas sociais e demográficas em constante mudança. “A atenção cuidadosa às questões que ressoam com os eleitores evangélicos, juntamente com uma política externa equilibrada, pode ser chave para conquistar e manter esse segmento eleitoral influente”, detalha. 

 

Por Fernanda Cappellesso

 

 

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