Caiado destaca que Goiás aumenta industrialização em 15,2% e impulsiona crescimento e desenvolvimento regional
Governador destaca avanço da indústria goiana e alerta que nova proposta de tributação centralizada pode comprometer crescimento econômico de regiões que mais investem em desenvolvimento
Por Fernanda Cappellesso
Nos últimos anos, Goiás tem se consolidado como um exemplo de sucesso econômico, destacando-se pela diversificação e expansão industrial. O estado, tradicionalmente agrícola, passou por uma transformação significativa, aumentando sua base produtiva e atraindo investimentos em setores estratégicos.
Desde 2019, a industrialização em Goiás cresceu 15,2%, superando a média nacional de 8,9%. Esse progresso foi impulsionado por iniciativas em áreas como o agronegócio, farmoquímico e automobilístico, além de investimentos em infraestrutura logística, como as ferrovias Norte-Sul e de Integração do Centro-Oeste, que melhoraram o escoamento de produtos e a conectividade regional.
O desenvolvimento sustentável também é uma prioridade para Goiás, com foco na adoção de tecnologias inovadoras no agronegócio e na indústria. O uso de biotecnologias e sistemas de produção integrados colocou o estado na vanguarda de práticas agrícolas de baixo impacto ambiental, aumentando a eficiência e reduzindo custos.
A criação de polos industriais e tecnológicos em diferentes regiões, como Anápolis e Catalão, demonstra o compromisso do estado em diversificar suas atividades econômicas e reduzir a dependência de um único setor, garantindo maior resiliência econômica.
Esse ambiente de crescimento é sustentado por um planejamento estratégico que busca equilibrar modernização e sustentabilidade. A conclusão de projetos de infraestrutura, como a expansão ferroviária, conecta Goiás aos principais mercados nacionais e internacionais, consolidando o estado como uma referência em desenvolvimento econômico e atração de investimentos. Segundo analistas, a diversificação e os investimentos contínuos são fundamentais para manter o ritmo de crescimento e criar novas oportunidades de emprego e renda para a população local.
Reforma tributária e autonomia fiscal
Um dos pontos mais debatidos recentemente é a proposta de reforma tributária nacional, que, segundo Caiado, representa uma ameaça à autonomia dos estados. Durante a J.Safra Brazil Conference 2024, o governador argumentou que a concentração de poder em um conselho gestor para decidir a distribuição dos recursos arrecadados reduziria a capacidade dos estados de definirem suas prioridades financeiras.
“Cada estado tem suas especificidades e prioridades. Centralizar a arrecadação e distribuição é um desrespeito à Constituição e à autonomia dos entes federados”, afirmou Caiado.
Para a cientista política Manuela Siqueira, a posição de Caiado reflete não apenas uma preocupação com a governabilidade, mas também com a sustentabilidade do modelo de crescimento que ele defende. “O modelo de industrialização e atração de investimentos de Goiás depende, em grande parte, de incentivos fiscais. A perda de autonomia na gestão desses recursos pode comprometer a competitividade do estado e, consequentemente, sua capacidade de atrair novas empresas”, analisa Siqueira.
A armadilha dos incentivos fiscais
Embora os incentivos fiscais tenham sido fundamentais para a atração de grandes empresas, como montadoras de automóveis e indústrias farmacêuticas, eles também apresentam riscos. De acordo com um estudo do Instituto Mauro Borges, quase 70% dos investimentos industriais em Goiás entre 2018 e 2023 foram diretamente relacionados a benefícios fiscais concedidos pelo estado. Isso levanta a questão sobre a sustentabilidade desses incentivos no longo prazo.
“Os incentivos fiscais são um instrumento poderoso, mas têm limites. Eles não podem ser o único pilar de uma estratégia de desenvolvimento”, explica o economista Rafael Martins. “O desafio é criar um ambiente de negócios que atraia empresas pela qualidade da infraestrutura, pela mão de obra qualificada e pela segurança jurídica, e não apenas pelos benefícios fiscais”.
Desafios estruturais e sustentabilidade
O crescimento econômico de Goiás também esbarra em desafios estruturais, como a desigualdade regional e a dependência de setores específicos. Embora regiões como o entorno de Anápolis e a região metropolitana de Goiânia tenham se beneficiado mais dos investimentos, outras áreas do estado ainda enfrentam dificuldades para acessar os benefícios do crescimento.
A infraestrutura, apesar dos avanços citados por Caiado, como a construção de novas ferrovias, ainda precisa de melhorias. O déficit em infraestrutura logística pode dificultar o escoamento da produção e a integração das diferentes regiões do estado ao mercado nacional e internacional. “O investimento em infraestrutura é fundamental para consolidar o crescimento econômico de Goiás. Sem isso, o estado corre o risco de ficar preso a um modelo de crescimento limitado e desigual”, observa o engenheiro de logística Samuel Costa.
Perspectivas futuras
Para os próximos anos, o governo estadual aposta na continuidade da atração de investimentos e no fortalecimento de setores emergentes, como a biotecnologia e a energia renovável. Contudo, especialistas alertam que o crescimento sustentável de Goiás dependerá de uma abordagem mais equilibrada e inclusiva.
“A criação de polos industriais e tecnológicos em diferentes regiões pode ajudar a reduzir as disparidades regionais e criar uma economia mais resiliente e diversificada”, sugere a analista econômica Renata Lopes. “Além disso, é importante que o estado invista em educação e capacitação profissional para formar uma mão de obra preparada para os novos desafios do mercado”.
Em resumo, o crescimento de Goiás é impressionante e representa um exemplo de como políticas bem direcionadas podem transformar uma economia regional. No entanto, para que esse desenvolvimento se sustente, será necessário enfrentar desafios estruturais e garantir que os benefícios sejam distribuídos de forma mais equitativa entre as diferentes regiões do estado. A reforma tributária e a dependência de incentivos fiscais são pontos críticos que precisarão ser geridos com cuidado para que Goiás continue a ser uma “fronteira de desenvolvimento”, como destacado por Ronaldo Caiado, mas sem se tornar uma “fronteira de riscos”.
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