por Eduardo Marques
Todos os anos traz consigo o aumento dos casos de dengue em Aparecida de Goiânia. Mas, em 2024, esse número explodiu. O município registrou 23.543 casos da doença no último ano, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) a pedido do Diário de Aparecida. Esse número representa um aumento de um pouco mais de 58% em relação a 2023, quando foram anotadas 14.869 ocorrências.
As mortes confirmadas também tiveram uma elevação substancial no mesmo período analisado. Em 2023 foi contabilizada uma e em 2024 oito, o que representa um acréscimo de 700% de um ano para outro.
A pasta informa ainda que em 2023 Goiânia registrou 20.238 casos confirmados e 14 óbitos confirmados por dengue. No ano seguinte, a capital registrou 48.839 casos e 64 óbitos confirmados e 15 em investigação pela doença.
Para o Superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Aparecida de Goiânia, Iron Pereira, o calor intenso e duradouro, a falta de conscientização da população e de ações públicas explicam a alta de casos de dengue ao longo de 2024.
As transformações no clima mundial não são surpresa para ninguém. Os cientistas já vêm alertando para o problema há décadas, e a tendência é que a situação só piore. Inclusive, 2024 entrou para a história como o ano mais quente já registrado no Brasil desde o início das medições em 1961. A constatação é de um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), com dados também da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
“Isso é muito crítico por conta da eclosão dos ovos do Aedes aegypti [mosquito transmissor da dengue]. Médias acima de 26°C, 27°C otimizam a reprodução do mosquito, porque facilita a eclosão dos ovos e também aumenta a reprodução e o ciclo de vida acelerado”, destaca Iron Pereira ao DA.
A alta pluviosidade piorou a situação. Junto com as ondas de calor, houve grandes volumes de chuva no Brasil como um todo. Isso facilita a reprodução do Aedes aegypti, já que aumenta a quantidade de criadouros — isto é, locais com água parada.
Responsabilidades
Todo mundo sabe que a principal medida de prevenção da dengue é não deixar água parada, por exemplo, em pneus, latas e vasos de plantas. No entanto, de acordo com pesquisas realizadas pelo Ministério da Saúde, secretarias estaduais e municipais, 80% dos criadouros do mosquito ainda estão dentro das residências.
“A informação existe. Mas a população não transforma essa informação em um hábito, em uma mudança de atitude. Ou seja, a comunicação precisa ser mais assertiva do ponto de vista educacional”, aponta o Superintendente de Vigilância em Saúde de Aparecida.
De acordo com o especialista, existe uma baixa percepção de risco individual. Muitas pessoas não assimilam que a dengue pode, sim, matar; e acreditam que é apenas uma doença leve. Mas os números mostram outra realidade na prática: o vírus pode provocar quadros graves e até óbitos, principalmente em populações mais vulneráveis, como idosos, crianças e adolescentes.
“Mas a gente não pode somente responsabilizar a população. É importante chamar a crítica ao poder público. Não sabemos o que aconteceu no ano passado para esses números serem tão alarmantes, mas percebemos que faltou maior fiscalização por parte da gestão anterior. O prefeito Leandro Vilela está intensificando neste início de ano o combate à doença, com fiscalização, limpeza e conscientização”, pontua o superintendente.
Município alerta sobre a importância da vacinação
Inicialmente, a vacina da dengue estava disponível para crianças e adolescentes na faixa etária de 6 a 16 anos. As pessoas de 4 a 59 anos que se vacinaram durante a ampliação do público-alvo, que ocorreu em abril de 2024 para evitar o desperdício de doses próximas do prazo de validade, também devem procurar uma das 38 salas fixas de imunização do município para garantir a segunda dose e, assim, completar o esquema.
A vacina Qdenga oferece proteção contra os quatro sorotipos da dengue: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Para receber a vacina, o público-alvo deve apresentar documentos pessoais (RG ou Certidão de Nascimento e CPF ou Cartão SUS) e o cartão de vacinação, além de estarem acompanhados de um responsável maior de idade.
“A vacinação é mais uma forma de prevenção e precisamos utilizar dessa ferramenta que temos disponível, que é gratuita e garante maior segurança. A imunização reduz o risco de infecção sintomática, hospitalizações e da morbimortalidade pela doença e chega como importante aliado no combate ao vírus”, pontuou.
Combate ao Aedes aegypti deve ser intensificado nas férias, alerta SES-GO
Em 2024, o Estado de Goiás registrou mais de 300 mil casos confirmados de dengue. Os números correspondem a um aumento de 264% em comparação com 2023. Foram 417 óbitos confirmados e outros 56 estão em investigação.
O governo estadual alerta à população sobre os cuidados com focos do mosquito Aedes aegypti no período de férias. Além da dengue, outras arboviroses, como a chikungunya e a zika, também são transmitidas pelo Aedes aegypti, o que reforça a necessidade de conter os focos de água parada também durante o período festivo.
“Com o final de ano e a retomada do período chuvoso em Goiás, os cuidados precisam ser redobrados em relação às doenças que são transmitidas pelo Aedes aegypti”, comenta o coordenador de Dengue, Chikungunya e Zika da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), Murilo do Carmo.
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