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Carnes e café podem subir até 20% neste ano

Baixa oferta global e a desvalorização do real frente ao dólar estão entre os principais fatores por trás desses reajustes

por Eduardo Marques

 

 

Os brasileiros devem se preparar para aumentos significativos nos preços de alimentos como café e carnes em 2025, com projeções de alta de até 20%. Economistas apontam que a baixa oferta global e a desvalorização do real frente ao dólar são os principais fatores por trás desses reajustes. O governo já monitora a situação, preocupado com o impacto no bolso das famílias e possíveis reflexos políticos.

O economista-chefe e sócio da G5 Partners, Luis Otavio Leal, projeta alta de 5% nos alimentos este ano, abaixo da média histórica de 7%. Ele avalia que a dinâmica deve ser ajudada pela safra recorde de grãos e pelo clima, já que o La Niña tende a ser fraco neste ano.

No entanto, a carne bovina e o café serão os grandes “vilões”, com altas de 7,5% e 20%, respectivamente. O especialista também espera impactos significativos nos preços do frango, com chances de aumento na casa de 8%, de 9,1% sobre o arroz e de 5,5% sobre o leite longa vida.

“São alimentos que acabam tendo muita sensibilidade ao consumidor. No caso do frango, não é questão de oferta. Mas como o preço da carne sobe, as pessoas aumentam o consumo de outra proteína”, explicou em entrevista ao jornal O Globo.

Baixa oferta

Outros especialistas apontam, no entanto, um aumento de até 9,2% para os preços de alimentos e bebidas em 2025. As proteínas podem ser as protagonistas – com a carne bovina até 20% mais cara, seguida do frango, que deve ter alta de 14%.

“Vimos uma escalada de preços no fim de 2024 e devemos ver uma alta similar no segundo semestre deste ano. A inversão do ciclo da pecuária faz parte do negócio do próprio setor, e não existe política governamental que consiga intervir nisso no curto prazo”, diz Alexandre Maluf, economista da XP, que projeta alta superior a 20% do café. Ele não vê instrumento efetivo para conter o preço diante da restrição do grão no mercado internacional.

José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da consultoria MB Agro, diz que os preços do café e das carnes estão altos no mercado internacional pela baixa oferta global, o que traz reflexos sobre preços domésticos. E, por causa da desvalorização do real frente ao dólar, o custo fica maior e afeta a paridade interna.

No mercado interno, o preço da saca de café arábica de 60 kg chegou a R$ 2.387,85, uma alta de 132% em apenas um ano, considerando preços de janeiro deste ano frente a igual mês do ano passado. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), compilados pela MB Agro.

“Baixar o câmbio seria a melhor medida [para conter os preços de alimentos]”, avalia Hausknecht.

Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), prevê que a inflação dos alimentos em 2025 fique mais próxima à média do índice geral de preços, projetado em 5,5% pelo Boletim Focus. Ele diz que a alta da carne bovina está relacionada ao ciclo da pecuária, e os preços sobem quando existem menos fêmeas disponíveis para abate.

Heron destaca, no entanto, que as perspectivas para os preços de alimentos este ano são mais favoráveis em comparação a 2024. Ele aponta menor pressão do câmbio, que não deve desvalorizar no mesmo ritmo do ano passado, e o impulso da safra agrícola recorde no país.

Na visão do economista, o “nó” atual que impede melhora das projeções de preços é a política fiscal. Se o governo conseguir retomar a confiança dos agentes econômicos a partir da apresentação de resultado primário melhor que o esperado, traria reflexos aos preços e estabilidade à inflação.

“Essa deve ser a preocupação. Mexer em preços pode ainda perturbar o mercado, e se preocupar [com alimentos] dessa forma me parece uma preocupação prematura e exagerada com eleição. Não é boa motivação”, diz Carmo, que defende a retomada da política de estoque regulador para amenizar preços em períodos de grande oscilação.

Estoques

Leal, da G5 Partners, também cita a importância de o governo fazer estoques reguladores para ajustar os preços em momentos de alta, mas considera a medida mais estrutural do que de curto prazo. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) coletados até dezembro de 2024, o estoque de café está praticamente zerado desde 2018.

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Agrário cita o aumento dos preços de commodities, como café, açúcar, laranja e carne no mercado internacional, e eventos climáticos que afetaram a safra passada como fatores para a alta de preços no mercado interno.

A pasta, recriada em 2023, cita a retomada dos planos de safra para agricultura familiar e a redução da taxa de juros do crédito rural do Pronaf [de fortalecimento da agricultura familiar]. O ministério cita maior financiamento a alimentos como batata, feijão e banana, além da criação de programas para fomentar a produção de arroz e leite.

A nota ressalta que o país deve registrar safra recorde, de 322,3 milhões de toneladas, de acordo com a projeção mais recente, alta de 8,2% sobre a anterior.

 

 

 

 

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