Por: Dra. Sheila Paiva (médica infectologista)
Até quando eu terei que minimizar minha feminilidade para atingir um cargo executivo e conviver com homens na estratégia? Até quando a sensibilidade será confundida com fragilidade, a empatia com fraqueza, a firmeza com agressividade?
Sou uma mulher competente. Criativa. Disruptiva. De resultados. Humana. Resiliente. E, ainda assim, muitas vezes, não basta.
No mundo corporativo e na saúde—áreas que exigem inovação, visão estratégica e capacidade de decisão—o talento feminino já se provou incontáveis vezes. E, no entanto, seguimos precisando nos moldar, nos adaptar, nos calar em determinadas reuniões para sermos ouvidas depois. Seguimos aprendendo a dosar nossa voz, a calibrar nossos gestos, a escolher com cuidado cada palavra para não parecermos “emocionais demais” ou “frias demais”. Um equilíbrio impossível, que homens nunca precisam buscar.
Até quando?
O século XXI avança, e as mulheres seguem ocupando espaços antes impensáveis. Mas a pergunta que deveríamos estar fazendo não é se podemos chegar lá—porque podemos e chegamos—mas a que custo. Por que ainda precisamos negociar nossa autenticidade para sermos aceitas? Por que o reconhecimento vem acompanhado de condicionais e expectativas irreais?
Liderança não tem gênero. Estratégia não tem gênero. Criatividade não tem gênero. Mas, no inconsciente coletivo, o poder ainda tem um rosto masculino. E essa é a grande disrupção que precisamos liderar.
Não queremos favores, queremos justiça. Não buscamos privilégios, buscamos equidade. O que nos move não é a vontade de sermos melhores que os homens, mas a necessidade de sermos plenamente quem somos sem que isso represente um obstáculo.
Então, até quando?
Até que sejamos tantas, tão visíveis e tão inegáveis que essa pergunta não precise mais ser feita. Até que possamos liderar não apesar de sermos mulheres, mas justamente porque nossa perspectiva, nossa visão e nossa forma de gerir são fundamentais para um mundo melhor.
Esse futuro ainda não chegou. Mas ele já começou.